Abiove se opõe ao fim da Moratória da Soja e joga a responsabilidade para o Governo

Publicado em 11/11/2019 19:00

SÃO PAULO (Reuters) - A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que representa traders de soja no Brasil, disse nesta segunda-feira que se opõe a um movimento liderado por alguns agricultores para pôr fim à Moratória da Soja, uma política que impede a comercialização de soja cultivada em novas áreas desmatadas legalmente na Amazônia.

Um grupo de produtores anunciou na semana passada que irá buscar o cancelamento da moratória, afirmando que possui o apoio do presidente Jair Bolsonaro para fazer valer o Código Florestal também no bioma amazonico.

Operadores globais de grãos assinaram a Moratória da Soja voluntariamente há mais de uma década, concordando em não adquirir a oleaginosa de áreas desflorestadas após 2008 na Amazônia. No entanto, agricultores alegam que a medida não respeita a atual legislação brasileira. O Código Florestal brasileiro permite que um proprietário de terras da Amazonia utilize até 20% de sua área para atividades agrícolas.

O presidente da Abiove, André Nassar, disse a repórteres que a moratória é a única ferramenta com que contam as traders para o impedir um eventual uso de áreas desmatadas na Amazônia para o cultivo de grãos, e que a política continuará a ser utilizada. 

Segundo André Nassar, a moratória da soja até pode ser revista, mas para que isso aconteça, o país precisa comprovar para o mercado internacional que o desmatamento ilegal está sob controle.

“As associações dos produtores deveriam estar conosco, cobrando do governo uma forma de identificação do desmatamento legal e segregação do ilegal. Tem o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que já está aí. Sistema para fazer isso tem”, disse.

Nassar afirmou que já há legislações no Brasil que abrem caminho para outros tipos de supervisão da agricultura na Amazônia, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), mas que ainda precisam ser totalmente implementadas.

Ele acrescentou, durante a conferência BiodieselBR 2019, que o desenvolvimento desse sistema e a proposição para seu uso não são papéis de operadores.

"O governo deveria fazer isso, para usar dados e ferramentas disponíveis para dizer aos operadores qual produtor está OK e qual não está", disse o chefe da Abiove.

"Nós gostaríamos de utilizar alguma outra ferramenta para monitorar o uso da terra na Amazônia, mas neste momento não existe nenhuma", disse Nassar.

Moratória da Soja condena cidades da Belém-Brasília a viverem na pobreza

A rodovia Belém-Brasília foi aberta por Juscelino em 1950. E do mesmo jeito em que foi construida, há 70 anos, ela se encontra nos dias de hoje. Um retão só, coalhado de caminhões, de norte a sul. A única coisa que mudou foi o aumento da miséria, a pobreza extrema da população que vive à beira da rodovia.

A esperança de mudança desse cenário seria a soja. Mas com o exagero de notícias sobre as queimadas em outubro passado  - que diziam que toda a floresta amazonica (distante 200 km da calha da Belém-Brasília) estaria sendo consumida pelo fogo, os produtores da região norte do Pará acabaram servindo de "bode expiatório" da causa ambientalista.

Sobre eles foi implantada a temível Moratória da Soja -- um acordo estabelecido entre as traders que proibe a compra de grãos de quem é pego no "Prodes", um sistema que detecta quem estaria retirando a vegetação para plantar soja.

E não adianta provar que a vegetação é formada por capoeiras (cipós retorcidos chamados "juquiras"), que ali não existe mais floresta (retirada há mais de 50 anos), que o manejo é autorizado pela Sema (secretaria de meio-ambiente), e que a "vítima" está em dia com o licenciamento ambiental e o Código Florestal.

Nada disso adianta. Entrou na lista da Abiove (a associação das traders), dificilmente sai.

Só no município de Dom Eliseu são 63 interditados. No restante do Pará e também no Mato Grosso são quase 500 fazendas proibidas de vender para as traders da Abiove. O número de fazendas interditadas pela Moratória não pára de crescer, diz a Aprosoja (entidade que reúne os produtores). Como as chuvas estão chegando, e o preço da soja gira em torno de 90 reais/saca, a revolta é grande.

Quem fica com o maior prejuízo são as pequenas cidades da beira da Belém-Brasília. A pobreza empurra os jovens para Brasília. E quem fica sobrevive de Bolsa Familia, pois o emprego é pouco.

Vanderlei Ataydes, presidente da Aprosoja do Pará, mostra em números a força economica da soja. Para cada emprego gerado dentro de uma fazenda, mais 4 são criados nas cidades. Mas agora, com a Moratória, o povo das cidades da Belém-Brasília está condenado a viver na pobreza.

Entrevista com Vanderlei Silva Ataídes - Presidente Aprosoja Pará

Fonte: Reuters/Noticias Agricolas

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