ARCHER: Real e Macro puxam o Café: Açúcar precisa de reação do fisico

Publicado em 04/03/2016 17:40 e atualizado em 06/03/2016 09:04
POR *Rodrigo Corrêa da Costa (que escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting), e Arnaldo Luiz Correa, diretor da Archer.

MERCADO DE CAFÉ: 

REAL BRASILEIRO E MACRO FORTALECEM E PUXAM O CAFÉ

O banco central chinês diminuiu o depósito compulsório dos grandes bancos do país injetando o equivalente a US$ 105 bilhões na economia e como resultado acabou acalmando os investidores. Nem mesmo a revisão negativa da agência Moody’s para a nota de crédito da China assustou e o premiê Li Keqiang acabou de anunciar seu plano de manter o crescimento de ao menos 6.5% ao ano para atingir o objetivo de dobrar a renda per capita de sua economia – a moeda que se cuide.

Na reunião do G-20 repetiram-se os discursos do compromisso de novos estímulos para o crescimento mundial. Índices de produção de manufaturados das principais economias dão sinais de alerta para uma retomada de aumento do PIB mundial e o Brasil neste campo não para de decepcionar com a confirmação da retração econômica em 2015 em 3.8% negativos.

Nos Estados Unidos a criação de postos de trabalhos em Janeiro foi melhor do que esperada, mas o incremento da renda decepcionou dando fôlego para as bolsas de ações fecharem em altas entre 2% e 5.5% nos dois lados do Atlântico. Destaque mesmo foi da BOVESPA que em cinco dias teve um rally de 18% empurrada pela delação de um senador do PT e pela condução de depoimento coercitiva de Lula levando o Real ao mais alto patamar desde setembro de 2015, R$ 3.6559 contra o dólar.

Com este pano de fundo benevolente dezessete das vinte matérias-primas que compõe o CRB subiram – exceção ao suco de laranja, o gado e o gás natural. O contrato de arábica listado pela ICE não fez uma nova mínima na terça-feira por um capricho, ou US$ 0.10 centavos por libra-peso, na sequência recuperando ajudado também por novas posições de fundos que encontraram compras de comerciais – conforme vimos no COT.

A subida do terminal não permitiu a abertura dos diferencias nas origens em função das moedas locais terem fortalecido mantendo um fraco fluxo no físico. Por outro lado a demanda tépida assusta os exportadores e dealers que querem vender café, fazendo muitos participantes ficarem negativos e pouco otimistas com uma sustentação dos preços da bolsa. É natural o psicológico dos produtores, exportadores e traders estar abalado depois de tantas tentativas frustradas de alta de Nova Iorque – para quem gosta de indicadores contrários pode ser um prato cheio.

As chuvas teimam em normalizar no norte do Espírito Santo e em regiões da Colômbia que floraram. Não custa lembra o que tenho dito em minhas palestras, que praticamente apenas três países no mundo tem um potencial de incremento de produção e o clima, no caso de Brasil e Colômbia, e a moeda para o Vietnã, limitam no o aumento da oferta, ao passo que o consumo cresce 1.5% ao ano, no mínimo.

A Exportadora de Café de Guaxupé soltou sua estimativa da safra de 2016/2017 prevendo uma colheita de 55.5 milhões de sacas, dividida entre 42.5 milhões de arábica e 13 milhões de conilon. O número é superior aos 50 milhões colhidos no ciclo atual (35 de arábica e 15 de conilon) – segundo a empresa – e  está em linha com a percepção do mercado – o que em minha opinião é positivo para os preços e só não ajuda os terminais se o dólar não permitir.

Sazonalmente estamos no período do pico da entressafra e os compradores internacionais mantém suas apostas de um melhor momento no futuro para comprar diferenciais mais atrativos, dada a safra brasileira maior do que a anterior. É compreensível a estratégia pois estender a cobertura de futuros soa mais razoável já que se tudo der errado o basis não firmará mais do que uns US$ 10 centavos por libra, ou basicamente o movimento de três dias vistos nesta semana do contrato “C”.

Difícil crer que o Real vai conseguir segurar a valorização desta semana, já que nem um milagre consegue resolver os problemas do Brasil no curto e médio prazo. Mesmo assim o interesse de venda dos produtores fica mais distante, eventualmente dando espaço para o mercado stopar as novas posições vendedoras dos fundos e eventualmente forçar a cobertura de vendas daqueles que agora mais do que nunca acham uma “excelente” oportunidade entrar short acima de US$ 120 centavos por libra.

Tecnicamente a semana fechou muito bem, mas precisa de sequência para atrair mais compradores. Eu mantenho meu tom mais positivo para os preços em função do fundamento dar muito mais oportunidades de ganhos em uma alta do que em uma baixa dos atuais patamares – no médio e longo prazo – entretanto no longo-prazo todos estaremos mortos, não é?

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Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,

Rodrigo Costa*

 

MERCADO DE AÇÚCAR: 

ALTA DE PREÇOS NO FUTURO PRECISA DE REAÇÃO NO FÍSICO PARA SE CONSOLIDAR

 

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana em espetacular alta motivada por uma releitura dos fundamentos que permeiam a commodity. As chuvas que atingem as regiões produtoras acenderam uma luz amarela alertando que pode haver atraso no inicio da moagem da safra 2016/2017 e a produção de açúcar no Centro-Sul pode não ser aquela que o mercado tem trabalhado.

Antes de os produtores se entusiasmarem pela recente trajetória altista dos preços é necessário que observem dois pontos importantes que precisam ocorrer para que o mercado físico de açúcar corresponda de maneira satisfatória às expectativas que estão refletidas no mercado futuro. O primeiro é o comportamento do spread maio/julho e julho/outubro: quanto mais fortalecidos os spreads se comportarem maior é a indicação de que as tradings se preocupam com uma eventual falta de disponibilidade de açúcar para abril e maio e compram os spreads para tentar lucrar no papel ou trazem seus hedges dos meses com vencimentos mais longos para os vencimentos mais curtos e lucrarem com isso. Segundo, é observar o comportamento dos prêmios/descontos no físico (açúcar para embarque em abril/maio/junho). A melhora do prêmio/desconto indica que o comprador final está preocupado com o atraso da safra e paga mais para não correr o risco de desabastecimento. Se esses dois componentes andarem nessa direção, a tendência do mercado futuro e potencializar isso.

Os fundos voltaram a ficar comprados em cerca de 70-75 mil lotes. Parece-me que quando o mercado chegou aos 12-13 centavos de dólar por libra-peso alguém deve ter apontado os lápis e calculado que o potencial de cada a partir daquele nível era infinitamente menor se comparado com o potencial de alta.

As valorizações do real e do petróleo na semana acabam tendo efeito neutro na formação de preço da gasolina. Como o preço médio do combustível na bomba, com base em 100 países, está em US$ 0.95 por litro, o preço de equilíbrio do hidratado na bomba, usando esse parâmetro seria de R$ 2.3265 por litro, abaixo do preço atual. Evidente que isso pode exercer pressão para que as usinas priorizem a produção de açúcar.

Para o mercado FOB do açúcar, a valorização do real, no entanto, pode fazer com que as usinas se retraiam para a venda de novos contratos comerciais. Baseando-se no fechamento de sexta-feira, o vencimento maio, encerrado a 14.83 centavos de dólar por libra-peso com o dólar a 3.7610 representa uma fixação do açúcar para aquela data de R$ 1.279 por tonelada, ou seja, praticamente o mesmo preço da semana anterior com dólar a R$ 3.990 e com NY quase 100 pontos mais barato. Ou seja, podemos esperar a volta da correlação negativa se o real continuar a se valorizar frente à moeda americana? Se voltar para 3.5000 NY pode ir para 16 centavos de dólar por libra-peso?

Falando um pouco da estimativa de safra 2016/2017, a estimativa da Archer é de 618.5 milhões de toneladas no Centro-Sul, divididas entre 34.3 milhões de toneladas de açúcar e 27.5 bilhões de litros de etanol. Essa quantidade de cana é aproximadamente 3% maior do que aquela moída na safra passada. No entanto, quando falamos de ATR (açúcares totais recuperáveis) este será o quarto ano seguido de menor produção de ATR: 83 milhões de toneladas, contra 84 milhões na safra passada, 86.7 milhões de toneladas na 2014/2015 e 87.4 milhões de toneladas na 2013/2014.

Para um produtor que vai precisar aumentar a produção de cana em 100 milhões de toneladas para os próximos cinco anos, esse número preocupa e torna evidente que os próximos anos do mercado de açúcar deverão ser extremamente voláteis e sujeitos à extrema oscilação de preços em função de um evidente desequilíbrio entre a produção e consumo mundiais, que crescem ao ritmo de 1.8% e 2.2% respectivamente, sobremaneira com a condição do Brasil que não vê incremento substancial em seus canaviais.

O Brasil viveu um dia de glória ao assistir o ex-presidente Lula sendo coercitivamente levado pela Policia Federal para prestar depoimentos. A novela está longe de terminar, mas aproxima-se o dia D para que essa organização criminosa (usando o termo de um dos membros da Suprema Corte) travestida de partido político sair de cena e ter seus responsáveis atrás das grades.

As inscrições para o XXV Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos em Commodities Agrícolas estão abertas. O curso ocorre nos dias 29, 30 e 31 de março em São Paulo, das 09 às 17 horas. Para mais informações mande uma mensagem para priscilla@archerconsulting.com.br

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Tenham todos um excelente final de semana.

Arnaldo Luiz Corrêa

Fonte: Archer Consulting

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