Escolaridade é o fator que mais influenciou positivamente o salário da mulher no agro
Escolaridade foi o principal atributo a influenciar positivamente os rendimentos das mulheres que atuam no agronegócio. Este é um dos resultados apontados no terceiro e último volume do estudo “Mulheres no Agronegócio”, elaborado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP (confira aquias duas primeiras edições). De acordo com a pesquisa do Cepea, o aumento do nível de escolaridade das mulheres ocupadas no setor de 2004 a 2015 respondeu por cerca de 22% do aumento real observado nos rendimentos médios nesse mesmo período, que foi de 57%.
Apesar desse avanço, nota-se que o rendimento médio das mulheres que atuam no agronegócio ainda esteve por volta de 27% inferior ao de homens ocupados no mesmo setor, também quando considerado de 2004 a 2015. Já a diferença entre os rendimentos da força feminina que trabalha no agronegócio e da que está ocupada fora deste setor esteve em torno de 36-37%, com vantagem para as que atuam nos demais segmentos da economia. No período analisado, esses diferenciais mantiveram certa estabilidade.
Quais fatores que influenciaram os diferenciais nos rendimentos?
Entre as mulheres ocupadas no agronegócio, a diferença no rendimento médio está relacionada principalmente, à escolaridade, à idade e à região de atuação. No caso do primeiro item, o estudo identificou que, em 2014/15, o rendimento médio de mulheres ocupadas no agro e com 13 anos ou mais de estudo era 154,8% superior àquele recebido por mulheres sem instrução. No caso do fator regional, verifica-se que trabalhadoras do Sul do País obtiveram maior remuneração média mensal do que ocupadas em outras localidades, sobretudo no biênio 2014/15. Neste ponto, pesquisadores do Cepea indicam que há evidências de que este comportamento pode estar relacionado aos fatores históricos que balizaram a organização agrícola de forma diferente nos vários estados.
Ao comparar os rendimentos médios observados entre homens e mulheres empregados no agronegócio, a pesquisa mostrou uma diferença, em termos absolutos, de R$ 149,04 em favor da mão de obra masculina em 2004/05 (ou de 27,39%) e de R$ 227,25 em 2014/15 (ou de 26,84%). Isso indica que, apesar de a mão de obra feminina apresentar, em média, atributos que justificariam a existência de um rendimento médio superior àqueles pagos aos homens do setor (tais como instrução, classificações na ocupação e regiões de domicílio), esta acaba por receber um salário inferior. Estes resultados trazem evidências da existência de uma prática adotada pelo mercado de trabalho em precificar atributos observáveis de maneira diferente, em virtude de o trabalhador ser do sexo masculino ou feminino, em favor do primeiro grupo.
Já quanto à diferença apresentada entre as mulheres no agro versus mulheres em outros setores, se deve principalmente ao fato de a força feminina que atua no agronegócio apresentar, em média, menor grau de instrução e também por ocupar atividades que pagam salários relativamente mais baixos. Além disso, muitas mulheres que atuam no agronegócio estão em regiões em que a média salarial é mais baixa (frente à de trabalhadoras de outros setores).
VOLUMES 1 E 2 – Nos volumes 1 e 2 do estudo, o Cepea reuniu dados recentes e evidências empíricas que demonstraram uma evolução positiva da participação da mulher na população ocupada no agronegócio (frente ao total de ocupados no setor), fato que esteve atrelado, principalmente, ao crescimento dos empregos de maior qualificação e para mulheres acima de 30 anos – indicando a ampliação de oportunidades e surgimento de melhores postos para trabalhadoras do agro. Por outro lado, verificou-se que os grupos que foram mais desfavorecidos no crescimento da ocupação feminina no setor foram aqueles formados por mulheres de baixa instrução, perfil tipicamente mais vulnerável e com maior dificuldade de realocação no mercado de trabalho.
E as mudanças recentes do mercado de trabalho do agronegócio, com destaque para as transformações no papel da mulher no setor, têm se refletido na produtividade do trabalho e nos salários ou rendimentos médios, como demonstrado no volume 3 do estudo.