“O melhor sentinela que podemos ter é o próprio produtor”, diz secretário de agricultura de SC
Em agenda pelo Oeste de Santa Catarina, o secretário de Estado da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Ricardo de Gouvêa, visitou a ACCS (Associação Catarinense de Criadores de Suínos) e participou da gravação do “Podcast da Suinocultura”, no estúdio de rádio da entidade. Durante entrevista, ele falou sobre a alta nas exportações de carne suína, fez projeções para o futuro da atividade, e detalha de que forma Santa Catarina trabalha para defender a sanidade animal. Com o mercado de suínos em ebulição, Gouvêa garante que “o melhor sentinela que temos é o produtor’.
ACCS – Como o senhor avalia o aumento das exportações de carne suína em 2019?
RICARDO DE GOUVÊA – No ano passado o setor atravessou muitas dificuldades. Tanto os produtores como a indústria. Essa mudança grande que está ocorrendo neste ano se dá principalmente pelo problema sanitário na China, que precisou eliminar muitos animais e precisou aumentar a compra de carne suína de diversos mercados, incluindo o Brasil. A guerra comercial entre Estados Unidos e China também beneficiou o Brasil nas exportações.
Sabemos que é um período transitório porque a hora que a China conseguir resolver o problema sanitário, ela volta a produzir em grande escala. Mas essa solução não é de curto prazo.
Outros países também estão sofrendo com a peste suína e passaram a comprar mais carne suína do Brasil. De 5 a 7 anos vamos ter um mercado extremamente promissor para a suinocultura brasileira e de Santa Catarina.
ACCS – Em Santa Catarina e por outros Estados percebemos vários investimentos em ampliação da produção. Como o senhor avalia esse cenário? É sustentável?
RICARO DE GOUVÊA – Esse é o sinal de um mercado que está demandando e a oferta precisa crescer para conseguir atender. Mas mercado é mercado. No mesmo dia que ele sobe ele também pode diminuir. O trabalho precisa ser muito bem planejado porque o poder aquisitivo da população brasileira ainda não cresceu. O consumo interno, incluindo o de carnes, não evoluiu na mesma velocidade.
Se acontecer qualquer problema no mercado interno ou externo, nós podemos ter restrições nas exportações. E daí o mercado interno não absorve. Teríamos um problema sério. Precisamos acompanhar o mercado bem de perto para tomar as melhores decisões.
O que precisamos cuidar efetivamente da sanidade da nossa produção. Como eu sempre digo, ‘essa é a camisa para se entrar no jogo’. A atenção precisa ser redobrada ainda mais que o Ministério da Agricultura autorizou o Paraná a retirar a vacina contra a febre aftosa. Esse é um momento crítico e que traz alguns riscos.
O trabalho de Santa Catarina para combater a entrada de qualquer enfermidade que possa prejudicar a nossa produção continua o mesmo. Está proibida a entrada de animais do Paraná em Santa Catarina. Só vai mudar isso no dia que for reconhecido internacionalmente e quando cumprir as leis internacionais.
Mesmo com a autorização da retirada da vacina, o Paraná não está cumprindo as normas da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) que é principalmente identificar, registrar e fazer a rastreabilidade dos animais. Isso não está no programa do Ministério da Agricultura e o Paraná não está fazendo.
Santa Catarina adota todas as medidas requisitadas pela OIE. Por isso vamos continuar com um degrau a mais e não vamos permitir a entrada de animais do Paraná em nosso Estado por dois motivos: se não comprovar a origem do animal e se o animal for vacinado para a brucelose.
ACCS – Recentemente foram identificados novos casos de peste suína clássica nos estados do Alagoas, Ceará e Piauí. Como o governo tem trabalhado para minimizar a possibilidade da doença em Santa Catarina?
RICARDO DE GOUVÊA – A Peste Suína Clássica é uma grande preocupação, mesmo ela sendo menos agressiva que a Peste Suína Africana que está na China. No ano passado eu participei de alguns grupos ligados ao Ministério da Agricultura e nós cobramos medidas na esfera federal para evitar a propagação da doença.
Se for identificado algum caso na Bahia, três Estados brasileiros, que fazem parte de um bloco, perdem o certificado sanitário livre de Peste Suína Clássica, inclusive o Paraná. Só fica fora Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.
Nós estamos editando uma portaria, que deve ser publicada nos próximos dias, exigindo que todos os veículos que saiam daqui e que transitem pelas áreas de risco, na volta eles precisarão ser pulverizados com produtos que tire o vírus da carroceria.
ACCS – De que forma o Governo do Estado tem trabalhado para resolver a polêmica proposta de aumentar o ICMS aos defensivos agrícolas?
RICARDO DE GOUVÊA – O governo tem o compromisso de reorganizar o estado. Os gastos estavam maiores do que a arrecadação. De uma forma muito responsável o governador tem trabalhado para resolver essas questões e para isso é preciso fazer alguns ajustes fiscais. Sem dúvida os ajustes acabam sendo dolorosos e impactam. Mas precisamos compensar em uma coisa maior, pensando na sociedade como um todo.
Em um primeiro momento o governador pensou em retirar todos os incentivos dos defensivos agrícolas, mas depois recebeu as lideranças do setor definiu adotar uma linha praticada em todo mundo: você não incentiva tanto o uso do agrotóxico, mas também não pune quem usa com altas cargas tributárias porque é importante para a produtividade.
Foi dessa maneira que o governador encaminhou uma medida provisória para a Assembleia Legislativa. Parte dela foi aprovada e outra parte devolvida para o governo reavaliar. Visamos o menor impacto possível no setor produtivo, mas também à medida que você oferece incentivo fiscal, diminui a arrecadação e a possibilidade de utilizar esses recursos na melhoria da infraestrutura, saúde e outros setores. Estamos buscando o equilíbrio neste tema.
ACCS – Qual a mensagem que o senhor tem para os produtores neste momento em que o setor vive um excelente momento, mas está em alerta com o surto de doenças pelo mundo?
Os produtores precisam redobrar a atenção dentro das propriedades e cuidar também do que ocorre ao seu redor. Não podemos permitir a entrada de nenhum animal de forma clandestina em nosso Estado. Um animal já basta para trazer uma doença e tirar Santa Catarina do mercado de exportação. O melhor sentinela que podemos ter é o próprio produtor.