Mercado de café: Fraqueza do real influencia negativamente o café

Publicado em 16/02/2015 09:20
*por Rodrigo Corrêa da Costa, que escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting (direto de N. York)

Os investidores se animaram com a promessa de trégua entre os rebeldes russos e os ucranianos e também com um provável acordo temporário entre a Grécia e a troika para um novo empréstimo que evite os gregos dar um calote de suas dívidas.

Neste cenário as bolsas de ações da Europa, Estados Unidos e dos mercados emergentes fecharam em alta nesta semana, ainda que a volatilidade de algumas moedas como, por exemplo, o Real, não inspire tanta confiança.

Os principais índices de commodities subiram ajudados pelos ganhos de 7.97% do gás natural, 7.75% do suíno magro e 5.26% do óleo para aquecimento. Entre as matérias-primas que perderam o café ficou em segundo lugar escorregando 2.63%, atrás da baixa de 3.37% do níquel.

O contrato do arábica em Nova Iorque tomou um tombo feio na terça-feira, empurrado pela desvalorização acentuada do Real contra o dólar americano. Na quinta-feira o mercado recuperou parte das perdas com a valorização da moeda brasileira. O comportamento sugere que alguns fundos de sistema tenham algoritmos que acionam gatilho de compra e venda seguindo um modelo de correlação negativa com o Real.

Obviamente a firmeza do dólar proporciona mais reais por saca aos produtores brasileiros, caso a bolsa não despenque o mesmo tanto. Entretanto o volume negociado no mercado físico e a disponibilidade relativamente menor de estoques nas mãos dos produtores não se traduziram em vendas tão grandes no terminal para justificar um movimento tão acentuado de baixa que vimos.

As chuvas bem acima da média em fevereiro não surtem um efeito tão negativo, mas sem dúvida a falta delas seria altista. Pontualmente pode-se dizer que a necessidade de adubação no atual período trouxe um pouco mais de café ao mercado, porém os custos de reposição não encaixam na conta para vender cafés nos diferenciais que os compradores estão interessados (ao menos por enquanto).

Curiosamente a procura no FOB tem incrementado, tanto de importadores americanos, europeus como japoneses. É compreensível que a indústria tenha uma cobertura do basis relativamente curta, mas surpreende ouvir que dealers também se mostram interessados em café para embarque ainda no segundo trimestre do ano. Isto leva a crer que a disponibilidade no spot deve diminuir mais rapidamente até a chegada da safra brasileira, indicando que quem tomou posição long dos largos diferenciais na segunda metade de 2014 foram os operadores locais – difícil entender.

As exportações de Brasil e Colômbia mantém o ritmo acelerado, batendo recordes, argumento que os baixistas de fato tem à seu favor. Por outro lado o Vietnã está embarcando muito menos café do que há um ano, anulando uma formação maior de estoques.

O IBGE soltou sua estimativa de safra para 2015/2016, apontando para uma produção de 32.2 milhões de sacas de arábica e 11.3 de conilon, basicamente repetindo o volume que considerou ter sido produzido em 2014/2015. Uma exportadora grande local brasileira na sexta-feira manteve a tendência de alguns agentes que crêem em uma safra levemente maior em 15/16, muito embora tenha feito a em sua divulgação a ressalva de que eventuais revisões provavelmente serão para uma produção menor, e não maior.

Acredito que deva ser esta a tendência, como comentei na semana passada, principalmente quando na colheita for apurada a renda. Poucos defendem que o conilon tenha uma produção maior, e o arábica é sempre sujeito a surpresas, dado que as lavouras estão apenas em teoria dentro de um “cinturão”, razão de ter uma margem grande de erro – que é o pesadelo dos estatísticos.

A performance técnica não foi tão negativa, com Nova Iorque pela quinta semana (não-consecutiva) sendo incapaz de romper os US$ 160 centavos (no gráfico contínuo do segundo mês). Os fundos pararam de liquidar suas posições compradas, na verdade voltando a comprar novamente (considerando a posição bruto-comprada). A posição bruto-vendida continua aumentando, o que seria negativo caso novas baixas estivessem acontecendo com mais agressividade, o que não é o caso.

Se o Real equilibrar e o macro ficar menos volátil, o contrato “C” pode voltar acima de US$ 170 centavos na curta semana que se inicia, pois para ajudar terá o Brasil praticamente ausente, celebrando o carnaval, e um empurrão de Londres que não terá o Vietnã ativo pois o país estará comemorando entre os dias 15 e 23 de fevereiro a chegada do ano novo lunar.

Segunda-feira é feriado aqui em Nova Iorque, Dia do Presidente, ótimo para ficar em casa se escondendo das temperaturas negativas que tem se repetido neste inverno.

Uma boa semana com excelentes negócios a todos.

Rodrigo Costa*
 

Fonte: Archer Consulting

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