CAFÉ: Bebida de qualidade gera lucro e é caminho sem volta (FOLHA)

Publicado em 14/05/2015 07:44
Análise de Mauro Zafalon, na Folha de S. Paulo (edição desta quinta-feira, 14/5/15)

ANÁLISE

Bebida de qualidade gera lucro e é caminho sem volta

MAURO ZAFALONCOLUNISTA DA FOLHA

O horizonte para o cafeicultor é um produto que gere uma bebida de qualidade. Diminuiu o espaço para o chamado café "commodity", que cada vez mais é menos aceito no mercado, além de não dar receitas para o produtor.

Os números da evolução do consumo indicam essa preferência do consumidor. A expansão da demanda dos cafés especiais --os mais bem cuidados, desde o cultivo, a colheita até a preparação da bebida-- é de 15% anuais. Já os tradicionais têm evolução próxima de 2% ao ano.

O Brasil, maior produtor mundial de café e sempre visto como um país que perseguia pouco a qualidade, começa a mudar.

Ao menos 25% das exportações já são consideradas como cafés diferenciados e, portanto, com mais qualidade, apontam dados do Cecafé (entidade dos exportadores).

Internamente, o consumidor também adere cada vez mais ao café com qualida- de. Os dados mais recentes da Abic (que representa as indústrias do setor) indicam que 84% dos consumido- res brasileiros ainda tomam o café filtrado, mas que 4% já utilizam as monodoses ou cápsulas.

A saída para os produtores, portanto, é investir nos cafés de qualidade. Não menos importante, no entanto, é abrir canais de venda para que ele seja remunerado conforme o valor do produto.

O mercado de café evoluiu muito, tanto no exterior como no Brasil. A bebida deixou de ser feita só no coador, passou por cafeterias de luxo, por máquinas em bares e restaurantes e, agora, volta-se cada vez mais para o lar, principalmente com as monodoses e as cápsulas.

Embora as cápsulas apenas estejam chegando ao Brasil, algumas empresas já investem pesado em busca do novo passo para a preparação dessa bebida.

A opção do consumidor por um produto com mais qualidade deve auxiliar, também, o aparecimento de novas pequenas empresas no país voltadas para esse setor.

Nos últimos anos, houve uma grande concentração na industrialização e na distribuição de cafés, principalmente quando se trata de marcas nacionais.

Esse ambiente de café com qualidade permite às pequenas indústrias disputar mercados regionais, inclusive com monodoses ou cápsulas.

Até exportadores, que têm uma variedade de cafés especiais nas mãos, já sinalizam para a abertura de pequenas empresas para oferecer esse produto diferenciado.

A busca pelo café de qualidade é um caminho sem volta, principalmente porque os mercados que se abrem para essa bebida, entre eles o da China, estão se acostumando a um produto diferenciado.

 

Na pista do café

Bernie Ecclestone, o chefão da F-1, quer ampliar a comercialização da bebida gourmet que produz em Amparo e que hoje só é provada nos paddocks

VENCESLAU BORLINA FILHOENVIADO ESPECIAL A AMPARO (SP)

É numa fazenda centenária entre as montanhas de Amparo, na região de Campinas, que o todo-poderoso da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, 84, prepara seu novo voo nos negócios.

Ecclestone e a mulher, a brasileira Fabiana Flosi Ecclestone, 37, pretendem ampliar a comercialização do café gourmet cultivado na propriedade, o Celebrity Coffee.

Hoje, o produto só pode ser provado nos paddocks dos GPs ao redor do mundo, em poucos hotéis ou no gabinete do prefeito de Amparo, Luiz Oscar Vitale Jacob (PSDB), onde Ecclestone esteve na semana passada.

Mas, no que depender do chefão do automobilismo mundial, o produto pode ganhar novos espaços.

A venda no varejo não está descartada.

"Foi feito o investimento necessário para melhorar a estrutura de processamento do café, pois a fazenda tem tradição no produto há mais de 140 anos", afirmou Fabiana, em entrevista por e-mail à Folha.

A propriedade de 200 hectares (maior que o principado de Mônaco, por onde circulam muitos pilotos da categoria) foi adquirida em 2012 por Ecclestone. Desde então, ele investe no cultivo e no processamento do grão.

São cerca de 120 mil pés de café, 100% arábica --variedade que, segundo os agrônomos, tem sabor mais completo, com mais nuances de doçura e acidez.

Segundo Fabiana, eles negociam com uma grande empresa de logística para exportar o Celebrity Coffee. Os valores não foram revelados.

EM ALTA

O consumo do café de qualidade cresceu a um ritmo de até 20% ao ano nos últimos dois anos e é um negócio mais lucrativo que o café comum (leia texto ao lado).

Enquanto no supermercado o preço do quilo do café comum gira em torno de R$ 15, o do café gourmet torrado e moído pode superar os R$ 50. Se estiver acondicionado em cápsulas, o quilo do produto especial chega a custar R$ 240 --diluído em pequenas doses de 5 gramas.

Relacionado como o 435º entre os bilionários do mundo pela revista "Forbes", Ecclestone e sua família têm uma fortuna estimada em US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões).

Ele conheceu a mulher no Brasil em 2009, durante as organizações da corrida de Interlagos. Fabiana era braço direito de Tamas Rohonyi, ex-produtor do GP Brasil.

Desde que se casaram, em 2012, vivem em Londres ou pelo mundo, acompanhando as corridas de Fórmula 1 e contornando polêmicas --o executivo é acusado de fraude na venda de direitos da modalidade e pode ter de pagar indenização de US$ 1 bilhão, entre outros casos.

Numa das viagens ao Brasil após o casamento, Ecclestone visitou a fazenda Ycatu, do ex-patrão de Fabiana, Rohonyi, e decidiu comprá-la.

Inicialmente, era pra ser um local de descanso, uma casa de campo. Mas o casal encontrou no café uma nova oportunidade de negócio.

O produto ganhou prêmios, entre eles um regional no ano passado, na categoria cereja descascado --quando o grão é descascado antes de ser colocado para secagem.

De acordo com o Sindicato Rural de Amparo, o café teve a qualidade atestada por classificadores.

A entidade contabiliza 1.400 produtores na região, que já foi considerada a maior produtora de café do Brasil Império e inclui as cidades de Amparo, Serra Negra, Socorro e Monte Alegre do Sul.

Leia mais sobre café na coluna "Vaivém das Commodites"

folha.com/vaivem

Fonte: Folha de S. Paulo

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