Em Paris, Maggi fala dos avanços do agro brasileiro e de respeito ao meio ambiente
O ministro Blairo Maggi (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) disse nesta terça-feira (22) durante entrevista coletiva, em Paris, que o Brasil promoveu “uma revolução verde no mundo” ao transformar o campo brasileiro e mudar a posição do país de grande importador a um dos maiores exportadores mundiais de alimentos. Isso, segundo afirmou, com uma rígida legislação ambiental e sem o incentivo de subsídios. Maggi destacou questões que ainda dificultam o acordo do Mercosul coma União Europeia e esclareceu sobre o uso de defensivos agrícolas.
“Em curto espaço de tempo, em 40, 45 anos, passamos a fornecer alimentos para mais de 150 países. E isso, tendo consumo interno muito grande, superior a 200 milhões de habitantes”, disse o ministro. “Em uma atividade extremamente importante como essa, adotamos todas as providências através de legislação, de combate a problemas que tínhamos, e levamos o país a um patamar onde podemos discutir tudo com muita transparência”.
Blairo Maggi destacou que “o Brasil não fugiu à responsabilidade de corrigir erros, tanto nas questões relacionadas ao trabalho, questões sociais dos colaboradores, quanto das ambientais”. Lembrou que, hoje, “somos o quarto maior produtor de alimentos, o segundo maior exportador, utilizando apenas 9% do território brasileiro para a agricultura e mais 13% para pecuária”.
“Desses 9%, são retirados do solo 1,650 bilhão de toneladas de produtos, quer seja de florestas plantadas, café, banana, cana para a produção de etanol, soja, milho”, enfatizou.
Meio ambiente
Sobre a legislação ambiental, salientou ainda ser bastante forte, que obriga os produtores a manterem em suas propriedades áreas de reservas ambiental ou de florestas, ou de cerrado, de qualquer tipo de vegetação, dependendo do bioma, sem uso. “Por exemplo, no norte, na região onde está nossa floresta amazônica, qualquer proprietário só pode usar 20% da propriedade”.
Em relação a desmatamentos, observou que de 2003 para cá “não só no meu estado (Mato Grosso), mas também nos demais estados houve redução em torno de 90% do uso ou do desflorestamento”. O combate ao desmatamento continua, afirmou, “e o ritmo da ocupação de terras diminuiu pelas políticas implantadas e também porque os próprios produtores perceberam que não adianta produzir mais se as empresas privadas no Brasil que estão dentro de um sistema de ajudar na proteção ambiental, deixam de comprar de quem desmata irregularmente”.
Mercosul e UE
Questionado sobre as negociações de acordo entre o Mercosul e União Europeia, durante entrevista, o ministro comentou que a Europa trabalha com muito subsídios, não utilizados na agricultura brasileira e que, por isso, é preciso estar “bastante atento a essa abertura, a fim de que não comprometa o crescimento de determinadas agroindústrias”. Mas disse que está muito próximo o acordo comercial. “Na verdade, quando se trata de carne, a Europa é autossuficiente e as cotas ofertadas ao Mercosul nada mais são do que recomposição de números que tínhamos já há dez anos atrás ou coisa parecida. Então, por parte da agricultura, nós vamos, sim, aceitar o acordo, mas não temos aquele entusiasmo, que muitos dizem que teríamos”.
Mas há pendências como a de indicação geográfica, “que preocupa, sendo um tema sensível para Europa e também para o Brasil. Um assunto que ainda está se discutindo para chegar em um acordo”.
Em relação a lácteos, disse também haver “dificuldade de aceitar o mercado aberto, porque a estrutura de produção de leite no Brasil é feita por pequenos produtores agrícolas, por uma agricultura familiar mesmo de subsistência. E como nós não temos um sistema de proteção via incentivos, via subsídios, a liberação do mercado sem nenhuma condição, significaria que milhares de pequenos produtores brasileiros não suportariam a concorrência”.
Defensivos
Maggi também falou sobre o uso de defensivos na agricultura. “Nós ouvimos aqui na Europa e no Brasil que nosso país é um dos grandes usuários de defensivos agrícolas. Mas quando olharmos os números, a gente vê que a história é diferente. Ao confrontarmos a quantidade por quilo de produto, o país que mais usa por hectare é o Japão. São 11,7 quilos por hectare/ano; em segundo lugar, vem a Holanda, com 4,59 quilos; em terceiro, a França, com 2,4 quilos por hectare; a Alemanha, na sequência, com 1,9 quilo por hectare e: o Brasil tem 1.16 quilo para cada hectare produzido”.
O Brasil, de acordo com Maggi, tem, “então,uso bastante moderado pelo volume de área em que produz em duas safras por ano. “O ano inteiro, no Norte, no Sul ou no Centro-Oeste, estão sempre ocupados com algum tipo de cultura. Isso dá ao país a posição de contestar os números que são colocados mundo afora”.
Blairo Maggi participou de evento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) que lançou durante a 86ª Sessão Geral da Assembleia Mundial da OIE, o Agricultural Traceability System (Agri Trace) voltada para a rastreabilidade da cadeia produtiva de carne bovina. Uma ação complementar às garantias sanitárias do Governo Federal.
Na quinta-feira (24), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) irá declarar oficialmente o Brasil como País Livre da Febre aftosa com vacinação, reconhecendo 50 anos de trabalho do serviço veterinário e dos produtores rurais brasileiros. A diretora-geral Monique Eloit entregará o certificado sanitário ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, a partir das 14h30 (horário local), na sede da OIE, durante a 7ª Sessão Plenária da Organização.