Safra 2015/16: Grandes produtores têm crédito limitado e podem ver custos subir com juros livres

Publicado em 13/07/2015 12:18

O limite de financiamento por produtor proposto no Plano Safra 2015/16 parece estar sendo insuficiente para os grandes, principalmente os sojicultores do estado de Mato Grosso. Com propriedades maiores, o teto, que subiu 9% - ou chegando ao máximo de R$ 1,2 milhão por CPF - tem sido baixo na hora de custear a safra 2015/16, a qual deverá ser cerca de 25% mais cara nessa temporada, segundo informou a Aprosoja Brasil em matéria do Valor Econômico. Afinal, ao mesmo tempo em que o governo ampliou o teto, retirou do produtor a possibilidade de se adquirir crédito rural acima desse teto. 

De acordo com os últimos números do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) - e considerando uma taxa de câmbio de R$ 3,06, o custo médio para a produção da soja convencional no estado é de R$ 2.875,31 por hectare e a transgênica de R$ 2.919,48. Assim, esse quadro e um dólar ainda mais valorizado gerou reações em todo o país por conta do fim desse "extra-teto" previsto nos planos anteriores. Segundo Adolfo Petry, coordenador de política agrícola da Aprosoja MT, ainda ao Valor, as lideranças do setor já estão articuladas e trabalhando para que sejam trazidos de volta ao limites adicionais de financiamentos. 

Como explicou o presidente da Câmara Setorial da Soja e diretor da Aprosoja, Glauber Silveira, os recursos limitados acabam reduzindo ainda mais o percentual do total da safra que é custeado com financiamento, o que faz com que os custos subam ainda mais. Além disso, diz também que a situação se agrava para o produtor mato-grossense já que os recursos para os estados são menores. "Esse 'extra-teto' também seria importante para os outros estados produtores, mas a realidade de Mato Grosso é diferente, principalmente pelo tamanho das propriedades", explica. 

Paralelamente, há ainda o limite para aquisição de recursos a juros controlados - com as taxas previstas no Plano Safra 2015/16 de 8,75% ao ano - e o que faz com que o produtor tenha que buscar o restante a juros livres, os quais são bem maiores. Em entrevista ao Valor, Silveira disse que "sem o 'extra-teto' em Mato Grosso, só é possível financiar 25% do custeio da safra com crédito controlado". E ao buscar o crédito a juros livres, a renegociação das dívidas fica inviabilizada, ao contrário do que acontece com o volume garantido a juros controlados. 

Segundo relatou o presidente do Sindicato Rural de Sinop, no norte de Mato Grosso, as dificuldades não param por aí. além do teto insuficiente, os recursos na região ainda não estão disponíveis em algumas instituições financeiras e, quando estão, o agricultor se depara com uma série de vendas consorciadas que aumentam ainda mais os custos para a aquisição do crédito. "Os bancos continuam com as vendas casadas, principalmente exigindo a obrigatoriedade da aquisição do seguro para conseguir o financiamento. Eles não abrem mão disso", diz. E assim, as taxas de juros, em alguns casos, podem chegar a 16%. 

Galvan ganhou, há pouco, uma ação na Justiça de Cuiabá que já tinha quase 10 anos contra uma seguradora que se negou a pagar o sinistro de uma de suas safras. "Quando há sinistro, 90% das ações têm que ir parar na justiça para que haja o pagamento do seguro", afirma o presidente do sindicato. 

Diante de tantas barreiras, boa parte dos produtores da região de Sinop e de todo o estado tem buscado como alternativa a chamada operação de troca com as revendas locais - com os pacotes - para conseguir garantir parte de suas vendas e custos de produção mais acessíveis. Além disso, o sojicultor, nas últimas semanas, buscou também proteger alguns picos de preços com o valor do bushel superando os US$ 10,00 em Chicago e o dólar na casa dos R$ 3,20. 

Assim, e com preços entre R$ 52,00 e R$ 55,00 por saca para a soja da nova safra, as vendas antecipadas no estado de Mato Grosso já estão com um percentual elevado em relação à algumas semanas. "Esses preços são bons, no entanto, para os produtores que não são arrendatários, pois aqueles que ainda precisam arcar com os custos da terra (na casa de 10 a 12 sacas por hectare) já trabalham no prejuízo em algumas regiões. 

Leia também:

>> No Valor: Sojicultor pede retorno de limite adicional ao crédito

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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