China investe em aumento na produção de grãos frente à demanda intensa e preços recordes no país

Publicado em 04/01/2021 15:26 e atualizado em 04/01/2021 19:06
Ainda assim, importações deverão seguir recordes na soja e aumentando no milho e nas carnes

2021 é mais um ano que começa com a demanda chinesa no foco dos mercados de commodities agrícolas e macroeconômico de uma forma geral. Afinal, ao gigante asiático cabe o papel de maior importador mundial de alimentos e matérias-primas de todas as naturezas e sinaliza que seu foco em garantir a segurança alimentar e recompor seus estoques continua se fortalecendo e sendo questão de primeira ordem. 

Assim, a primeira semana útil de 2021 começa com as agências internacionais dando destaque as metas do 14º Plano Plurianual da China - 2021-2025 - onde o novo ministro da Agricultura, Tang Renjian, afirma que o objetivo da China é aumentar a produtividade de suas safras, principalmenre arroz, trigo, soja e milho.

Além do rendimento, o governo chinês trabalha ainda para um aumento da área de produção, especialmente de milho. A expansão deverá se dar, em maior parte, nas regiões mais a nordeste do país e também ao longo do Rio Amarelo. Paralelamente, se busca ainda uma estabilização na produção de soja. 

A China ainda busca manter sua área de safra dupla de arroz ao sul da nação, mas também aumentar suas médias de produtividade. Enquanto isso, para o trigo se espera a recuperação de algumas áreas produtoras, em especial a norte e nordeste. 

Em um comunicado divulgado no site do ministério, Renjian afirma também que o objetivo é de mais investimentos em estruturas de irrigação, ampliando em 25% as áreas irrigadas somente este ano. Dessa forma, estima uma safra total de grãos de pelo menos 650 milhões de toneladas em 2021, contra as 670 milhões de 2020. 

"Nós precisamos garantir que os pratos chineses estejam cheios, principalmente, com grãos chineses e que os grãos chineses utilizem, principalmente, sementes chinesas", disse o novo dirigente do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais local. 

Atualmente, diante da alta demanda e dos problemas de oferta nas safras anteriores, os preços da soja e do milho têm registrado níveis historicamente altos, renovando recordes constantemente. No link abaixo, veja sua entrevista ao Notícias Agrícolas desta segunda-feira na íntegra:

Leia Mais:

+ Soja: "Mercado não está preparado para uma quebra de 14 mi de t na América do Sul"

"Temos ainda alguns dados obscuros em relação ao tamanho da produção e dos estoques de milho na China. De acordo com números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), do estoque global, cerca de dois terços deste milho estariam na China, e o mercado desconfia se esse milho realmente existe. E sabemos que a qualidade não é das melhores", explica Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities. 

Araújo destaca ainda esse bom movimento da demanda chinesa também pelo país ter sido o primeiro a sair dos efeitos mais severos do Covid-19, além da recomposição de seus planteis diante de um melhor controle da Peste Suína Africana. 

Assim, depois de alguns anos reduzindo a área de milho como forma de reduzir os estoques locais do cereal e dando preferência à soja, a área de milho deverá ser ampliada como uma das prioridades das novas diretrizes para os próximos cinco anos. Em 2020, foram semeados 41,264 milhões de hectares com milho, o que resultou em uma produção de 260,67 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento Nacional de Estatísticas. 

Dessa forma, o mercado agora se questiona se este aumento de área projetado pelo governo chinês será suficiente ou não para mudar o quadro de maior necessidade de importação do cereal pela nação asiática. Em 2020, o volume importado do grão foi recorde. 

De acordo com números apurados pela Agrinvest, a demanda aparente - produção e importações - de milho pela China deverá sair de 290 para 315 milhões de toneladas. "A necessidade de insumos continuará crescendo, aumentando assim a dependência por soja e milho importados", diz a consultoria. Afinal, a recuperação da população de matrizes de suínos chega a 90% e, no fim de novembro, já eram 38 milhões de cabeças, número 66% maior do que as mínimas marcadas em setembro.

E não só um melhor e mais eficiente controle da PSA fomentou este movimento - embora ainda precise ser aprimorado e suas limitações ainda contêm o avanço da retomada -, mas também pelas melhores margens dos suinocultores neste momento. 

E o movimento puxa não só o milho, mas também a soja. "As importações de soja bateram recorde histórico no acumulado de 12 meses acima de 102 milhões de toneladas, contra menos de 83 milhões na mesmo comparativo do ano passado. O processamento de soja deverá passar de 100 milhões de toneladas pela 1ª vez", explicam os analistas da Agrinvest. 

Ainda assim, não só as importações de grãos e matéria-prima chinesas que têm crescido e seguem com projeções de alta. "A China está em um processo de composição de estoques de carnes, óleos comestíveis e cereais, puxando os preços globais para máximas que variam de 4 a 8 anos", diz a consultoria, destando as compras recordes de carnes de frango, bovina e suína, que somaram 8,6 milhões de toneladas no acumulado de 12 meses até novembro, 58% a mais na comparação anual. 

Apesar do destaque para a China, o movimento de inflação dos alimentos é global. A FAO, o braço de agricultura e alimentação da ONU, tem alertado para os riscos do encarecimento dos alimentos em todo mundo. "O Índice da FAO está em 105 (base 100), maior nível desde 2014, puxado principalmente pela forte alta dos grãos (114 pontos) e óleos vegetais (122 pontos)", explicam os analistas da Agrinvest. 

Abaixo, veja a íntegra do estudo da consultoria sobre o atual momento das altas entre os preços dos alimentos, trazendo detalhes ainda dos mercados de energias, cambial e financeiro. 

 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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