Rabobank reforça influência do dólar nos preços das commodities agrícolas
O banco internacional Rabobank reportou, nesta semana, o boletim Rabobank Agro Info trazendo suas projeções para o último trimestre de 2015 nos principais mercados. O maior destaque da instituição é o andamento da taxa cambial e sua influência entre os principais itens do agronegócio brasileiro. Ainda segundo o relatório, esse fortalecimento contínuo do dólar deve tirar a força dos produtos norte-americanos frente a seus concorrentes e o impacto entre as commodities agrícolas deve ser diferente. O cenário, portanto, deverá exigir dos produtores uma eficiência ainda maior de produtividade.
Como mostrou uma avaliação do site internacional Farm Futures, esse declínio esperado para os preços das commodities em função da movimentação da moeda americana deve aliviar as margens para seus compradores ou os consumidores finais, além de criar um ambiente de preços ainda mais competitivo.
"As mudanças nos valores da moeda tem variado os impactos por commodity, por país, bem como suas implicações sobre os fluxos de produção, comércio e investimento. Enquanto o dólar dos EUA subiu, o oposto aconteceu com as moedas de seus principais concorrentes agrícolas, como o real no Brasil, o peso na Argentina, a grívnia da Ucrânia e o rublo da Rússia", explicou Steve Nicholson, autor do relatório e analista sênior do Rabobank.
No Brasil, a forte escalada do dólar foi iniciada em julho, motivada, principalmente, pelas turbulências acerca dos desdobramentos políticos e econômicos do país. Os acontecimentos internacionais - especialmente a saúde da economia da China e o futuro da taxa de juros nos Estados Unidos - também são acompanhados de perto pelos investidores.
Assim, do início de julho até o último dia 7 de outubro, sua valorização é de 24,30%. Nas últimas sessões, a moeda testou algumas mínimas, voltou ao intervalo de R$ 3,80 e R$ 3,90, porém, segue instável e muito volátil.
Soja
O banco projeta a sazonalidade mantendo os preços mais pressionados para a soja neste quarto trimestre do ano, porém, espera ainda que os produtores brasileiros "continuem encontrando amparo no câmbio".
O peso do dólar na formação das cotações da soja no Brasil levou os produtores a comercializarem antecipadamente 40% da safra 2015/16, o segundo maior volume da história, como mostrou um levantamento feito pela França Junior Consultoria.
E ainda segundo Nicholson, apesar de os valores internacionais da oleaginosa estarem menores do que nos últimos anos, a variação cambial compensa esses patamares e "e os produtores brasileiros respondem ao movimento ainda ampliando sua área plantada".
Por outro lado, a relação não tem o mesmo reflexo favorável para o produtor argentino, que ainda passa por um momento mais parecido com o vivido pelo agricultor norte-americano, como explica o analista. Afinal, na conta final do sojicultor da Argentina entram as chamadas retenciones, ou seja, o imposto de 35% sobre as exportações de soja do país.
Milho
Já para o milho, o reporte mostra que as vendas da safra brasileira vêm animando os produtores, mesmo com um período de pressão sobre os preços na Bolsa de Chicago.
Por conta do suporte trazido pela alta do dólar, o destaque do mercado brasileiro nos últimos meses foi a comercialização da safrinha 2016. O volume já comprometido da segunda safra do ano que vem já chega a 10 milhões de toneladas, com negócios recentes feitos nos patamares de R$ 39,00 a R$ 40,00 por saca no porto de Paranaguá para entregas de agosto a outubro, como relatou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Outros países produtores e exportadores do cereal, como a Rússia e a Ucrânia, também se beneficiaram com o quadro atual. Afinal, ainda de acordo com informações do portal Farm Futures, de agosto de 2014 a agosto de 2015, tanto a grívnia ucraniana como o rublo russo se desvalorizaram 80% frente ao dólar americano, o que resultou em um expressivo aumento das exportações em ambos os países, bem como uma retomada dos preços em seus mercado internos. Na sequência, porém, foram tomadas medidas de políticas restritivas para as vendas externas nas duas nações.
Por outro lado, embora o dólar alto possa ser um fator de pressão severa sobre os produtos dos Estados Unidos, no mercado americano de milho o reflexo deve ser limitado, segundo espera o Rabobank. A projeção se justifica pela pequena correlação entre o volume exportado de milho pelos EUA e o Dólar Index.
Além disso, o mercado norte-americano de milho com uma grande e consistência demanda interna devido à utilização do grão na produção de etanol. Entretanto, ainda de acordo com o executivo do Rabobank, há de se ter atenção a esse cenário, uma vez que a produção do combustível está estagnada e os produtores norte-americanos terão que brigar por garantir e ampliar seu espaço no mercado internacional.
O movimento é contrário ao que acontece no mercado do trigo, por exemplo, onde a alta da divisa norte-americana coloca cada vez mais pressão sobre os preços, além de reduzir a competitividade.
Café
Para o café, o Rabobank afirma que os principais direcionadores para as cotações neste período de outubro a dezembro deverão ser a florada brasileira e a volatilidade do câmbio. Entretanto, a alta do dólar no Brasil acaba sendo um fator limitante para as cotações no mercado internacional e a formação final dos preços para o produtor brasileiro acaba prejudicada.
"Deveria acontecer essa proporcionalidade no mercado do café, mas na prática isso não existe. Essa melhoria do dólar em relação ao real deveria ajudar nas cotações externas e ser passada para o produtor porque o lado de lá se mostra mais forte no curto prazo. Por outro lado, os operadores verificam que o comércio aqui acaba aceitando menores preços pela necessidade de caixa, eles também olham os dados de exportações e acreditam que há boa produção", explica Sérgio Carvalhaes, analista de mercado do Escritório Carvalhaes.
Açúcar, etanol, suco de laranja e algodão
No caso do açúcar, se espera estabilidade nos preços internacionais, ao passo em que a entressafra pode trazer um aumento nas cotações do etanol.
O Rabobank traz ainda suas perspectivas para o mercado do algodão e a projeção de uma redução na produção dos Estados Unidos. Diante dessas cotações menores na Bolsa de Nova York, os produtores americanos acabaram optando por retrair sua área de cultivo.
No caso do suco de laranja, o banco também destaca a questão cambial como motivador das exportações e melhores perspectivas para a safra 2015/16.
Boi e leite
No mercado de boi, nesses últimos três meses do ano o destaque deverá ser a melhora nas exportações brasileiras de carne bovina em decorrência, principalmente, da ainda presente depreciação do real.
Em setembro, segundo mostraram dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), os resultados das exportações brasileiras de carne bovina apresentaram uma melhora, com alta de 7,5% no volume em relação ao mês anterior e de 11,3% se comparada ao mesmo mês de 2014. Por outro lado, de janeiro a setembro deste ano foram embarcados 766,6 milhões de toneladas, 19,4% abaixo que 2014, quando os embarques totalizaram 915,4 milhões de toneladas.
Ao mesmo tempo, no entanto, o saldo da receita, no mesmo período, é positivo. No acumulado de setembro foram embarcados US$ 436,9 milhões, resultado 3,7% maior que em 2014 e 8,1% superior ao mês anterior. A média diária de US$ 20,8 milhões mostrou um bom desempenho das exportações neste mês, que vêm abaixo das expectativas desde o inicio do ano.
Por outro lado, no mercado do leite, preços menores são esperados, podendo pressionar as margens do produtor.
Fertilizantes e investimentos
O destaque do Rabobank para o setor de fertilizantes neste último boletim ainda é para a entrega dos produtos, que seguem abaixo do volume registrado no mesmo período de 2014.
De acordo com o último boletim da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), as entregas caíram 0,5% para 3,59 milhões de toneladas em agosto. No acumulado até o mesmo mês, as vendas brasileiras apresentaram um recuo de 6,4% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
"Os preços dos fertilizantes seguem em alta no Brasil. Mesmo com as cotações internacionais em queda, a forte desvalorização do real frente ao dólar tem elevado as cotações do adubo no mercado interno", informou o boletim do banco. Passado esse momento, os produtores, ainda de acordo com as perspectivas do Rabobank, devem se voltar às aquisições de insumos para a safrinha de milho do próximo ano.