USP comprova que a Cana traz desenvolvimento socioeconômico a municípios de SP

Publicado em 05/03/2015 18:55
Pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba avaliou os impactos socioeconômicos causados pela expansão do setor no País.

Análise realizada nos 645 municípios do Estado de São Paulo revela que a existência de usinas de cana de açúcar nas cidades tem como efeito positivo o seu desenvolvimento socioeconômico, sendo maior nas cidades próximas ou vizinhas que na própria cidade onde está a usina. O resultado faz parte de pesquisa desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. O economista e especialista em agronegócio, Leandro Gilio avaliou em sua dissertação de mestrado, no Programa de Pós-Graduação (PPG) em Economia Aplicada da Esalq, os impactos socioeconômicos causados pela expansão do setor no País.

Municípios vizinhos aos que têm usinas podem ser os mais beneficiados

O trabalho, desenvolvido durante o ano de 2014, foi organizado no formato de dois artigos científicos, que, segundo o autor, podem ser lidos e avaliados de forma independente. O texto “Avaliação de impacto socioeconômico da expansão do setor sucroenergético em municípios paulistas”, trata dos efeitos decorrentes da expansão canavieira recente e da presença de usinas sobre os municípios produtores e proximidades, no estado de São Paulo. Para tal proposta, foi construído um painel com dados de todos os 645 municípios do Estado para se avaliar o efeito da expansão da área cultivada e da presença de usinas.

O desenvolvimento socioeconômico dos municípios foi avaliado pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). A área plantada de cana foi fornecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as informações sobre usinas, coletadas no Anuário da Cana. O modelo em painel considerou aspectos dinâmicos e espaciais (distâncias entre as cidades) e variáveis de controle. A estimativa foi feita a partir do Método de Momentos Genralizado (GMM), técnica econométrica genérica de estimação de parâmetros.

No estudo, Gilio conclui que o efeito positivo da existência de usinas de cana-de-açúcar nas cidades é o seu desenvolvimento socioeconômico, sendo maior nas cidades próximas ou vizinhas que na própria cidade onde está a usina. Isso se dá, segundo o autor, pela grande dependência do desenvolvimento regional para o local. “Os municípios vizinhos podem se beneficiar mais, por terem economia mais diversificada e não tão dependentes do setor sucroenergético”.

Desenvolvimento socioeconômico
Com relação apenas à expansão da área agrícola de cana-de-açúcar, foi identificado um pequeno efeito negativo para o desenvolvimento socioeconômico local, sem impacto significativo sobre as proximidades. “Este fato pode ser entendido como uma captação do efeito da mecanização neste setor, que tornou a cultura de menor trabalho intensivo”, acrescentou.

O artigo “O impacto socioeconômico da expansão canavieira: uma revisão sistemática da literatura”, mostra o atual estágio das pesquisas desenvolvidas na área, podendo subsidiar trabalhos futuros. Para essa pesquisa, foram levantados cerca de 1.300 trabalhos e artigos, nacionais e internacionais, em língua portuguesa ou inglesa. Após análise criteriosa, Gilio selecionou 46 estudos para leitura integral e analítica. A maioria dos trabalhos tinha origem brasileira (cerca de 40%).

De acordo com Gilio, a metodologia empregada nesta avaliação é pouco explorada na área de ciências econômicas. “Este trabalho é mais utilizado nas áreas de saúde e conhecido como ‘prática baseada em evidências’”. No caso das ciências humanas, o método torna-se importante para fornecer uma base sintética e atualizada para estudos futuros, mostrando uma espécie de ‘retrato’ do atual desenvolvimento científico da temática e evidenciando lacunas e novas possibilidades de estudo.

O artigo revela que existe uma predominância de estudos com enfoque regional e que as temáticas mais exploradas são aquelas relacionadas às dimensões de trabalho e uso da terra. “Para o caso nacional da expansão do setor sucroenergético, há ainda uma carência de estudos que avaliem os efeitos de acordo com recentes configurações do setor, como a proibição da queima de cana-de-açúcar, as mudanças no mercado de trabalho causadas pela mecanização e alterações institucionais ligadas à posse e arrendamento de terras, por exemplo”, acrescenta o economista.

Segundo o pesquisador, o melhor entendimento dos aspectos avaliados em sua tese contribui para o desenvolvimento do setor sucroenergético e para a promoção de políticas de incentivo. Para Gilio, novos trabalhos devem ser desenvolvidos na área, utilizando métodos quantitativos e qualitativos, de modo a se subsidiar políticas públicas e iniciativas de promoção no setor. A orientação do estudo foi da professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq. A pesquisa foi financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Fonte: Ag. USP de Notícias

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