Caso Igarashi: Investigações acontecem em meio à discussões sobre uso e cobrança da água
As investigações sobre a invasão na Fazenda Igarashi em Correntina, na Bahia, continuam acontecendo, porém, ainda sem nenhuma conclusão. Segundo o advogado do grupo, Marco Aurélio Naste, em entrevista ao Notícias Agrícolas, o processo ainda está no início da fase de inquérito. "Essa é a lei e é mesmo um processo lento", diz.
Ainda como explica Naste, há um reforço policial trabalhando no caso, para que as investigações ocorram com mais rapidez, de acordo com uma determinação da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Na empresa, o momento ainda é de avaliação dos prejuízos, os quais, já se sabe, chegam à casa dos R$ 50 milhões. "Até mesmo equipamentos de terceirizados foram depredados, comprometidos", explica o advogado. Dessa forma, as áreas irrigadas que já estavam semeadas terão, certamente, um potencial produtivo bem menor, já que a fazenda teve quase toda sua estrutura de irrigação destruída, sem possibilidade de recuperação ainda este ano e nem em 2018.
"A empresa não vai parar de trabalhar por causa disso, mas vai atuar nas suas áreas de sequeiro. E a colheita das áreas irrigadas deverá perder até 50% de sua produtividade, isso se o clima ajudar", explica Naste.
Imagem mostra o antes e o depois da invasão na Fazenda Igarashi, em 2 de novembro
Em meio a essas investigações, discussões paralelas sobre o uso da água na região e na agricultura de uma forma geral continuam acontecendo e preocupando o setor. A ANA (Agência Nacional das Águas) trabalha em uma proposta que que visa corrigir os valores cobrados pelo uso da água de acordo com a inflação, ou seja, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Uma nota da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) de 1º de novembro, porém, informa que a instituição conseguiu retirar o assunto da pauta da última reunião da agência, ocorrida em 31 de outubro. Uma nova reunião, no entanto, acontece em dezembro e as lideranças do agronegócio brasileiro já se movimentam para tentar barrar a medida.
Como explica na nora o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, essa é uma "metodologia é inviável e economicamente incompatível com a atividade rural". O especialista explica que uma medida como essa poderia onorar o produtor rural em até 90% seu custo de produção.
A seguir, veja a íntegra da nota do último dia 1º:
" CNA trabalha para evitar a indexação da cobrança pelo uso da água
Brasília (1º/11/2017) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) conseguiu retirar da pauta da reunião do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), na terça (31), o item que trata da indexação de preços da cobrança pelo uso da água.
A decisão beneficia produtores irrigantes e usuários de água, além de possibilitar que o assunto seja mais bem debatido e tenha embasamento jurídico a CNA espera que a proposta seja alterada em beneficio dos usuários. O tema pode voltar à pauta na próxima reunião do Conselho, em dezembro.
A proposta da Agência Nacional de Águas (ANA) é que os valores cobrados pelo uso da água sejam corrigidos pela inflação, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Caso haja a indexação, um produtor rural de Paracatu, em Minas Gerais, que paga atualmente R$ 4.710,00 por ano, vai passar a pagar R$ 7.938,00 pelo uso da água.
Para o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, essa metodologia é inviável e economicamente incompatível com a atividade rural.
“A CNA trabalha para que a proposta seja rejeitada no Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Indexar o preço do uso da água ao IPCA pode onerar em até 90% o custo de produção da atividade agropecuária”, destaca Ananias.
De acordo com o assessor técnico da CNA, Gustavo Goretti, a indexação é irregular e enfraquece o sistema de gerenciamento de recursos hídricos".
Já há uma cobrança prevista para o uso da água da bacia do rio Paranaíba para os irrigantes dos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal pelo volume utilizado neste ano.
Um aumento na indexação da água para o uso da água nesse caso poderia causar um impacto bastante severo na inflação, podendo aumentar - no caso da irrigação -, prejudicando não só produtores de grãos, mas também cadeias menores, como os hortifrutigranjeiros, por exemplo.
As tais discussões esbarram ainda em uma outra situação: nos rios cheios e transbordando na região de Correntina, na Bahia. As fotos abaixo são do último dia 14 de novembro e mostram o rio Arrojado na estrada que liga os municípios de Correntina e Jaborandi.