FCStone vê alta na receita de até 15% no Brasil; lança fundo para agronegócio
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A corretora e consultoria INTL FCStone, que viu o número de clientes crescer mais de 25 vezes em menos de dez anos no Brasil, na esteira da pujança do agronegócio brasileiro, projeta ampliar receitas no país em até 15% no ano fiscal 2020, com produtos que incluem um fundo para a agricultura local que deve ser lançado em novembro.
Em entrevista à Reuters, o presidente-executivo da FCStone no Brasil, Fabio Solferini, afirmou ainda que o país definitivamente vai se consolidar na liderança da produção global de soja em 2019/20, após figurar como maior exportador da oleaginosa nos últimos anos.
"Agora não tem mais volta. O Brasil será o número 1 na produção de soja", afirmou Solferini, um ex-executivo do setor bancário que mal conhecia uma lavoura antes de assumir a FCStone em 2010, mas que com sua experiência no mercado financeiro ajudou a unidade brasileira a abocanhar 20% do resultado líquido global da empresa, com a oferta de diversos serviços a produtores ávidos para profissionalizar seus negócios.
Para o novo ano fiscal 2020, a unidade no Brasil pode elevar receitas entre 10% e 15%, com impulso de serviços na área de soja, milho e do banco de câmbio, principalmente, estimou o CEO.
Na safra atual, o país voltará a ampliar sua área plantada de soja, com a produção estimada pela consultoria em recorde de 121,4 milhões de toneladas, enquanto a produção dos Estados Unidos, que disputam a liderança com os brasileiros, quebrou por enchentes históricas.
Independentemente disso, o CEO da FCStone lembra que o país será o grande responsável por atender as demandas adicionais por alimentos no mundo, o que vai atrair mais investimentos não apenas para o campo, mas também em logística e infraestrutura.
Segundo o executivo, apesar de recentes notícias sobre queimadas em florestas, o Brasil tem uma posição única para ampliar a agricultura de forma sustentável, pela disponibilidade de terras de pastagens, que convertidas em lavouras permitirão ao país ampliar os cultivos para atender a crescente demanda global por alimentos sem a necessidade de desmatar novas áreas.
Para participar desse crescimento, a FCStone está indo além de serviços de consultoria e corretagem agrícola no Brasil, o segundo país em importância para o grupo com sede nos EUA, cujo faturamento somou 819 milhões de dólares no acumulado do ano até o terceiro trimestre --a companhia ainda não divulgou os resultados do seu ano fiscal, encerrado em setembro.
FUNDO PARA AGRONEGÓCIO
Além de atuar junto a toda a cadeia do agronegócio nas políticas de hedge de produtos agrícolas, estruturando operações ou executando as ordens em bolsas, a companhia tem também uma unidade de finanças corporativas, que auxilia em transações de compra e venda de empresas e participa da emissão de títulos como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
O próximo passo da FCStone no Brasil será o lançamento, em novembro, de um fundo para financiar produtores, um produto que começará com 50 milhões de reais em recursos da empresa.
"No começo, não aceitaremos investidores... quando percebemos que está redondo, aí abriremos...", disse o CEO, que acrescentou que isso pode acontecer no primeiro semestre de 2020.
Tal fundo, algo inédito nas operações globais da FCStone, ressaltou Solferini, permitirá que os investidores possam, além de fomentar o agronegócio, obter retornos satisfatórios em um ambiente econômico em que a taxa básica de juros (Selic) está em mínimas históricas, reduzindo ganhos com renda fixa.
"Vai dar pra financiar a safra atual", concordou o executivo ao ser questionado, ressaltando que há muito espaço para crescer no segmento de financiamentos agrícolas, em momento em que o governo busca reduzir sua participação.
"Acho o setor ainda muito desassistido pelo sistema financeiro", acrescentou ele, comentando que sua experiência no setor bancário e a proximidade da FCStone com o segmento agropecuário podem ajudar neste trabalho.
Solferini, administrador de empresas que atuou em vários bancos, foi presidente do Standard Bank no Brasil, por 12 anos, antes de ingressar na FCStone, e viu o número de clientes da consultoria e corretora no país crescer de 30 no início da década para 800.
A consultoria, que hoje conta com dez escritórios espalhados pelo Brasil, também atua em outras áreas, como um banco de câmbio, além de já estar trabalhando na área de petróleo e derivados, na medida em que a Petrobras tem adotado uma política de preços de mercado, o que permite que os investidores possam realizar hedge de suas operações.
"Isso abriu um mercado espetacular, e os volumes são enormes, brutais", comentou o executivo.
(Por Roberto Samora)