Às mulheres do agro, de fora dele, de onde for, a minha força e reconhecimento, por Carla Mendes
"Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância". Simone de Beauvoir, certa vez, disse isso e que assim seja. Amém.
Há oito anos me dispus a atuar como jornalista em um segmento onde o ambiente ainda é predominantemente masculino e que, infelizmente ainda sofre com uma ou outra atitude machista. Acontece que eu não sou de generalizar e nem de me deixar ser generalizada. E assim, eu me inseri - em partes porque tenho grandes colegas de trabalho que passam longe de comportamentos como esse - porque pisei em conceitos ultrapassados, porque abri meus próprios caminhos - segurando nas mãos desses mesmos colegas - e porque consolidei meu espaço, ampliei meus limites e fortaleci ainda mais minha opinião sobre o que é preciso ser pra isso.
Assim como Simone de Beauvoir nos orientou, criei um escudo sobre qualquer um que não fosse eu, ou qualquer situação que não fosse permitida por mim vivê-la, me definisse. Imagine só o que eu fiz então com algo que pudesse me sujeitar ao que fosse. E segui. Eu e todas as outras mulheres que carregam histórias semelhantes a séculos consecutivos.
Hoje, como editora de conteúdo do principal portal especializado em agronegócio do país e liderando uma equipe majoritariamente feminina, tenho mais sorte ainda porque aqueles mesmos colegas me ajudaram a multiplicar o respeito que eu conquistei, as oportunidades que me chegavam e o espaço que eu poderia ocupar. Expandi e compartilhei meu conhecimento. Aumentei ainda mais meus limites. Ampliei minha capacidade de definir objetivos ainda maiores pra mim. Inspirei jovens profissionais que hoje me inspiram diariamente, que ocupam espaços ainda maiores dos que os meus.
Além disso, me espelhei naquelas que vieram antes de mim, principalmente nas mulheres que me fizeram a mulher que eu sou hoje. Tão ousada quanto eu tentei ser, minha mãe foi. Viúva aos 26 anos, em 1987, ela abriu caminhos tão importantes quanto aqueles que buscamos hoje.
A agropecuária brasileira - e a medicina, o jornalismo, a engenharia, a arquitetura, a administração, o direito, a política, o voluntariado, o trabalho doméstico - vem colecionando histórias de mulheres que fazem do campo verdadeiros campos de batalha para provarem seu valor, para impedir que sejam definidas ou sujeitas. Mulheres que, sozinhas ou ao lado de seus companheiros, vem alimentando milhares de famílias além das suas; que vêm alimentando milhares de sonhos além dos seus, que vêm alimentando a esperança de uma igualdade ainda tão distante, mas tão vívida em suas mentes como a força que as trouxe até aqui.
Você pode pensar que em pleno 2018 isso não existe mais. Mas existe, meu bom. Existe e oprime. Então, vai ter Dia Internacional da Mulher sim. E vai ter Dia Universal se reclamar, tá certo? Mentira. Vai ter nada. Enquanto vocês - homens e mulheres - precisam de um dia para lembrarmos que precisamos dele, nós nos lembramos em todos os outros que eles são nossos e que, a cada novo, mataremos quantos leões forem necessários para mostrarmos que de diferente só temos a força. O resto, no maior dos clichês, é consequência.
Às mulheres do agro ou de fora dele, desejo que toda a força que move essa atividade - que hoje é uma das mais importantes da economia nacional - , se multiplique dentro de cada uma de vocês com a mesma intensidade. Que as informações que, ao lado de mulheres brilhantes, reportamos daqui da redação do Notícias Agrícolas, chegue a vocês como combustível para os novos dias.