Governo Trump detalha programa de US$ 12 bi que vai auxiliar produtores americanos

Publicado em 24/07/2018 15:59

O governo de Donald Trump irá disponibilizar US$ 12 bilhões em um pacote de ajuda aos produtores norte-americanos que estão sendo impactados pela guerra comercial dos EUA com a China e os detalhes dessas medidas foram anunciados na tarde desta terça-feira (24) pelo secretário norte-americano de Agricultura, Sonny Perdue. 

Segundo os representantes do governo, essas são medidas que ajudarão os agricultores a enfrentarem o que eles chamam de "tarifas retaliatórias ilegais". 

Em suma, são três principais programas. 

O primeiro dele conta com uma "facilitação do mercado", que vai focar, principalmente, commodities específicas como a soja, o sorgo, algodão, milho, trigo e carne suína. A segunda medida é um programa de compra e distribuição de alimentos, que irá adquirir os excedentes de commodities agrícolas para distribuí-los em bancos de alimento. O terceiro será um programa de promoção do comércio, que irá buscar desenvolver e aprimorar maneiras de trazer novos mercados para onde os EUA poderá exportar seus produtos. 

Segundo informações de agências internacionais, os programas já estão autorizados pelo Commodity Credit Corporation e serão geridos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A expectativa é de que os produtores norte-americanos possam começar a se inscrever nestes programas a partir de setembro, pela Farm Service Agency.

No Congresso, Trump foi criticado por republicanos que o alertaram de que boa parte de seus eleitores mais fiéis - os produtores rurais - são alguns dos que mais sofrem com essa disputa e imposições de tarifas. Para eles, mais do que um programa de alcance limitado, seria o fim dessa guerra, a qual tem provocado baixas bastante severas nos preços da soja e de outras culturas.

"Jamais haverá dinheiro suficiente para resolver os problemas causados pelas tarifações chinesas sobre os produtos agrícolas americanos", disse à Bloomberg o senador republicano do Kansas, Jerry Moran. "Os produtores americanos sabem que a administração de Trump se preocupa com eles, mas estão preocupados com as tarifas", completa. 

Para Steve Cachia, as medidas são apenas paliativas e não trazem um alívio muito extenso. "Isso é apenas uma medida para acalmar um pouco os ânimos do campo na véspera da colheita. Uma medida de curto prazo em nada resolve o problema do produtor americano. E pior, essas medidas dão um  sinal de que um acordo de curto-médio prazo não parece estar sendo cogitado", diz o diretor da Cerealpar e consultor do Kordin Grain Terminal, de Malta.

O pacote poderia levar ainda, como explica o diretor da LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto, a um processo na OMC (Organização Mundial do Comércio) por se tratar de um subsídio comercial direto, já que está voltado diretamente para a comercialização.  "A questão é saber quem irá abrir esse processo. Me parece que as medidas irão bagunçar os preços na bolsa, inserindo mais incerteza e, certamente, afetará os prêmios de exportação por aqui, que já estão excepcionalmente altos", diz. 

Em uma conta rápida, Lima Porto mostra que, considerando o valor anunciado sendo dividido pela área estimada de plantio para esta temporada em 36,5 milhões de hectares no caso da soja, "seria algo como US$ 328,00 por hectare de subsídio". Assim, "é como se um produtor daqui, que colhe ao redor de 60 scs/ha, recebesse do governo de presente algo entre R$ 20 a R$ 25 por saco", completa. 

American Soybean Association 

A American Soybean Association (ASA), uma das mais ativas associações agrícolas dos EUA, continua defendendo medidas de longo prazo para o problema, já que os preços da soja já perderam mais de US$ 2,00 por bushel somente nos últimos meses em que a guerra se tornou foco central dos traders.

"O presidente prometeu durante semanas que iria "cuidar" dos agricultores, mas a American Soybean Association (ASA) e outros grupos agrícolas não sabem até hoje como essa ajuda seria (...) Embora os produtores de soja apreciem o reconhecimento do governo de que as tarifas reduziram as exportações e baixaram os preços, o plano anunciado fornece apenas assistência de curto prazo. A ASA continua a pedir uma estratégia de longo prazo para aliviar os superávits crescentes de soja e os preços baixos e contínuos, incluindo um plano para remover as tarifas prejudiciais", diz a nota oficial da ASA.

John Heisdorffer, presidente da associação e produtor de soja de Keota, Iowa, afirmou que o melhor plano de ação que os EUA poderia seguir agora é, de fato, buscar novos e consistentes mercados como alternativa à demanda chinesa.  "Isso significa concluir as negociações do NAFTA o mais rápido possível para que possamos iniciar conversações sobre novos acordos bilaterais com outros mercados importantes da soja, incluindo o Japão, o Vietnã, a Indonésia e as Filipinas". 

No link abaixo, leia a íntegra, em inglês, da nota oficial da ASA:

>> President Announces Short-Term Plan to Help Farmers, ASA Hopeful It’s Step One in Long-Term Tariff Solution

National Corn Growers Association

Já a NCGA (National Corn Growers Association), a associação nacional dos produtores de milho se colocou, em nota oficial, à disposição do USDA para a aprimoração destes programas, afirmando que, mesmo importantes e oportunas, as medidas são insuficientes para atenderem a todos os pleitos dos produtores americanos no presente momento. 

"Os membros de produtores da NCGA estão enfrentando seu quinto ano consecutivo de queda nas receitas agrícolas, enfrentando altos níveis de incerteza devido a disputas comerciais contínuas e interrupções nos mercados de etanol. Os produtores de milho preferem depender dos mercados, não de um pacote de ajuda, para sua subsistência", diz a nota oficial da NCGA, na pessoa de seu presidente, Kevin Skunes, produtor na Dakota do Norte.

A seguir, no link, veja também a íntegra em inglês da nota da associação dos produtres norte-americanos de milho:

>> NCGA statement on USDA trade aid

Assista também ao comentário de Marcos Araújo, analista da Agrinvest, sobre o programa americano : 

>> Soja reage bem ao programa de apoio aos produtores americanos, mas para analista, medidas só adiam o problema

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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