Setor de armazenagem agrícola espera recuperação após mudanças em Brasília
Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de armazéns agrícolas deverá observar uma recuperação nas carteiras de pedidos a partir do segundo semestre, com uma melhora da confiança dos investidores brasileiros e uma crescente demanda imposta por consecutivas safras recordes no país, disse à Reuters um importante executivo do setor. "O segundo semestre tende a ser melhor que o primeiro. Colocando-se confiança na economia, acredita-se que teremos retomadas dos pedidos já a partir do mês de julho... e 2017 só tem como ser melhor que 2016", afirmou Olivier Colas, vice-presidente da Kepler Weber, líder no mercado brasileiro de armazenagem de grãos.
O setor de fabricação e instalação de silos vivenciou anos de ouro no início desta década, quando linhas de crédito do governo ofereceram recursos fartos e baratos para investimentos neste tipo de infraestrutura, ainda escassa no país que é um dos maiores produtores e exportadores globais de grãos. Contudo, a partir de 2015, com o aperto da política econômica, os financiamentos estatais subsidiados minguaram e tornaram-se mais caros, com impacto direto nas contratações de novas estruturas.
A aposta de Colas é que a mudança no governo federal, com uma nova equipe econômica, dê ânimo para os investimentos privados, ainda que as linhas oficiais de crédito não sofram grandes alterações. "Tem dinheiro na iniciativa privada, não é que (o setor) precisa exclusivamente do financiamento público. As condições já são muito melhores do que alguns dias atrás", analisou o executivo. "Tenho que olhar muito mais pra frente... Nos próximos 3 anos vamos voltar a patamares saudáveis, embora abaixo de 2013 e 2014."
Na semana passada, a Kepler Weber divulgou seu balanço do primeiro trimestre, com resultados negativos. A empresa teve prejuízo líquido de 5,7 milhões de reais, como reflexo da queda no faturamento, devido à baixa liquidez da carteira de pedidos. A receita líquida da divisão de armazenagem caiu 13,5 por cento na comparação com o primeiro trimestre de 2015, sendo que a receita líquida da companhia no período só subiu porque teve um impulso da divisão de exportações.
O otimismo de Colas com o futuro deve-se também à posição inabalável do Brasil como grande produtor e exportador de commodities agrícolas. O país está colhendo em 2015/16, pela segunda temporada consecutiva, uma safra de grãos no patamar histórico de mais de 200 milhões de toneladas.
"O primeiro trimestre de 2016 é (o fundo de) um vale. Não é possível ter um nível de atividade tão baixo num país que é o celeiro do mundo", ponderou. Outra expectativa quanto à nova administração federal é que ela consiga fazer deslanchar investimentos em portos, ferrovias e rodovias. "Concessões nos interessam. Quando aumenta o número de estrada e ferrovias, isso aumenta o potencial para construção de novos armazéns ao longo desses eixos de escoamento", afirmou o executivo.