Crédito agrícola: “Nada mais justo do que ouvir o choro. Ninguém chora sem motivo”, diz Kátia Abreu
Após entidades agrícolas alegarem dificuldade na hora de tomar o empréstimo nas agências bancárias, o Ministério da Agricultura promoveu reunião com entidades do agronegócio e representantes de bancos públicos e privados, nesta terça-feira, em Brasília, visando dar mais agilidade nos contratos de crédito.
-- “Quando uma luz amarela acende, temos obrigação de chamar os atores e ouvir todos os envolvidos, porque o mais difícil nós temos, que é o dinheiro e encontrar quem quer correr risco, que são os produtores. Então, este meio de campo tem que ser desembolado”, disse ministra Kátia Abreu.
Entre as reclamações apresentadas pelos produtores, está o aumento das exigências dos bancos na hora de contratar financiamento, inclusive com garantia real. Além disso, há queixas sobre venda casada e sobre “mix” de taxas, quando há mistura entre recursos controlados e crédito livre.
“Nada mais justo do que ouvir o choro. Ninguém chora sem motivo”, afirmou a ministra ao fim da reunião. “Mas estamos passando por uma crise na China e por ajustes sérios na nossa economia. Todo o mercado, obviamente, se sensibiliza. Então é normal que os bancos, temorosos com os riscos, fiquem mais exigentes e preocupados. Mas não é nenhuma dificuldade incontornável”, completou
A ministra marcou para daqui um mês nova reunião a fim de avaliar a evolução das contratações. “Tenho certeza que a realidade em agosto estará melhor”, disse. “Apesar do preço das commodities terem caído, estamos vendendo nossos produtos, abrindo nossos mercados”.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Tarcísio Godoy, afirmou que a agropecuária “só tem trazido alegrias” para a economia brasileira e que o governo federal tem considerado o bom desempenho do setor na hora de dotar recursos. O volume destinado para a safra 2015/2016 foi de R$ 187,7 bilhões, valor 20% superior à safra anterior.
Banco do Brasil
O vice-presidente do Banco do Brasil, Osmar Dias, participou da reunião e informou aos agricultores que a diminuição do pré-custeio em 2015 se deveu à queda do deposito à vista e da poupança. “Não foi porque o banco não queria dar pré-custeio. Mas há necessidade de se ampliar o lastro para não faltarem recursos”, explicou Dias.
Somente o Banco do Brasil, que opera 65% do crédito agrícola a juros controlados no país, aumentou em 28% o número de contratos firmados em julho de 2015 em relação ao mesmo mês do ano passado, passando de 47.317 para 60.625 contratos. Em volume de recursos, o acréscimo foi de 93%, salto de R$ 3,311 milhões em 2014 para R$ 6,396 milhões em 2015.
Para Osmar Dias, o crescimento do número de contratos mostra que não há concentração dos financiamentos apenas nos clientes considerados “classe a”, que apresentam menor risco ao banco. A instituição se comprometeu a levantar as contratações por produto, a fim de analisar concentração de problemas em determinadas cadeias.
A ministra ainda ponderou que os bancos devem respeito ao acordo de Basileia, por isso têm a obrigação e a responsabilidade de analisarem o nível de risco das contratações.
-- “Os bancos precisam ficar no fio da navalha entre o cumprimento do Plano Safra e as determinações de Basileia. Agora, como a ministra da Agricultura vai interferir em um banco privado? Eu não posso fazer isso. Já em relação aos bancos públicos, eu não tenho visto diminuição dos financiamentos”, afirmou.
Na reuters: Ministra vê tendência de melhora na liberação de crédito rural daqui para frente
BRASÍLIA (Reuters) - A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, reconheceu nesta terça-feira que houve diminuição de crédito rural a produtores no primeiro semestre, mas afirmou que isso foi parcialmente revertido em julho, quando bancos públicos, privados e cooperativas emprestaram mais.
Após reunião com instituições financeiras e entidades representativas dos produtores, Kátia pontuou que, de janeiro a junho, o volume conjuntamente disponibilizado caiu 9 por cento ante o mesmo período do ano passado, ou cerca de 5 bilhões de reais.
Produtores relataram anteriormente dificuldade na análise de crédito para financiamento da próxima safra de grãos, num contexto de juros mais altos, inclusive do Plano Safra, que foi apresentado neste ano pelo governo federal com uma parcela maior de empréstimos com taxas livres de mercado.
Em julho, entretanto, houve aumento de 32 por cento na liberação do crédito, disse a ministra, reforçando que o mês é o primeiro da nova safra 2015/2016.
"Isso traz certa tranquilidade porque estamos em ascendência: se houve redução de 5 bilhões de reais nos seis meses, já houve acréscimo de 3 bilhões de reais apenas neste mês (de julho)", afirmou ela a jornalistas.
A ministra ressaltou ainda que os negócios de insumos, como fertilizantes, não estão mais fracos este ano devido a fatores relacionados ao crédito. Disse nesta terça que a diminuição da compra por agricultores se dá antes pelo encarecimento do produto, majoritariamente importado, numa situação de dólar em alta.
"Não está diminuindo a compra de fertilizantes por causa da falta de crédito, e sim pelo preço", avaliou.
Ela admitiu ainda que incertezas econômicas globais também deixam alguns agentes do mercado mais cautelosos na liberação do crédito.
"Em nível internacional nós temos uma crise na China, estamos passando por ajustes sérios na nossa economia, então todo o mercado se sensibiliza. Então é normal que os bancos privados principalmente, temerosos dos riscos, fiquem mais exigentes, fiquem mais preocupados", completou, acrescentando que não vai ser isso que vai causar um "desfalque".
Segundo a ministra, uma nova reunião com os mesmos participantes será realizada no fim de setembro, quando serão apresentados dados mais detalhados sobre a liberação de recursos por cultura e por região.
BB REPORTA AUMENTO
O Banco do Brasil, principal financiador do agronegócio brasileiro, informou nesta terça-feira que o volume de financiamentos contratatos para custeio agropecuário em julho aumentou 93 por cento na comparação como mesmo período do ano passado, para 6,4 bilhões de reais, em linha com a avaliação da ministra.
Questionado por jornalistas sobre o aperto nas garantias, o vice-presidente de Agronegócio do Banco do Brasil, Osmar Dias, defendeu a prática.
"Neste momento que o país atravessa, é um gesto de responsabilidade de quem dirige um banco público. Nós não podemos evidentemente abrir mão de garantias porque os recursos que estamos emprestando são recursos boa parte deles públicos."