Bolsas da China voltam a cair, mas mercado de grãos desta vez não é afetado

Publicado em 11/01/2016 08:59

As bolsas chinesas, nesta segunda-feira (11), voltaram e recuar e fecharam com os mais baixos níveis desde o último setembro. Segundo especialistas ouvidos pela agência de notícias Reuters, os fracos dados sobre a inflação e a ainda presente preocupação dos investidores em relação à economia do país. 

No ano, o índice acionário chinês CSI300 já acumula uma queda de 14% e os números, portanto, seguem chamando atenção do mercado financeiro internacional. Em contrapartida, o Banco Central do país determinou um aumento na taxa referencial do yuan pela segunda vez consecutiva em 2016 e surpreendeu o mercado. 

No entanto, entre as commodities agrícolas, o impacto ainda tem sido bastante limitado. O mercado internacional de grãos, na Bolsa de Chicago, tem tanto os futuros da soja quanto os de milho atuando com estabilidade e dando mais força aos ajustes promovido pelos traders antes da chegada dos novos números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta terça-feira (12).

Segundo explicam analistas, resultado disto é o consumo de alimentos no país asiático mantendo seu ritmo de crescimento, de acordoo com o que mostram as expectativas. "O setor de alimentos é o último a ser atingido", diz Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting. Atualmente, projeções dão conta de que a demanda por comida na China supera, anualmente, 2% a produção agropecuária local. Os futuros da soja, por volta das 9h40 (horário de Brasília), perdiam entre 1,50 e 3 pontos. 

E mais. Para o economista Roberto Dumas Damas, a China não está em crise, como acreditam outros especialistas. Em entrevista ao site Infomoney, Damas afirma que o que acontece, neste momento, é uma reestruturação do modelo de economia do país. "Não é um descontrole, é uma política pública deliberada de fazer o investimento crescer menos que o consumo", explica.

Segundo informou a Agrinvest Commodities, ainda nesta segunda, no mercado doméstico da China os preços chamados "ex-works fábricas" subiram de forma expressiva e generalizada. "A alta de ingredientes de rações está ligada ao aumento de estoques de alimentos a fim de atender maior consumo sazonal ligado ao feriado nacional em fevereiro, quando milhões de pessoas viajam para suas províncias de origem", explicaram os analistas da consultoria.

Ainda de acordo com a Agrinvest, os estoques de soja nos portos chineses neste início de ano - de 7 milhões de toneladas - também estão maiores do que o registrado no mesmo período de 2015 - 5,5 milhões de toneladas. "O forte carregamento de soja dos EUA tem mantido os estoques elevados. Até a semana do dia 31, importadores chineses já embarcaram 18,8 milhões de toneladas, contra 20,8 milhões um ano antes", completam analistas. 

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>> China não está em crise, diz economista; mercado não entendeu ou está se aproveitando disso

Importações de soja da China devem crescer 2% no ano comercial 2015/16

A China, maior consumidor e importador mundial de alimentos, deverá continuar aumentando suas importações agora em 2016 e nos próximos anos. Um levantamento do governo local divulgado nesta sexta-feira (2) fala em um incremento de 2 milhões de toneladas nas compras de soja do ano comercial 2015/16, levando o volume a chegar aos 80 milhões de toneladas, ou 2,1% a mais do que o total da temporada anterior. Assim, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estima que, no ano comercial iniciado em setembro de 2015, a China será responsável por 64% das importações de soja do mundo. 

Ainda de acordo com as informações oficiais, a demanda maior pela oleaginosa no processamento se mostrou maior do que as expectativas, impulsionada, principalmente pelo elevado consumo do farelo. O CNGOIC (Centro Nacional de Informações Sobre Grãos e Óleos da China) informou que, na temporada anterior, as compras de soja foram de 78,36 milhões de toneladas. 

"Todos os mapas de crescimento da China estão mostrando que, nos próximos anos, o país deva crescer cerca de 6% ao ano, mas quando se olha para a demanda de alimentos, nos próximos 7 a 8 anos, se fala de um crescimento de 7%/ano. A demanda chinesa por alimentos vai nos proporcionar grandes oportunidades no Brasil. (...) A China crescendo 7% na demanda de alimentos é um crescimento extremamente forte. E há ainda todo o Sul e Sudeste da Ásia, que também prometem crescimentos fortes. Lembro também que com o petróleo mais barato, de novo, sobra dinheiro para a compra de alimentos",  acredita Ênio Fernandes, consultor em agronegócios. 

O país é detentor do maior plantel de suínos do globo e projeta expansões. Ainda assim, paralelamente, já se estima ainda um aumento também das importações chinesas de carne suína agora em 2016. E o incremento autorizado pelo governo para as importações não se restringe somente à carne de porco, mas passa pela de frango, bovina e até mesmo peixes.  

Pesquisas mostram que cerca de 300 milhões de pessoas no país asiático já migraram para a classe média, com esse número previsto para alcançar os 500 milhões, o que significa uma melhora na dieta e, consequentemente, um consumo maior de itens como a proteína animal, ovos, leite e derivados. E, atualmente, o déficit na oferta de carnes é de, aproximadamente, 800 mil toneladas. 

Um estudo feito pela agência internacional de notícias Bloomberg mostrou, portanto, que a China parece ter "abandonado" a meta de se tornar auto-suficiente na alimentação de suínos, aves e gado dada a crescente demanda por carnes. "A China é capaz de fazer qualquer coisa que coloque como meta, mas não consegue fazer tudo, disse Gary Blumenthal, executivo-chefe da consultoria agrícola global World Perspectives Inc. "Eles não têm terras agricultáveis para produzirem tudo o que precisam, assim, na alimentação animal se aceita ainda mais a dependência das importações", completa.  

E o programa de segurança alimentar da China não tem "prazo de validade". O governo, que tem essa como uma questão de prioridade, segue aumentando seus estoques de alguns dos mais importantes e fundamentais produtos alimentares como parte dessa política. Nesse quadro, e com a classe média em ascensão, o consumo de alimentos na China tem previsão de ultrapassar sua produção agrícola nacional em mais de 2% ao ano entre 2015 e 2020. 

A economia da China começa 2016 como terminou os últimos anos: no foco dos investidores, dos traders, da grande mídia nacional e internacional e, principalmente, dos participantes do agronegócio global. O país, afinal, continua sendo o maior consumidor e importador mundial de alimentos e, apesar de algumas análises divergentes, deve se manter nessa posição. 

Na primeira sessão do ano novo, as bolsas chinesas caíram ao limite, perderam 7% e acionaram o mecanismo chamado de "circuit breaker", o qual interrompe os negócios. O primeiro impacto foi de pânico, porém, dias depois, o governo chinês anunciou a suspensão do mesmo com o objetivo de trazer algum otimismo aos mercados. E parece ter dado certo. 

A palavra crise para se referir a economia chinesa se tornou bastante comum, porém, em entrevista ao site Infomoney, o economista Roberto Dumas Damas afirma que não é esse o caso. Nas últimas décadas, o país chegou a registrar crescimentos bastante fortes, na casa dos 10%, focado no aumento de suas exportações e sustentada ainda pelo investimento do governo em infraestrutura e industrialização, ainda segundo explica o Infomoney.  "A China não quer crescer menos, ela precisa dar mais renda para a população tirando dinheiro da produção industrial. Ela está retrocedendo o subsídio que o povo deu aos produtores nos últimos anos", completa Damas.  

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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