Mercado de fertilizantes do Brasil terá dificuldade para crescer em 2016, diz Yara

Publicado em 15/02/2016 06:13

A recuperação das vendas de fertilizantes no país não deverá ocorrer no curto prazo, após uma retração em 2015, com as dificuldades dos produtores em obter crédito limitando eventuais ganhos com o crescimento da safra de grãos, disse nesta sexta-feira um dos vice-presidentes globais norueguesa Yara, maior empresa de fertilizantes do Brasil.

"Trabalhamos de forma conservadora... Nos preparamos para um mercado semelhante ao do ano passado", disse à Reuters Lair Hanzen, que comanda as operações da Yara no Brasil, empresa que detém cerca de 25 por cento do mercado nacional.

A entrega total de fertilizantes aos produtores rurais brasileiros recuou em 2015, para 30,2 milhões de toneladas, abaixo do volume recorde de 32,2 milhões de toneladas de 2014, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

Hanzen evitou citar números em sua projeção, mas descartou uma forte recuperação ao longo deste ano, quando serão feitas as vendas para a safra 2016/17 de soja, a principal cultura do país.

"Vemos uma situação de equilíbrio, tem fatores positivos e outros que puxam (as vendas) para baixo", afirmou o executivo.

Ele apontou dificuldades para obtenção de financiamento barato pelos agricultores, um quadro que começou em 2015 devido aos ajustes nas políticas econômicas do governo federal. "Estruturalmente tem um grande desafio de curto prazo (o financiamento), que eventualmente vai se resolver. Mas não sei se resolve-se logo", disse ele.

Embora ele veja a agricultura como um dos poucos setores do país que continuam crescendo, admite que algumas regiões e agricultores poderão "sofrer mais" para obter crédito em um cenário de aversão a risco dentro dos bancos.

O fator que pode eventualmente garantir um aumento marginal nas vendas é a necessidade dos produtores em recuperar a qualidade dos nutrientes no solo, após uma expansão de safra em 2015/16 combinada com menor uso de fertilizantes.

"O produtor construiu uma pequena poupança de nutrientes no solo (que foi utilizada na última temporada)... Essa lógica pode ser usada num ano, mas ela não é sustentável", afirmou o executivo.

Para o médio e o longo prazos, há sinais de otimismo para o setor agrícola.

"Acreditamos que o mercado de fertilizantes vai começar uma retomada. A lógica de produção continua forte, o mundo continua demandando comida", completou.

INVESTIMENTOS

A visão positiva para o negócio de fertilizantes no Brasil se traduz numa mudança anunciada esta semana na sede da Yara em Oslo, na qual a unidade brasileira foi alçada à categoria de vice-presidência, respondendo diretamente ao CEO global.

Os negócios no país respondem por um terço dos volumes movimentados pela Yara ao redor do planeta.

"Com a posição que temos hoje no mercado, precisamos construir uma unidade nova (de distribuição) a cada um ou dois anos (para manter crescimento orgânico)", avaliou Hanzen.

Após garantir forte presença no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, o foco da empresa está agora na expansão no Centro-Oeste e Norte, revelou o executivo.

"Estamos concluindo unidade em Rondonópolis (MT), que entra em operação na metade do ano... O Brasil também está crescendo bastante no corredor Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Nossas próximas expansões, com crescimento orgânico, vão ser nessas regiões", disse ele.

Outra atenção da Yara está nas operações pelos novos corredores do Norte do país, que têm nos portos de São Luís (MA) e Barcarena, na região metropolitana da Belém (PA), seus principais pontos de saída de grãos e importação de fertilizantes nessa região.

"Esses seriam os típicos locais onde se fariam as próximas unidades de distribuição", projetou o executivo.

A Yara também não descarta fazer aquisições no Brasil, se oportunidades surgirem, mas o executivo evitou dar detalhes.

Um dos negócios mais importantes da história recente da companhia foi a aquisição da unidade de distribuição de fertilizantes da gigante multinacional Bunge no Brasil, concluída em 2013.

Fonte: Reuters

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