Importações de soja e milho: Analista da Agrinvest detalha os cálculos e mostra inviabilidade
O analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, abriu e detalhou os cálculos das possíveis importações de soja e milho pelo Brasil dos Estados Unidos e da Argentina, depois da decisão do governo de zerar a TEC para as compras externas para ambos os produtos até o 1º trimestre de 2021.
Araújo mostra, em detalhes, que as importações não são viáveis neste momento, principalmente diante do atual quadro cambial do Brasil e do cenário global de oferta, que é bastante escassa, diante de uma demanda bastante crescente.
Nem mesmo o efeito psicológico começou a ser observado no mercado nacional. Mesmo com a medida que poderia incentivar as importações brasileiras, os futuros do milho negociados na B3 - o mercado futuro nacional - subiram mais de 3% somente nesta segunda-feira (19), com o maio/21 liderando as altas e subindo 4,2%. Os primeiros vencimentos chegaram a superar os R$ 78,00 por saca.
"A importação de milho pelo Brasil só faria sentido se o milho, no interior, superasse os R$ 90,00, por exemplo, em Maringá/PR", explica o analista da Agrinvest. E isso sem contar os encargos de PIS/Cofins (9,25%) e de ICMS (12%). Assim, no comparativo da consultoria para o milho importado seriam - valores sobre rodas (FCA) porto entre as origens - R$ 77,00 por saca Brasil; R$ 84,54 Argentina e R$ 84,04 Estados Unidos.
Além disso, Marcos Araújo explica que há uma conjunção de fatores que motiva e sustenta as altas fortes do milho. "O milho está alto porque temos uma disparada dos preços das carnes (no Brasil e no mundo), melhora dos preços no mercado internacional, condições adversas (e menor oferta) na Europa, na região do Mar Negro e na China e isso tudo alinhado com um dólar alto", diz.
Mais do que isso, o analista lembra ainda que há elevado percentual do milho brasileiro já comprometido com a comercialização, seja para exportação ou demanda interna.
Para a soja, além de fatores semelhantes - uma vez que a oferta global é bastante escassa, o que já é conhecido pelo mercado, e tem influência do dólar valorizado frente ao real - as importações não compensam dados os atuais valores de farelo e óleo de soja.
"As contas ficam negativas. Baseado no preço da soja importada e no preço de exportação do farelo e óleo de soja, torna-se inviável para indústria importar", explica Araújo.
De acordo com os cálculos e projeções da Agrinvest Commodities, o Brasil poderia importar de 1 a 1,5 milhão de toneladas de milho no ano comercial que se encerra em janeiro de 2021 e entre 700 mil e 1 milhão de toneladas de soja até dezembro deste ano.
Para Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal, a medida deve sim segurar as altas da soja e do milho, insumos determinantes para a suinocultura e avicultura, no mercado interno. "A intenção é dar ao setor opções de adquirir esses insumos onde houver viabilidade de preço, e também ajudar a amenizar os preços no mercado doméstico", disse.
Veja sua entrevista ao Notícias Agrícolas, nesta segunda-feira, na íntegra:
OFERTA GLOBAL DE ALIMENTOS ESTÁ APERTADA
Uma escassez global de alimentos tem provocado não só essa alta forte e consistente dos preços, como também uma mudança de hábitos de consumo em todo mundo. Exemplo disso é, em meio a uma oferta bastante ajustada de trigo, rumores circulando no mercado de que a Itália estaria importando farinha de trigo.
De acordo com agência internacional de notícias Bloomberg, a Jordânia vem ampliando e trabalhando em seus estoques de trigo e o Egito vem aumentando suas importações em plena colheita, o que tradicionalmente não acontece no país africano. Desde abril, suas compras já aumentaram 50%. As mesmas estratégias passam por China, Taiwan, e outros países, incluindo o Brasil.
Dessa forma, medidas como estas têm efeito limitado ou nenhum efeito, já que não conseguem ultrapassar ou anular os fundamentos que provocam avanços de preços como os atuais. Mais do que isso, "em momentos de inflação, a alta nos preços dos alimentos é inimiga dos políticos", conclui Marcos Araújo.
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