Protestos ameaçam abastecimento de combustível; ANP flexibiliza regra de biodiesel no Rio

Publicado em 23/05/2018 13:09
Agência Brasil : Greve afeta supermercados e ameaça produção de veículos

Com a falta de acordo, a greve dos caminhoneiros deve continuar nesta quinta-feira. Além da corrida aos postos, a preocupação agora é com o desabastecimento dos supermercados do País. Temendo o caos, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) divulgou nota afirmando que já identifica falta de produtos em alguns estados.

"Mesmo com o esforço do setor de supermercados para garantir o perfeito abastecimento da população brasileira, identificamos que alguns estados já começaram a sofrer com o desabastecimento de alimentos, e que isso poderá se estender para todo o Brasil nos próximos dias, se algo não for feito", diz a Abras.

Um dos segmentos mais afetados é o agronegócio. A ABPA e a Abiec, associações que representam as indústrias de carnes, comunicaram que 129 unidades estão com as atividades suspensas em razão da falta de matérias-primas e insumos e que 90 por cento da produção nacional pode ser interrompida até sexta-feira, se os protestos continuarem.

"Deixaram de ser exportadas 25 mil toneladas de carne de frango e suínos, o equivalente a uma receita de 60 milhões de dólares que deixa de ser gerada para o país. No caso da carne bovina, são cerca de 1.200 contêineres que deixam de ser embarcados por dia", disseram as associações em nota.

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carnes do mundo e começa a sentir também problemas na oferta doméstica em virtude das manifestações.

"Os estabelecimentos menores e de cidades pequenas ou regiões metropolitanas --que mantém um ciclo de entrega de produtos a cada dois dias-- já estão com o abastecimento comprometido. Essa dificuldade pode atingir os grandes centros nos próximos dias."

Com efeito, cooperativas produtoras de carnes do Paraná e até empresas maiores, como BRF, Aurora e Marfrig, alertaram entre terça-feira e esta quarta sobre a suspensão de atividades em diversas unidades.

"A suspensão da operação de abate e industrialização tornou-se inevitável em razão dos efeitos do movimento grevista que impossibilita a passagem de caminhões com insumos necessários para abastecer as indústrias, aves vivas para o abate, expedição dos estoques para atender clientes e mercados a nível regional e nacional...", afirmou Irineo da Costa Rodrigues, presidente da cooperativa Lar, de Medianeira (PR).

Os protestos dos caminhoneiros, contrários à alta do diesel começaram na segunda-feira e ganharam corpo no decorrer dos dias, abrangendo mais de 20 Estados. Representantes do movimento se reuniram com autoridades do governo na tarde desta quarta-feira, mas não chegaram a um acordo e afirmaram que vão manter a greve.

Combustível mais consumido no país, o diesel acumula alta de mais de 45 por cento desde julho do ano passado nas refinarias da Petrobras, na esteira de uma nova política de formação de preços da estatal que visa seguir o mercado internacional e o câmbio, entre outros fatores.

A empresa adotou uma política mais agressiva após perder mercado para importadores.

COMBUSTÍVEIS

Outro segmento da economia nacional fortemente afetado pelos protestos dos caminhoneiros é o de combustíveis, com muitas cargas não chegando aos postos em diversas cidades.

"Os postos têm capacidade de armazenamento em média de três dias, parece que já tem revendedor com os estoques no final, a partir de hoje provavelmente a situação se agrava", afirmou à Reuters o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares.

O diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Aurélio Amaral, acrescentou que há bloqueios em polos de distribuição, estocagem e mistura de diesel e biodiesel em alguns pontos do país, mas a situação é mais delicada no Rio de Janeiro.

Os protestos também começam a afetar as usinas de cana-de-açúcar, que deram início à safra 2018/19 no mês passado e estão focadas na fabricação de etanol, concorrente direto da gasolina e atualmente mais remunerador que o açúcar.

"Pontualmente, hoje, existem unidades paradas por falta de diesel e de peças, e unidades que começaram a reduzir o ritmo de moagem", afirmou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Uma eventual restrição na oferta de etanol adicionaria ainda mais pressão em um eventual cenário de falta de combustíveis.

SOJA TAMBÉM AFETADA

No caso da soja, principal item da exportação brasileira, os sinais de alerta já acenderam, com diversas unidades processadores interrompendo as atividades, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que tem entre suas associadas gigantes como ADM, Bunge e Cargill.

A associação disse temer que a continuidade da greve "prejudique ainda mais" o abastecimento doméstico e a exportação de produtos, "impactando diretamente no cumprimento dos seus contratos".

Dado o atual cenário, a Abiove orientou suas associadas a se manifestarem junto a fornecedores e clientes, "explicando que atrasos podem ocorrer na recepção e expedição de produtos fruto da manutenção da greve, sendo estes motivos de força maior e fora do controle das empresas".

A situação é delicada porque o Brasil, maior exportador mundial de soja, acaba de colher uma safra recorde, de quase 120 milhões de toneladas, com previsão de embarques também históricos em 2018, acima de 70 milhões de toneladas.

A CitrusBR, que reúne exportadores de suco de laranja do Brasil, o maior exportador global da commodity, informou que conta com estoques em terminais no porto de Santos (SP) para manter os compromissos de exportação.

Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) destacou que, até o momento, não registra problemas nos embarques. O país também é o maior produtor e exportador global de café e prepara-se para uma safra recorde neste ano, de cerca de 58 milhões de sacas.

OUTROS SETORES

A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) informou que a paralisação de caminhoneiros gerou desabastecimento em farmácias e drogarias de todo o país.

Um dos principais problemas referem-se aos medicamentos termolábeis, que devem ser mantidos refrigerados e necessitam de temperatura estável até o seu destino final --algo impossível de ser garantido com um veículo travado nas estradas, disse a Abrafarma.

No setor de alimentos  a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou que, mesmo com o esforço do setor de supermercados para garantir o abastecimento, "alguns Estados já começaram a sofrer com o desabastecimento de alimentos, e isso poderá se estender para todo o Brasil nos próximos dias".

Com a paralisação, fornecedores da indústria de laticínios e produtores de aves do estado está descartando a produção por não conseguirem escoar. o cenário pode "provocar uma correria aos supermercados”. 

Juiz federal determina liberação de 6 rodovias e autoriza uso da força policial

Em uma vitória para o Palácio do Planalto, o juiz federal Marcelo Rebello Pinheiro, do Distrito Federal, atendeu ao pedido da União e concedeu liminar para assegurar a imediata liberação do tráfego em seis rodovias federais: BR-040, BR-050, BR-060, BR-070, BR-080 e BR-251. (informações do ESTADÃO)

Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil do Governo, disse em entrevista que poderá haver risco de desabastecimento por causa das paralisações. Ele ressaltou que a paralisação pode provocar desabastecimento das famílias, a paralisação do parque industrial e a produção no campo, com a falta de ração para os criadores de frango e gado. 

Confira fotos da manifestação:

Manifestação em Coronel Vivida (PR)

Manifestação em Coronel Vivida (PR)

Manifestação em Balsas (MA)

Postos de São Paulo estão sem receber combustível, diz sindicato

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo, José Alberto Paiva Gouveia, informou que, desde o início desta quarta-feira (23), os postos de abastecimento do estado não receberam nenhum tipo de combustível.

"Os postos de combustíveis têm, em média, estoque para operar por dois ou três dias. Hoje não recebemos combustível", afirmou Gouveia.

Sobre a possibilidade de redução dos impostos que incidem sobre os combustíveis, especialmente o oleo diesel, Gouveia ressaltou que ainda não é possível ter ideia do impacto da medida para o consumidor final.

"Estamos aguardando o posicionamento das distribuidoras, quando começarmos a receber novamente o produto. Não consigo precisar uma redução de preços nas bombas, porque é uma decisão de cada dono de posto. Vamos acompanhar, mas ainda não sei precisar se vai redução [de preço] ou de quanto será", acrescentou Gouveia.

Em Minas já tem filas nos postos e falta de combustíveis

Fotos enviadas por internautas mostram filas nos postos em Muzambinho e Nova Rezende , municípios do Sul de Minas, que já estão enfrentando problemas de desabastecimento com a greve dos caminhoneiros. 

 

Produtores rurais aderem à greve e levam tratores e máquinas para as rodovias

 Agricultores de várias partes do país começam a aderir à greve dos caminhoneiros contra a alta dos combustíveis. Imagens das redes sociais e enviadas por internautas  mostram que além dos caminhões, tratores , colheitadeiras e outras máquinas agrícolas já podem ser vistos  nas rodovias em pontos de paralisação. 

Em Mafra (SC) e Santana do Itararé (PR), produtores rurais fizeram um tratoraço na BR-116

Em Videira-SC , vídeo mostra os tratores seguindo para ponto de paralisação em apoio à greve dos caminhoneiros

Produtores rurais do Distrito Federal e entorno também apoiam a greve na BR- 020 altura de Planaltina -DF, disse o produtor Filipe Koch.

 

 

Fonte: NA/Reuters

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