Aumento da oferta de látex no mercado mundial provoca queda de preços para produtores brasileiros
O procedimento de sangria da seringueira exige muita prática, habilidade e treinamento do profissional. Em Gaúcha do Norte (MG), produtores reclamam da falta mão de obra qualificada para fazer esse trabalho. Em Parapuã (SP), seringueiros afirmam que com a capacitação técnica, algumas árvores já estão com o ciclo produtivo de 50 anos.
As informações foram coletadas pelos técnicos do Projeto Campo Futuro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), na última semana. O projeto levantou os custos de produção da heveicultura (cultivo de seringueira), para gerar indicadores técnicos e econômicos e auxiliar os produtores na administração de gastos, preços de insumos e gerenciamento da propriedade.
De acordo com a assessora técnica da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA, Camila Braga, a equipe pôde perceber a diferença no cultivo de seringueira nas duas regiões visitadas. Em Gaúcha do Norte (MT), onde a produção vem crescendo ao longo dos anos, produtores reclamam da dificuldade de mão de obra capacitada para fazer a sangria na planta. “Esse procedimento é muito delicado. O corte deve ser preciso para permitir o escoamento natural do látex, caso contrário, pode ferir a planta e prejudicar a regeneração da casca”, explicou Camila.
A equipe identificou que na propriedade típica do município mato-grossense, a área com seringueira é de 15 hectares. Os seringueiros iniciam o processo de exploração da planta em aproximadamente sete anos ou mais e o ciclo produtivo dura 30 anos. O quilo do látex coagulado na região está em torno de R$ 2,25 (DRC 58% - conteúdo de borracha seca). “Com os preços baixos, os produtores têm dificuldade em fazer parcerias com o sangrador, mesmo oferecendo 50% da produção como forma de pagamento pelo trabalho”, destacou a assessora.
Uma das causas da queda de preços é o aumento da produção de látex nos países do Sudeste asiático e, consequentemente, da oferta no mercado mundial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção nacional brasileira de borracha natural (látex coagulado), em 2014, foi de 320 mil toneladas. São Paulo respondeu por 58% dessa produção, com 185 mil toneladas. Bahia produziu 48 mil toneladas e Mato Grosso, 27 mil.
Por ser o maior estado produtor de borracha natural, São Paulo investe em capacitação de mão de obra e técnicas de plantio. Em Parapuã (SP), município também visitado pelo Campo Futuro, os seringueiros afirmaram que alguns seringais estão em processo de exploração há 50 anos. O tempo médio de sangria observado nas regiões onde o projeto visitou é de 30 anos. É possível perceber, que “com o manejo correto, treinamento e habilidade do sangrador, a seringueira tem o ciclo de vida prolongado”, disse Camila.
Os painéis foram realizados no Sindicato Rural de Gaúcha do Norte (MT) e na Cooperativa Agrária de Cafeicultores do Sul de São Paulo (Casul), em Parapuã, com o apoio do Sindicato Rural.