Chegou a hora de colocar o agronegócio no centro da política econômica, por Xico Graziano
A Sociedade Rural Brasileira será palco, nesta 4ª feira (19.set.2018), do lançamento do “Plano de governo para o agro brasileiro”. Visa influenciar o próximo presidente da República. Excelente iniciativa.
Coordenado pelo Roberto Rodrigues, maior líder da agropecuária nacional, o plano procura fugir daquele trivial xororô ruralista que pede benesses ao governo. A formulação, desta vez, enxerga o agro inserido na dinâmica da economia nacional.
Qual a influência do panorama macroeconômico sobre os agronegócios brasileiros? Esta, segundo a equipe do competente ex-ministro da Agricultura, é a pergunta inicial a ser respondida. Faz todo sentido.
Por um defeito histórico de análise, a agricultura sempre foi considerada um setor isolado da economia. Antigamente, quando a roça produzia, ensacava e vendia diretamente nos armazéns, havia realmente uma grande separação entre campo e cidade.
Com a capitalização agrária e a consequente formação dos complexos agroindustriais, porém, tudo se modificou. Gigantescas cadeias produtivas se articulam para unir a porteira das fazendas até a mesa do consumidor final, daqui ou do exterior.
A oferta de crédito, a taxa de câmbio, os juros básicos, as incertezas do mercado, tudo entrelaçado interfere nos agronegócios. Preços são formados globalmente. As decisões dos produtores rurais e suas cooperativas estão vinculadas à ação das empresas que vendem insumos e máquinas, ou compram e processam gêneros agrícolas.
Segundo o CEPEA/USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o PIB do agronegócio brasileiro representou (2017) 21,6% do PIB nacional, sendo 15% gerado no ramo agrícola e 6,6% no ramo pecuário. Nas exportações, a participação do agronegócio chegou a 44%, gerando um superávit de US$ 81 bilhões. É o agro que paga a conta das importações.
Embora ainda existam alguns economistas urbanoides – jornalistas também – que desprezam o valor do agro na equação do desenvolvimento nacional, a realidade da economia globalizada mostra, hoje, uma interdependência entre campo e cidade.
Erra feio, neste cenário, falar em política agrícola dissociada da política econômica. E vice-versa. Essa é a novidade do Plano formulado pelo Roberto Rodrigues.
O agro nacional não precisa de privilégios nem vantagens. Precisa, isso sim, ser considerado, reconhecido, inserido na equação do futuro do país. Quando se pleiteia, por exemplo, a melhoria da logística de transportes, para facilitar o escoamento da safra, ganham também os consumidores.
Chegou a hora de colocar o agronegócio, incluindo o agronegócio de base familiar, no centro da política econômica. Aqui reside nosso diferencial. Não um plano para o agro. Um plano para o Brasil.