BC corta Selic a 6,75% ao ano, nova mínima histórica, e sinaliza fim do ciclo de afrouxamento

Publicado em 07/02/2018 18:05

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central desacelerou o passo e cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, ao novo patamar recorde de 6,75 por cento ao ano, e sinalizou que o ciclo de afrouxamento na Selic deve acabar já no mês seguinte devido à melhor recuperação da atividade econômica no país.

"Para a próxima reunião (em março), caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária", informou o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em comunicado.

Mas fez uma ponderação, como é de praxe.

"Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos", acrescentou o BC em comunicado, no qual manteve a projeção de inflação de 2018 e 2019 a 4,2 por cento pelo IPCA, pelo cenário de mercado.

No documento, o BC passou a indicar que o conjunto dos indicadores de atividade mostra "recuperação consistente da economia brasileira". Antes, o tom era mais cauteloso, com o BC classificando a recuperação como "gradual".

Em pesquisa Reuters, 43 de 45 economistas consultados já previam que o BC cortasse a Selic nessa magnitude. Para março, próxima reunião do Copom, 30 dos 44 esperam manutenção da taxa de juros, enquanto o restante projeta mais um corte de 0,25 ponto.

"Havia dúvida era se deixariam claro o encerramento do ciclo ou não. Esse comunicado deixou claro que o plano A é de encerramento", afirmou a economista do banco Santader, Tatiana Pinheiro, acrescentando que o BC deixou claro que vê cenários de inflação e atividade bastante benignos, "que tornam possível a manutenção da taxa neste patamar no ano inteiro".

O BC voltou a dizer que "os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação".

Este foi 11º corte seguido na Selic no ciclo iniciado em outubro de 2016 e que já somou 7,5 pontos percentuais de redução diante do cenário de inflação fraca e retomada gradual da atividade econômica após dois anos de profunda recessão.

Mas a economia tem ganhado algum ímpeto neste ano, o que poderá fazê-la crescer ao ritmo mais rápido em cinco anos, pavimentando o caminho para o fim das tesouradas pelo BC.

Embora a inflação tenha terminado o ano passado abaixo do piso pela primeira vez desde a implementação do regime de metas, em 1999, a alta dos preços também voltou a ganhar força com o fim do período de meses de deflação dos alimentos.

Sobre o cenário externo, o BC manteve a avaliação de que ele é benéfico para economias emergentes, na medida em que a atividade econômica cresce globalmente.

"Isso tem contribuído até o momento para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes, apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas", informou.

Nesta semana, houve nervosismo nos mercados por conta dos temores de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, poderá ser mais duro ao elevar a taxa de juros do país e atrair recursos aplicados hoje em outras praças financeiras, como a brasileira.

A reação foi de forte alta nos rendimentos dos títulos dos Estados Unidos e quedas acentuadas nas bolsas de valores.

"Uma coisa que eu acho que interessa e é importante é que ele (BC) ainda vê o cenário externo como favorável... apesar dessa volatilidade. A conjuntura macro está muito bem, obrigado", afirmou o economista-chefe do banco Pine, Marco Caruso.

Neste comunicado, o BC manteve a avaliação de que as reformas e ajustes contribuem para a queda da taxa de juros estrutural no país. O governo não tem ainda apoio político suficiente para aprovar a reforma da Previdência, considerada essencial para colocar as contas públicas em ordem, no Congresso Nacional.

"Quanto aos eventos que poderiam alterar a atuação do BC, no sentido de promover um corte adicional de 0,25 ponto percentual, estaria a aprovação da reforma da Previdência, que até o momento não nos parece provável acontecer", disse a economista da CM Research, em comunicado, Camila Abdelmalack.

Taxa Selic fica abaixo de 7% ao ano pela primeira vez na história (Ag Brasil)

Pela 11ª vez seguida, o Banco Central (BC) baixou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu hoje (7) a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, de 7% ao ano para 6,75% ao ano. A decisão era esperada pelos analistas financeiros.

Com a redução de hoje, a Selic continua no menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 7% ao ano em dezembro do ano passado, o nível mais baixo até então.

Em nota, o Copom indicou que parará de cortar os juros na próxima reunião, no fim de março, caso as condições econômicas não mudem. O BC, no entanto, informou que a Selic poderá ser reduzida novamente caso o Congresso aprove as reformas estruturais, e a economia continue a crescer, com inflação sob controle e sem choques internacionais.

“Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, o comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos”, destaca o comunicado do Copom.

Apesar do corte de hoje, o Banco Central está afrouxando menos a política monetária. De abril a setembro, o Copom havia reduzido a Selic em 1 ponto percentual. O ritmo de corte caiu para 0,75 ponto em outubro, 0,5 ponto em dezembro e 0,25 ponto na reunião de hoje.

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA fechou 2017 em 2,95%, levemente abaixo do piso da meta de inflação, que é de 3%. O IPCA de janeiro será divulgado amanhã (8).

Até 2016, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelecia meta de inflação de 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos, podendo chegar a 6,5%. Para 2017 e 2018, o CMN reduziu a margem de tolerância para 1,5 ponto percentual. A inflação, portanto, não poderá superar 6% neste ano nem ficar abaixo de 3%.

Inflação

No Relatório de Inflação, divulgado no fim de dezembro pelo Banco Central, a autoridade monetária estima que o IPCA encerrará 2018 em 4,2%. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 3,94%, mesmo com os aumentos recentes nos preços dos combustíveis.

Até agosto de 2016, o impacto de preços administrados, como a elevação de tarifas públicas; e o de alimentos como feijão e leite contribuiu para a manutenção dos índices de preços em níveis altos. Do fim de 2016 ao fim de 2017, no entanto, a inflação começou a cair por causa da recessão econômica, da queda do dólar e da supersafra de alimentos. Nos últimos meses, no entanto, os índices voltaram a subir por causa dos sucessivos reajustes dos combustíveis e do fim da queda no preços dos alimentos.

Crédito mais barato

A redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo em um cenário de baixa atividade econômica. Segundo o boletim Focus, os analistas econômicos projetam crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos pelo país) em 2018. A estimativa está superior à do último Relatório de Inflação, divulgado em dezembro, no qual o BC projetava expansão da economia de 2,6% este ano.

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação.

Fonte: Reuters/Agência Brasil

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