Cheias nos EUA agravam ainda mais situção da já fragilizada renda agrícola

Publicado em 26/03/2019 17:33

A economia agrícola norte-americana vem se mostrando cada vez mais fragilizada pelos agressivos efeitos da guerra comercial entre China e Estados Unidos que já dura mais de um ano. No dia 8 de março o conflito completou um ano e em todo esse tempo o que se viu foi uma demanda significativamente menor pelos produtos americanos, preços mais baixos, estoques elevados no país e uma capacidade de armazenagem bastante comprometida. 

Não bastasse isso, o Meio-Oeste americano foi acometido pelas piores enchentes em mais de 130 anos, destruindo propriedades inteiras e tirando ainda mais a esperança do produtor às vésperas de uma nova safra. Os agricultores viram boa parte de seus investimentos serem levados pela força da água e a extensão e impactos dos estragos estão sendo agora contabilizados. E nos preços, os efeitos ainda não foram sentidos. O andamento das cotações dos grãos na Bolsa de Chicago seguem caminhando lateralmente, sem força para sair de um mesmo intervalo que já dura há meses. 

O produtor rural dos Estados Unidos passa, nesse momento, por uma de suas piores crises financeiras desde os anos 1970, com baixas na renda agrícola há pelo menos cinco anos e agora busca redefinir sua estratégia. As perdas somente no Nebraska e Iowa pelas cheias somam mais de US$ 3 bilhões. 

Um estudo mostra que a renda agrícola dos EUA está projetada para alcançar, este ano, US$ 69,4 bilhões, 44% mais baixa do que o recorde de 2013. "Todos falam sobre como a economia está boa nos EUA, mas para os agricultores está terrível", diz Chad Korth, produtor de Nebraska, da terceira geração de agricultores de milho, soja e gado à Bloomberg.

Segundo uma notícia da agência internacional, a ADM, uma das maiores multinacionais agrícolas do mundo, já fala em um resultado negativo na casa de US$ 50 milhões a US$ 60 milhões no primeiro trimestre em função dos problemas causados pelo clima. A empresa teve de fechar sua planta de processamento de milho em Columbus/Nebraska por tempo indeterminado por conta das inundações.  

E este é apenas um exemplo. Os bancos internacionais Morgan Stanley e o JP Morgan já divulgaram relatórios estimando lucros menores este ano, citando uma queda em suas ações falando em um risco elevado de mais enchentes serem esperadas para o Meio-Oeste dos Estados Unidos. 

A logística danificada e travada pelo excesso de água compromete também o transporte de combustível em alguns estados e interrompe as atividades de algumas outras gigantes, como a Cargill, por exemplo. 

O mapa a seguir, do NOAA - o serviço oficial de clima dos EUA -, mostra que 30% das plantas de etanol do país estão em áras de risco de inundações durante a primavera. 

Produtores locais já relatam ordens de cancelamento de compras de sementes e perdas de dezenas de animais. "Esse desastre vai tirar muita gente da atividade. É algo terrível", disse Chad Korth. 

Agricultores e Donald Trump

Embora durante toda a duração e o desenrolar da guerra comercial entre chinses e americanos os produtores tenham mantido sua confiança no presidente Donald Trump, agora parece que o sentimento de frustração começa a tomar conta do Corn Belt.

"A disputa comercial continua nos atingindo. Nós apoiaremos o que Trump decidir, porém, não podemos continuar a ser prejudicados só porque um acordo ainda não foi alcançado", diz Ryan Ueberrhein, produtor rural de Nebraska, à Reuters Internacional. 

Segundo a agência de notícias, dos produtores com os quais falaram todos seguem mantendo seu suporte ao presidente Donald Trump. 

A situação é tão grave nos Estados Unidos que sefundo a Nebraska Rural Response Hotline, um serviço de telemarketing que oferece suporte a produtores rurais tem recebido, nas últimas semanas, um número recorde de ligações sobre problemas financeiros, depressão e suicídios. 

Complementando o quadro, no último dia 11, o governo Trump ainda anunciou um corte de cerca de 15% no orçamento do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em seu orçamento de 2020, afirmando, ainda segundo a Reuters Internacional, que os "subsídios aos agricultores eram extremamente generosos". 

E o corte no orçamento poderia atingir, entre outros setores, o de seguros, o que neste momento será crucial e determinante para a recomposição dos produtores americanos. Um agricultor do Missouri - que teve seus quatro silos, 20 mil bushels de milho e mais boa parte de seus campos perdidos nas enchentes - diz que "se o governo e líderes não puderem avançar e começar a liderar, estamos perdidos". 

O fazendeiro, Richard Oswald, relata à Reuters que sempre pagou uma espécie de "seguro extra" para se proteger das inundações. No entanto, este ano, em função da redução de seu renda por conta dos efeitos das guerra comercial deixou essa política de lado. Agora, não conseguirá dinheiro para este milho todo que perdeus nas cheias. 

"A ajuda precisa vir do Congresso, mas o Congresso está tão dividido que não sabemos o que será", lamenta Oswald. 

Início da safra 2019/20

O dia é 26 de março e os produtores já deveriam ter iniciado o plantio, principalmente do milho, em algumas regiões. No entanto, o que o agricultor encontra agora são solos saturados, alguns alagados e a situação é mais frequente, ainda de acordo com a Bloomberg, no Meio-Oeste, norte do Delta do Mississipi e partes do Sul, onde os trabalhos de campo poderiam registrar algum atraso. 

Todavia, especialistas afirmam que não se trata do fim dos tempos para o Corn Belt e é preciso cautela na hora da avaliação do plantio 2019/20 nos Estados Unidos. Afinal, é sabido que o ritmo da semeadura no país conta com uma importante e rápida condição de recuperação. E isso irá ajudar a definir o futuro da área norte-americana nesta nova temporada. 

"Em apenas uma semana, os americanos conseguem colher ou plantar mais de 30% de sua área total – quando o ritmo atinge seu pico", explicam os especialistas da ARC Mercosul.

Ademais, a consultoria reafirma que ainda é cedo para saber quais serão as reais condições de clima para o desenvolvimento da maior parte da produção norte-americana de grãos. 

A ARC Mercosul lembra também que a janela ideal para o plantio do milho nos EUA é até a segunda metade de maior, ao passo que a soja pode ser seguramente semeada até o meio de junho. "O risco de geadas em outubro limita o cultivo tardio do milho, uma vez que o ciclo de desenvolvimento do cereal é mais extenso do que a oleaginosa", explica a consultoria.

O acompanhamento diário e constante, portanto, será necessário a partir deste momento, sem que se desvie o foco da capacidade de recuperação do produtor norte-americano. 

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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