Agricultura eficiente: uma realidade no oeste baiano

Publicado em 21/11/2017 15:15
A integração entre tecnologia de precisão e a adoção de práticas conservacionistas é a fórmula para a produção sustentável

Com o advento da tecnologia, o homem do campo tem utilizado a modernidade a seu favor. Tratores computadorizados e máquinas de última geração compõem, hoje, o arsenal dos agricultores na hora de formarem suas lavouras. A mecanização e informatização, contudo, não se resumem apenas ao plantio e colheita, os produtores rurais têm investido cada vez mais em equipamentos que garantem informações precisas sobre clima, mercado, qualidade do solo, quantidade de água e fertilizantes a serem utilizados, entre outros subsídios que ajudam os agricultores e agrônomos a tomarem a decisão certa, no tempo certo, e, assim, diminuir custos e aumentar a produtividade nas fazendas.

O uso dessas ferramentas aliado às boas práticas, como técnicas de conservação do solo e da água, resulta em benefícios não só para o produtor rural, mas principalmente para o meio ambiente. Se produzir mais com um custo menor é bom, elevar o volume produzido e de forma sustentável é ainda melhor. É a chamada agricultura eficiente, uma realidade visível nos campos do oeste da Bahia.

Quando aqui chegaram, há pouco mais de 30 anos, os sulistas encontraram terras praticamente inférteis, e as transformaram em uma das maiores áreas produtivas do País. É aqui que está situado, por exemplo, o maior produtor de algodão, segundo maior produtor de feijão e quarto maior produtor de soja do território brasileiro. O oeste baiano tem uma agricultura variada e papel de destaque não apenas nas safras de grãos e fibra, mas também de produtos como café e mandioca, além de ser o maior produtor de frutas como banana, mamão, manga, maracujá e coco. O agronegócio é a principal atividade da região e mola propulsora da economia local.

Mas essa vocação agrícola se deve aos elevados investimentos, sobretudo na fertilização do solo e no manejo adequado do mesmo. A aplicação de fertilizantes, aquisição de equipamentos e, principalmente, a adoção de práticas conservacionistas compõem a “fórmula de sucesso” que tem garantido uma melhora significativa na qualidade das terras, aperfeiçoando o perfil do solo e transformando o cerrado em região agricultável.

Adepto às boas práticas de conservação solo, o agricultor Luiz Pradella vê, ano após ano, os resultados positivos em sua propriedade. Na fazenda, ele realiza a descompactação do solo, através do plantio direto e da rotação de cultura. Segundo ele, a combinação dessas técnicas permite a estruturação dos solos (abertura dos poros), o que ajuda na melhora do seu nível.

“Como ganho direto eu poderia citar a economia operacional, já que reduz os gastos com combustível, além da segurança de se obter uma produção média maior e mais estável, pois se tem um solo mais fértil e melhor em quantidade e perfil, comprovado por análises em laboratório”, elencou o produtor.

Sequestro de Carbono

De acordo com Pradella, além dos ganhos diretos, há incalculáveis benefícios à natureza, já que tais práticas são ambientalmente favoráveis, por conseguirem aprisionar mais dióxido de carbono na terra. “A esse processo damos o nome de sequestro de carbono (CO2), pois percebemos um acréscimo de até 0,01% de matéria orgânica ao ano no solo”, explicou.

Um estudo realizado recentemente por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e da Faculdade São Francisco de Barreiras (Fasb) comprova a tese do agricultor. A pesquisa analisou uma área de aproximadamente 1,98 milhão de hectares e o resultado desmistificou a ideia de que a agricultura é o principal contribuinte para o efeito estufa, mostrando que a atividade agrícola praticada no oeste da Bahia reduz a emissão do gás poluente, através da absorção e retenção do mesmo no solo.

Segundo o diretor de Águas e Irrigação da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), o engenheiro agrônomo José Cisino Lopes, o aprisionamento de CO2 na terra favorece as plantas para que elas tenham mais acesso à agua e aos nutrientes, uma vez que desenvolvem um sistema radicular mais forte. “Com solo de maior qualidade e raízes bem desenvolvidas e mais profundas o resultado é uma lavoura mais saudável e com uma produtividade maior. Isso é bom para o produtor e melhor ainda para o meio ambiente”, explicou.

Eficiência

O agrônomo compartilha a “fórmula da eficiência”: fazer plantio na palha, monitoramento de pragas e de doenças, terraceamento e rotação de cultura. Ele defende que estas práticas não só melhoram o solo como ajudam a deter a água da chuva, evitando, assim, o escoamento de boa parte desta água que causa erosões, além de contribuir para a recarga dos aquíferos.

“Mais recentemente os agricultores do oeste têm adotado o plantio de adubo em período seco (sem chuva), onde se coloca o adubo em linhas, e posteriormente, na época da chuva, se planta a semente na mesma linha. Isso só é possível porque os tratores são dotados de GPS, que identificam com precisão o local exato, usando sementes de altíssima qualidade, que frutificarão em sua totalidade, pois precisamos desse ganho de tempo na semeadura para garantir a boa produtividade e manter-se competitivo, já que, devido a fatores climáticos só temos uma safra por ano” explica, denominando o feito de “agricultura de precisão ou de eficiência”.

Irrigação

Ao falar em boas práticas conservacionistas, o tema logo nos remete aos recursos hídricos. Esta também é uma preocupação dos produtores rurais do oeste baiano. A fim de praticar uma agricultura sustentável, muitos irrigantes da região adquiriram as próprias estações agrometeorológicas, cuja finalidade é garantir a eficiência na irrigação. As estações automatizadas e de baixa manutenção fornecem os dados climáticos necessários que, juntamente com informações levantadas, pelo produtor, sobre o solo, a cultura e o sistema de plantio, alimentam modernos softwares de gestão de irrigação que irão auxiliar o operador a tomar decisões assertivas ao estabelecer a lâmina d’água, momento adequado e tempo de irrigação, evitando desperdício, tanto de água quanto de energia elétrica.

“São sistemas inteligentes que calculam o volume hídrico e o tempo a ser irrigado, para que não haja excessos nem uma sublâmina incapaz de atender a demanda mínima da planta, interferindo no seu desenvolvimento, ou seja, é um sistema de gerenciamento de irrigação que ajuda a minimizar as perdas hídricas”, pontuou o engenheiro agrônomo e membro do Conselho Técnico da Aiba, Orestes Mandelli.

Segundo ele, os sistemas de irrigação mais modernos podem atingir até 98% de eficiência (aproveitamento da água). Contudo, ele ratifica que uma agricultura eficiente é resultado da combinação de tecnologia e decisões humanas, como o manejo do solo, construção de curvas de nível, plantio na palha, rotação de cultura e o escalonamento do plantio.

“Escalonar as áreas de plantio em semanas diferentes, por exemplo, resulta na obtenção de plantas em diferentes fases de crescimento e demandas hídricas, o que permite otimizar a irrigação. Esse uso racional é bom para o agricultor e para os rios”, pontua.

Fonte: Aiba

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Líderes do Agro: De startup a gigante dos biológicos no Brasil
Fundo de investimento do agro cresce 147% nos últimos 12 meses
Peixe BR e associados conquistam suspensão de obrigatoriedade da atualização cadastral de aquicultores por 12 meses
Ações europeias caem após balanços decepcionantes
Objetivos do Brasil em debate técnico do G20 sobre tributação internacional foram alcançados, diz Rosito
Morre José Plínio Romanini, fundador do Grupo Vittia