Tamanho do prejuízo com alta do diesel vai depender da capacidade de ajuste na logística
O confinador Paulo Henrique Queiroz contrata caminhões boiadeiros de dois andares para buscar animais até mil quilômetros de Frutal (MG) a cerca de R$ 3,90 o km rodado (no frete corrigido pela tabela, naturalmente) e já está vendo um custo entre de 6/7% com essa tacada que a Petrobras deu no diesel. Em Santa Catarina, Ariel Verdi já estima um acréscimo entre R$ 16/18 mil mensais somente na logística de entrega do seu Frigorífico Verdi.
O tamanho do impacto que o aumento de 13% no diesel vai proporcionar em todo o agronegócio – como em todas as atividades produtivas – vai depender do grau de manobra que cada empresa pode fazer para se ajustar, se e quando possível a depender de cada conjuntura.
Queiroz, que já estava começando a reduzir o ritmo do giro, entrando menos bois magros ante os 3 mil que saem semanalmente, por conta do custo da comida, agora terá mais motivo para estudar talvez mais corte, já que o desalinho com o preço da depreciada @ certamente vai crescer.
Inclusive porque seu confinamento contínuo, com capacidade estática de 11,5 mil animais (fora os vários piquetes de adaptação), necessita trazer alimentos cada vez mais caros. Até o sorgo, com fartura no Triângulo Mineiro, quebrou, e vem agora de Goiás, fora o milho que roda desde o Mato Grosso também para a sua fábrica de ração, a Nutritaurus.
Verdi, de Pouso Rendondo, vai começar a se planejar, mesmo porque ele tem que olhar as duas pontas, ou seja, o que ele vende de carne e o que vai gastar na busca dos animais comprados – e aqui é mais complicado na ausência de padrão regular.
“E não tenho como repassar para os preços, pelo menos na íntegra, do resultado desse aperto, já que o varejo não vai conseguir repassar”, sustenta o empresário, em cujo estado a carne bovina sofre feroz concorrência do frango e suínos pela alta oferta regional dessas proteínas.
O pequeno confinador e consultor Fernando Costa, de Novo Horizonte (SP), conhece todas essas pontas do negócio da pecuária e não tem dúvidas de que os empresários vão ter que replanejar suas operações. Mesmo assim com grau de sucesso muito pequeno, isso quando houver, diante das necessidades. Nesta sexta (31) ele estava em Aruanã (GO) em encontro com produtores e a curiosidade geral era como os frigoríficos que compram na região iriam abrir as compras da próxima semana.
A firmeza das cotações do boi diante da reserva de animais prontos, por uma estiagem prolongada e um primeiro giro do confinamento baixo, vai ser corroída.
Na colheita da cana - a toda no Centro-Sul e recém aberta no Nordeste - o impacto da elevação do diesel é dos mais altos, pois se gera despesa nas máquinas colhedoras, nos transbordos e da originação à unidade produtiva. Por isso que nesse negócio de margem estreita matéria-prima longe da esteira não é bom negócio, ainda mais nessa repetida temporada de produtividade baixa e safra menor e mais curta.
No Nordeste, na maioria dos casos, não há colheita mecanizada, daí que os custos se dão apenas do campo à indústria, o que já nesta safra começou a 10% mais alto que na safra passada em Pernambuco, segundo Alexandre Lima, presidente da Associação dos Fornecedores de Cana do estado, e também presidente da Usina Coaf, dos cooperados da entidade.
“Acredito que o diesel a partir de hoje vai jogar mais 5% nos nossos custos”, avalia Lima, lembrando que o combustível fóssil já é, em média, 50% do que se dispende com o transporte da safra de cana.
E em São Paulo, com os produtores independentes começando a ter uma redução do valor do ATR pago, a situação não será das melhores. Segundo a última tabela do Consecana, em julho o kg foi de R$ 0,5488 posto na esteira da usina, e de R$ 0,5658 no acumulado, com queda de 1,05% sobre junho.
Para uma situação no qual a safra caminha apara o final, e os preços já estavam deprimidos sem reforma do Consecana há mais de 5 anos, o modelo é de prejuízos acumulados à frente.
Ninguém escapa, naturalmente, mas o peso sempre é mais significativo para aqueles que operam longe dos destinos de suas mercadorias e da originação de seus insumos. Marcos da Rosa, sojicultor e pecuarista, ex-presidente da Aprosoja Brasil, reclamando da “falta de preservar a agricultura”, calcula, por enquanto, em custos de 6/7% la na longínqua Canarana (MT).