O desastre da 4a.-feira - petróleo desaba e commodities agrícolas despencam (e no café, concorrência cresce)
Commodities agrícolas acompanham petróleo e despencam nesta 4a.-feira
Por MAURO ZAFALON (na coluna vaievem das commodities, FOLHA DE S. PAULO)
As commodities agrícolas, que já vinham sofrendo forte redução de preços devido a um acerto entre oferta e demanda nas últimas safras, tiveram um novo choque nesta quarta (20).
Levadas ladeira abaixo pelo petróleo, cujos preços recuaram para os menores preços em 13 anos, as commodities agrícolas tiveram reduções superiores a 4%.
Todos os principais itens da pauta de exportação do país nesse segmento caíram.
Se esse cenário de terra arrasada persistir, os efeitos sobre a balança comercial brasileira, que tem grande presença dos produtos básicos, será intenso.
Nesta quarta-feira, a soja, o carro-chefe das exportações do Brasil, e negociada em Chicago, recuou para US$ 8,74 por bushel (27,2 quilos). Esses preços são 11% inferiores aos de há um ano.
Mas as principais quedas ocorreram em Nova York. Cacau e suco de laranja tiveram quedas acima de 4%, enquanto o açúcar, mesmo com as estimativas de oferta menor do produto em relação ao consumo mundial, caiu 3,9%
Outro produto que teve acentuada queda foi o café. Além da influência do cenário internacional essa queda foi auxiliada pela divulgação, pela Conab, de uma safra recorde no Brasil.
Se as commodities agrícolas mantiverem esse ritmo intenso de queda, nem mesmo o dólar vai salvar a renda dos produtores brasileiros.
Atualmente, mesmo com a queda dos preços externos, a conversão dos preços em dólar para o real, enfraquecido, tem garantido a renda aos produtores.
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Safra de café pode ser recorde, mas concorrência externa cresce
O Brasil pode atingir recorde de produção de café neste ano, com o volume ficando entre 49,1 milhões e 51,9 milhões de sacas. Se confirmada a estimativa maior, a produção supera o recorde de até então, que é de 50,8 milhões de sacas em 2012. No ano passado, foram produzidos 43,2 milhões de sacas.
Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que fez a coleta dos dados de novembro a dezembro. Em geral, as estimativas de produção da Conab apontam volumes menores do que as do mercado.
O aumento de produção ocorre devido às expectativas de um clima mais favorável em relação ao dos últimos anos, quando a seca provocou queda na produtividade.
A evolução da produção brasileira poderá ser de 14% no ano, se ficar no menor volume estimado pela Conab, a 20%, se atingir o teto previsto.
CONCORRÊNCIA
A possível produção recorde do Brasil ocorre em um período de retorno ao mercado, e com força, de grandes competidores, como Colômbia e Vietnã.
Os colombianos, após vários anos renovando o cafezal, período em que a safra recuou para um volume próximo de 8 milhões de sacas por ano, produziram 13,1 milhões de sacas no ano passado.
As exportações do país, que somaram 11,5 milhões de sacas até novembro, devem fechar o ano com volume acima de 12,5 milhões de sacas.
O Vietnã, líder mundial no café robusta, também teve forte evolução na produção nos últimos anos, que já atinge 27,5 milhões de sacas. As exportações, também crescentes, somaram 25 milhões de sacas em 2013/14, segundo o OIC (Organização Internacional do Café).
O Brasil, que teve exportações recordes de 37,5 milhões de sacas no ano passado, deverá encontrar uma concorrência maior neste ano no mercado externo.
A produção mundial de café foi de 143,4 milhões de sacas na safra 2015/16, com evolução de 1,4% ante a anterior. O consumo mundial, segundo o OIC, foi de 149,8 milhões em 2014, com os estoques mundiais somando 23 milhões de sacas em 2014/15.
Enquanto o consumo brasileiro cresce 1% ao ano, somando 20,5 milhões de sacas, a média mundial é de 2,4%. Nos mercados tradicionais, a evolução é de 1,8%.
CUSTOS
Mas os produtores deverão conviver com custos internos maiores, vindos principalmente de insumos e recuo nos preços externos.
Como as demais commodities, o café também mantêm queda de preços nas negociações externas. Neste mês, as exportações estão sendo feitas, em média a US$ 145 por saca, 28% abaixo dos US$ 200 de janeiro de 2015, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Resta a esperança da manutenção dos preços em reais devido à valorização do dólar.
O espaço dedicado ao café é de 2,25 milhões de hectares no Brasil, com 88% dessa área em produção. Já na Colômbia, a área é de 950 mil hectares, ante 878 mil em 2008.
O café tipo arábica, produto do qual Brasil e Colômbia são líderes na produção, participa com 60% do mercado mundial, somando 84,3 milhões de sacas, segundo a OIC.
As estimativas de produção, consumo e estoques de café são sempre controversas. O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estimou, por exemplo, que a produção brasileira foi de 49,4 milhões de sacas no ano passado. O Vietnã obteve 29,3 milhões de sacas; a Colômbia, 13,4 milhões; e a Indonésia, 10,6 milhões.
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