Custo em alta e renda em baixa, cenário preocupante no campo, por Diário da Manhã
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) apresentou nesta semana um levantamento que aponta o impacto das lavouras gaúchas na economia gaúcha. Foram considerados os números da safra 2019 cruzados com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao mês de abril.
De acordo com o estudo, para cada R$ 1,00 colhido no campo são gerados outros R$ 3,00 para a economia do estado, se considerada toda a cadeia produtiva do agronegócio. A produção de grãos teve aumento total de 4% frente ao ano passado, puxada por culturas como milho (26%) e trigo (17%), em paralelo à forte queda da cultura do arroz (13%).
Para este ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio gaúcho está estimado em mais de R$ 108 bilhões, 3,2% abaixo do ano passado. Apesar do estado registrar maior volume produzido, a safra 2019 foi marcada por um Valor Bruto de Produção (VBP) 3% menor.
Um dos fatores que contribuíram para a queda foi a inflação, que reduziu os preços no quadro geral em 2% comparado a abril de 2018 – esta redução dos preços ocorreu mesmo após 9% de aumento no último mês de dezembro, quando as lavouras estavam se formando. Além disso, 88% do faturamento da safra 2019 foram destinados ao pagamento de custos operacionais, 12% a mais do que no ano anterior.
Em síntese, os números mostram que cerca de 12% do VBP é o que sobra para o produtor. E destes devem sair o custeio para atender a folha de pagamento, impostos, manutenção de capital e outros. Esses custos operacionais envolvem gastos com insumos, como fertilizantes, e serviços, além de transporte para o escoamento de grãos.
O documento por fim demonstra a importância do agronegócio para a economia gaúcha, ao passo que movimenta empresas e indústrias de diferentes segmentos, incluindo petroquímico, metal-mecânico, financeiro, construção civil, entre outros. A riqueza gerada pelo campo e compartilhada com os fornecedores ultrapassou a marca dos R$ 29 bilhões. O estudo, no entanto, indica que as atividades agropecuárias registraram um lucro menor acompanhado da tendência de aumento do endividamento do produtor.
Custo que impacta mais em pequenos e médios
O presidente do Sindicato Rural de Carazinho, Leomar Tombini, comenta que muitos produtores já estão trabalhando com margens negativas e demonstra preocupação com a manutenção de pequenas e médias propriedades na produção de lavouras tradicionais, como soja, milho e trigo.
– Os custos aumentaram bastante e o produtor está trabalhando muito próximo do vermelho. Isso vem se declarando há muito tempo e agora nesta safra ficou mais claro. Há algum tempo atrás, produzíamos 40 sacas de soja por hectare e havia rentabilidade. Agora, se colhe 80 sacas na mesma área, os riscos mais que dobraram e a lucratividade tem ficado cada vez mais próxima de zero. Quando se colhia 40 sacas, às vezes sobravam 10 sacas. Hoje se colhe o dobro e não sobram as 10 sacas de margem. Tem produtor que às vezes não sente isso pois não faz as contas – analisa o presidente do Sindicato Rural.
Tombini revela estar preocupado com a diminuição da margem de contribuição da produção das lavouras ao passo que a continuidade de ciclos com baixa remuneração ao produtor pode fazer com que estes comecem a se desfazer de seus bens imóveis para investir em outros negócios mais rentáveis.
– É uma preocupação, noto que é crescente o número de propriedades com áreas de 100, 200 hectares que não têm conseguido dar a volta nas contas e se considerar os aumentos nos custos de produção e a remuneração na hora da venda acabam optando por arrendar as áreas ou vender – revela o produtor rural.
Consequências
Tombini conta que diante dos custos, o produtor comumente espera a melhora dos preços dos grãos para proceder a venda. Alguns, no entanto, acabam renegociando dívidas com instituições financeiras ou cerealistas. Porém, enquanto isso acabam pagando juros que por fim, em muitas vezes, consomem a diferença do valor a maior quando da venda. Sobre este aspecto o presidente da entidade pondera que uma ferramenta que pode ajudar o produtor a travar um pouco dos custos são as negociações de lotes ofertados por cooperativas e cerealistas de pelo menos parte da produção futura.
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