Em região de cana-de- açúcar, arrendar a terra é a melhor opção, por Agroanalysis/FGV

Publicado em 22/07/2019 11:26 e atualizado em 30/11/2021 15:13
Considerando os custos operacionais de produção, apenas oito regiões, entre as 42 avaliadas, apresentaram prejuízo na safra de 2017/18. No entanto, o lucro obtido não foi suciente para remunerar adequadamente o valor investido na terra

Na última edição da Agroanalysis, foi publicado artigo com os resultados da atividade de produção de cana-de-açúcar em 42 localidades produtoras, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, na safra de 2017/18. Segundo o levantamento, realizado pelo Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), apenas quatro localidades, entre as 42, apresentaram lucro.

A avaliação do resultado de uma atividade econômica é realizada subtraindo-se, do valor total recebido, o capital total empregado. Este último, na agricultura, deve incluir, também, a remuneração de todos os fatores de produção, como a terra. Nesse sentido, a análise realizada pelo Pecege, que estimou o resultado da atividade de produção de cana, considerou como capital total empregado, além do custo operacional de produção, a remuneração da terra e a remuneração do dinheiro utilizado para ?nanciar a produção. No entanto, se o produtor é dono da terra e utiliza dinheiro próprio para ?nanciar a sua produção, a remuneração da terra e do capital não impacta diretamente no seu ?uxo de caixa. Ou seja, o resultado sentido no bolso do produtor no ?nal da safra é mais favorável do que o apontado pelo estudo do Pecege.

Por exemplo, considerando o custo total de produção, incluindo a remuneração da terra e do capital, Guariba, Ribeirão Preto e Sertãozinho apresentaram, respectivamente, prejuízo de -R$ 817,86, -R$ 450,00 e -R$ 1.139,80 por hectare. Por outro lado, considerando apenas os custos operacionais de produção, foi reigistrado lucro de R$ 915,04 em Guariba, R$ 1.611,00 em Ribeirão Preto e R$ 1.097,16 em Sertãozinho. Segundo esse critério, apenas oito, das 42 regiões, apresentaram prejuízo na safra de 2017/18. Por outro lado, nessas regiões, as usinas chegam a pagar pelo arrendamento 70 toneladas por alqueire (o mesmo que 29 toneladas por hectare), o equivalente a cerca de R$ 1.900 por hectare.

Assim, conclui-se que a maioria dos produtores não teve prejuízo, mas, por outro lado, o lucro obtido não foi su?ciente para remunerar adequadamente o valor da sua terra. Em Guariba, por exemplo, em que o preço da terra para venda gira em torno de R$ 60.000 por hectare, o lucro do produtor remunerou a terra em apenas 1,5% (R$ 915,04/R$ 60.000,00). Apenas para comparação, atualmente, é possível investir em títulos do governo federal (Tesouro Direto) com retorno de aproximadamente 4% ao ano, sem correr risco de prejuízo. A atividade agrícola envolve uma série de riscos, o que, conceitualmente, signi?ca que todo investimento do produtor deveria ser remunerado a uma taxa superior àquela sem risco. Para que a terra do produtor de Guariba fosse remunerada pelo menos à taxa do Tesouro Direto (de 4% ao ano), o lucro do produtor nessa safra deveria ter sido de R$ 2.400,00 por hectare, ou seja, 162,3% superior ao registrado. E, para alcançar esse lucro, o preço da tonelada de cana, pago pela usina, deveria ter sido de aproximadamente R$ 97,00, ou seja, 21,3% superior aos R$ 80,00 por tonelada pagos, na média, na safra de 2017/18, em Guariba.

Por essas razões, há muitos produtores buscando intensi?car a produção – há locais onde é possível realizar até três safras no ano – ou partir para outras oportunidades de investimento dentro do próprio agro, como a macadâmia, que apresenta um ótimo retorno.

Se as usinas de cana estão sendo capazes de remunerar todo o capital investido por elas, isso está ocorrendo, em parte, a custas dos produtores, os quais, como mostrado, não estão conseguindo receber o retorno adequado do seu investimento. É importante lembrar que, no passado recente, muitas usinas quebraram porque também estavam tendo prejuízo.

Para acompanhar todas as informações disponibilizadas pela revista Agroanalysis, clique aqui.

Fonte: Agroanalysis/FGV

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