PIB não pára de cair: governo Dilma já comprometeu nosso futuro também!

Publicado em 01/09/2014 15:42 e atualizado em 02/09/2014 08:39
por Rodrigo Constantino, de veja.com

Expectativa de crescimento não para de cair: governo Dilma comprometeu nosso futuro também!

Pela décima-quarta vez consecutiva, os analistas escutados pelo Banco Central para o relatório Focus jogam para baixo suas estimativas para o crescimento da economia este ano e no próximo. O Brasil, que já está em recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda de atividade), não deve crescer nem 0,5% em 2014, e para 2015 a expectativa é de míseros 1,10%, o que ainda será revisto para baixo, em minha opinião.

Estimativa para crescimento em 2014. Fonte: Bloomberg

Os reajustes nas expectativas mostram duas coisas: 1) a rápida deterioração do quadro econômico brasileiro; 2) a lentidão dos analistas em perceber o quanto seu otimismo anterior era injustificável. Quando temos algum fenômeno exógeno imprevisto, como um furacão devastador no caso japonês, ou uma crise externa que lança todas as economias no buraco simultaneamente, até dá para justificar uma revisão drástica nas estimativas.

Mas o fato é que nada disso aconteceu no Brasil. A “crise” internacional não é motivo para a forte queda das expectativas, pois como já mostrei aqui, os demais países emergentes – e até os desenvolvidos – estão crescendo bem mais do que nós.

A conclusão, portanto, é a de que os analistas financeiros mantiveram por tempo demais uma crença irrealista na capacidade de o governo Dilma entregar algum resultado positivo. Enquanto a presidente Dilma acusava qualquer crítico de “pessimista”, a realidade é que todos os principais analistas do mercado estavam otimistas com o crescimento em seu governo.

E para 2015, mesmo com a esperança crescente de sua derrota, o que sem dúvida seria positivo para a economia, parece que muitos analistas ainda mantêm uma expectativa de leve recuperação, ainda que decrescente também:

Estimativa para crescimento de 2015. Fonte: Bloomberg

Arrisco dizer que mesmo tirando o PT do poder e recuperando-se boa parte da credibilidade no governo, tal estimativa está inflada. Nosso PIB não deve crescer nem mesmo 1% em 2015, e isso será culpa do governo Dilma ainda. É que muitos esqueletos foram guardados no armário e terão de ser reconhecidos. Os ajustes serão dolorosos, e é ingenuidade supor o contrário.

O governo Dilma não só destruiu o crescimento econômico dos últimos anos; ele comprometeu o crescimento futuro também! É como se tornar inquilino em uma casa cujo locatário anterior foi extremamente irresponsável, deixando um monte de problemas por resolver, uma imensa sujeira espalhada, e as estruturas apodrecendo. Leva tempo até colocar as coisas em seus devidos lugares. E cabe perguntar: será que Marina Silva é mesmo uma “faxineira” eficiente?

Rodrigo Constantino

Nem a favor nem contra: o ‘marinês’ no Jornal da Globo

Questionada sobre temas espinhosos em entrevista na bancada do programa, candidata do PSB se esquivou das perguntas com declarações evasivas

Marina Silva não assumiu posições em entrevista ao Jornal da Globo (Reprodução/TV Globo/VEJA)

"A senhora é a favor ou contra o casamento gay?"

"Vai reajustar a gasolina?"

"As termelétricas salvaram o Brasil neste ano. Pretende desligá-las se for eleita?"

Marina Silva, candidata do PSB à Presidência da República, mais uma vez abusou do "marinês" na madrugada desta terça-feira – a entrevista foi gravada horas antes nos estúdios da TV Globo – e, falando em rodeios, sem assumir posições assertivas, esquivou-se de perguntas sobre temas espinhosos para sua campanha no Jornal da Globo. Marina abriu a série de entrevistas de 25 minutos com os presidenciáveis – Dilma foi a única que se recusou a participar.

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Gays – Logo de cara, os entrevistadores fizeram quatro perguntas para Marina sobre o recuo de sua campanha, que modificou um trecho do programa de governo favorável ao casamento entre homossexuais no final de semana, um dia depois do texto ter sido divulgado. Após o lançamento da cartilha de governo, Marina foi pressionada por pastores evangélicos. A saída foi alterar o documento e atribuir a mudança a um "erro de processo" – os coordenadores, segundo ela, incluíram a proposta "sem mediação". Hoje, não foi diferente: "Foi incluído o documento enviado pelo movimento LGBT tal qual enviaram". Em seguida, o entrevistador questionou a candidata se ela concordava com uma manchete dizendo: "Marina é a favor do casamento gay". Ela não concordou nem discordou. O entrevistador insistiu. E com esta manchete: "Marina é contra o casamento gay". Marina não concordou nem discordou. E terminou dizendo que era a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo, conforme a legislação do país reconhece. "O que a lei assegura é a união civil."

Em seguida, questionada se consultava a Bíblia antes de tomar suas decisões, deu nova volta, afirmou que seus críticos tentam colar nela a pecha de fundamentalista, mas lançou frases direcionadas ao eleitorado evangélico, como "uma pessoa que crê" e "a Bíblia é uma fonte de inspiração".

Marina ainda repisou posições que têm martelado no dia a dia da campanha, como a defesa do tripé econômico – câmbio flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal – com independência total do Banco Central, críticas à atual condução econômica – "Há uma visão tacanha de se governar pensando nas eleições" – e seu compromisso em acabar com a reeleição, se for eleita.

Já nos minutos finais, os apresentadores do Jornal da Globo questionaram a ambientalista, que carrega a bandeira da energia limpa, se pretende desativar as termelétricas, que salvaram o país neste ano. A pergunta foi direta: sim ou não? Marina começou a resposta: "Falando desse jeito há uma simplificação..." E deixou escapar um breve sorriso. Era o "marinês" mais uma vez em ação.

Dividido, PMDB já avalia apoio a eventual governo Marina

Ala aecista do partido já dá como certa adesão da legenda ao governo da candidata do PSB, caso eleita. Cúpula da legenda espera ambiente hostil (na veja.com)

Marina Silva: na mira do PMDB (Alfredo Risk/Futura Press)

As chances efetivas de vitória de Marina Silva na eleição presidencial já levam a ala do PMDB que apoia a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) a dar como certa a adesão da legenda a um eventual governo dela. A avaliação desse grupo é a de que as chances de recuperação do tucano são difíceis e a perspectiva de poder hoje está com Marina. Isso faz com que a histórica divisão do PMDB ganhe novos contornos. Se antes da campanha o debate era levar ou não o partido a apoiar a reeleição de Dilma Rousseff, agora ele começa a se dar entre compor ou não com Marina e o momento em que essa sinalização deve ser feita.

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A cúpula peemedebista, responsável pelo apoio pró-Dilma e que tem em Michel Temer, Renan Calheiros e José Sarney seus expoentes, quer colocar a máquina do partido para derrotar Marina no 2º turno. Em caso de vitória da candidata do PSB, esse grupo fala em dar os tradicionais 100 primeiros dias de trégua ao seu governo para, nesse período, aguardar os sinais da ex-ministra. Prevê, porém, uma relação hostil. Justamente por onde a outra ala planeja crescer. Geddel Vieira Lima, candidato ao Senado pela Bahia, tem interesse em liderar esse movimento.

Os aecistas do PMDB, em processo de transfiguração para neomarineiros, querem começar a emitir os sinais da adesão ao fechar das urnas do primeiro turno. Estão espalhados por Estados como Bahia, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, prontos para deflagrar esse processo. "Marina já sinalizou que abrirá o diálogo com os políticos. Temos plenas condições de dar sustentabilidade e governabilidade a ela", disse o vice-líder da bancada da Câmara, Danilo Forte (CE).

Até mesmo peemedebistas egressos de Estados que apoiam Dilma avaliam que o PMDB estará com Marina se ela vencer. "O PMDB é um partido pragmático. Não teria problemas em se reposicionar e integrar a base de Marina", disse Saraiva Felipe (MG), ex-ministro da Saúde do governo Lula. Além de derrotar Dilma, essa ala do PMDB pretende aproveitar o embalo para contestar Temer no comando da sigla. Afinal, é ele o maior avalista do acordo com o PT. Assim, a eleição de Marina resultaria em um reposicionamento interno de forças políticas na legenda.

Jarbas Vasconcelos (PE) e Pedro Simon (RS) seriam os interlocutores naturais, uma vez que próximos a Marina. Mas o problema é que eles não têm força interna para, sozinhos, conduzirem o partido rumo a ela. Uma aposta é que os governadores eleitos pelo partido possam fazer essa intermediação, uma vez que há uma dependência financeira grande dos Estados em relação à União, o que torna a aproximação necessária.

Nomes como os senadores Eduardo Braga (AM) e Eunício Oliveira (CE) e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que lideram as pesquisas eleitorais em seus Estados, são algumas opções. Entretanto, por motivos óbvios, a relação também terá necessariamente de passar pelo Congresso Nacional, onde o cenário hoje colocado para comandar as duas Casas é de dois peemedebistas conhecidos por jogar duro com o Palácio do Planalto: o senador Renan Calheiros (AL) e o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Uma vez eleitos, o jogo terá de passar por eles.

(Com Estadão Conteúdo)

 

O voto útil: prioridade é tirar o PT, mas é fundamental manter a força do PSDB

Qualquer brasileiro esclarecido tem hoje uma prioridade na política: tirar o PT do poder. Ninguém aguenta mais tanta incompetência e autoritarismo, o aparelhamento da máquina estatal, as alianças nefastas com regimes ditatoriais, o desmonte do Mercosul, a corrupção, a recessão, a inflação…

Diante dessa fadiga, não são poucos os que olham para Marina Silva com viés pragmático e instrumento único para derrotar o PT. Não são os que se encantam com ela, com seu discurso, com sua trajetória ou com seu ambientalismo, e sim aqueles que adotam a postura do voto útil contra o PT, e entendem que ela tem mais chance do que Aécio de derrotar Dilma no segundo turno.

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Paulo Guedes aborda o assunto, e diz que Marina poderia até mesmo vencer o primeiro turno, o que acho pouco provável. Para o economista, Aécio Neves é preparado e experiente, mas pode ser vítima do “voto útil”, pois “não se credenciou até agora como um veículo crível para a indignação do eleitor com a política convencional”. Ele conclui:

Com o desejo de mudanças impulsionando Marina, o voto útil debilitando Aécio, e a degeneração econômica derrubando Dilma, podemos estar caminhando para o fim da “velha política”, que conhecemos todos muito bem, mesmo sem saber exatamente o que será a nova.

Após reconhecer o grande “capital institucional” que é Armínio Fraga, Guedes elogia os economistas de boa estirpe ao lado de Marina, e diz que a própria candidata já vem sinalizando ter absorvido as principais propostas do tucano na área econômica. Ou seja, por essa ótica, um governo Marina não seria tão distante assim de um governo Aécio no que diz respeito ao lado econômico.

Pode até ser, apesar de um governo Marina ser ainda uma grande incógnita. Mas para tanto, parece-me fundamental que Aécio Neves, caso derrotado, tenha uma expressiva votação no primeiro turno, justamente para ter um capital político de peso no segundo turno e no eventual governo de Marina. Foi o ponto levantado por Merval Pereira em sua coluna deste domingo:

O candidato do PSDB, Aécio Neves, atualmente com 15% das intenções de voto pelo Datafolha, tem uma estrutura partidária maior e apoios regionais que poderiam até mesmo levá-lo à vitória em situação normal e condições ainda de chegar a um segundo turno caso Marina, por alguma razão, tenha sua candidatura abalada nesses últimos 30 dias de campanha.

O mais provável, porém, é que o PSDB se coloque como um importante partícipe desse novo jogo num segundo turno entre a presidente Dilma e Marina, mas para tanto a votação em Aécio Neves não pode desidratar a ponto de permitir uma vitória de Marina no primeiro turno.

O voto útil em Marina, para garanti-la no segundo turno ou forçar uma derrota do PT já no primeiro, pode ser um tiro no pé nos eleitores que temem Marina presidente mas não querem Dilma reeleita. Nesse caso, fortalecer a votação do terceiro colocado é impor uma negociação política que demarcará um provável governo Marina.

Ou seja, mesmo aqueles mais esclarecidos que colocam como única meta expulsar o PT do poder, engolindo sem auxílio medicinal a candidatura de Marina Silva para derrotar Dilma no segundo turno, precisam levar em conta que o voto útil pode ser dividido em turnos também.

Marina pode ter probabilidade maior de vencer Dilma no embate direto, como mostram as pesquisas, pois os votos de Aécio migram para ela, mas o contrário não necessariamente é verdadeiro. Só que para seu governo ter um viés mais de centro e menos de esquerda, para não ser apenas a troca de seis por meia-dúzia, faz-se necessário aumentar a musculatura do tucano no primeiro turno, o que tornaria maior a probabilidade de um acordo oficial entre Marina e PSDB para seu governo.

Uma Marina Silva absoluta, vencendo com ampla vantagem do tucano ou mesmo no primeiro turno, poderia dispensar qualquer acordo com o PSDB depois e seria um grande perigo, não só de governabilidade como de viés ideológico.

Rodrigo Constantino

PAULO GUEDES: A preferência por Marina é a mais nova manifestação de indignação com os políticos brasileiros

“Para os pobres, Lula foi sempre um trabalhador, um homem do povo, e nunca um dos ’300 picaretas do Congresso’. A popularidade de Marina Silva tem esse mesmo impenetrável escudo” (Foto: AE)

A DIMENSÃO MORAL

Artigo publicado no jornal O Globo

Por Paulo Guedes *

A fulminante ascensão de Marina Silva nas pesquisas eleitorais é a mais nova manifestação de uma profunda descrença dos brasileiros com nossa classe política e suas condenáveis práticas.

É uma resposta dos eleitores aos que continuam apostando no silêncio da cumplicidade e no oportunismo aético de nosso presidencialismo de cooptação. Ora, acabamos de assistir há pouco mais de um ano a uma explosão de civismo nas ruas. Era também um sintoma da indignação com a interminável sequência dos escândalos de corrupção. Uma exigência de forma decente de tratar a coisa pública, de mudança radical de nossas práticas políticas.

O segredo da popularidade de Lula foi jamais ser percebido como um político tradicional. Para os pobres, Lula foi sempre um trabalhador, um homem do povo, e nunca um dos “300 picaretas do Congresso”.

Pois bem, a popularidade de Marina Silva tem esse mesmo impenetrável escudo. Será sempre a frágil e destemida seringueira que venceu as doenças e desafia uma classe política perversa em defesa dos mais pobres.

O tema da imoralidade na política será incontornável nesta curta campanha eleitoral. As atuais práticas em busca da “governabilidade”, irremovíveis desde a redemocratização, tornaram-se inaceitáveis para os eleitores.

“Eles se recusaram a mudar, mantendo com estúpida teimosia o corrupto sistema existente. Não podiam mudar porque eram parte, cresceram e dependiam da corrupção. A ambição, o abuso de poder e a certeza da impunidade dirigiam seu comportamento”, referia-se Barbara Tuchman aos papas renascentistas. É lamentável que se possa pensar o mesmo de boa parte da classe política brasileira.

A crescente indignação da opinião pública esclarecida, em busca da reabilitação moral de nossas instituições, acabou resultando em uso incessante da “guilhotina midiática”, que pega em praça pública um pescoço de cada vez.

Mas, de pescoço em pescoço, chegaríamos a uma maneira decente de fazer política? São décadas de corrupção sistêmica, e continuamos esperando dos candidatos presidenciais um compromisso com a reforma política.

A dimensão moral será inevitável na hora do voto, pois, sempre que oestablishment perde a decência, as democracias experimentam os clássicos episódios de “regeneração pelas urnas”.

* Um dos fundadores do Instituto Millenium, Paulo Guedes é economista com PhD pela Universidade de Chicago. É fundador e sócio majoritário do grupo BR Investimentos e um dos quatro fundadores do Banco Pactual.

 

Debate do SBT: Marina é mais contundente que Aécio no ataque a Dilma. Será que é porque ela leu meu blog?

Se Aécio não fala o que eu digo, Marina fala.

No debate promovido pelo jornal Folha de S. Paulo, o SBT, UOL e Rádio Jovem Pan, em que houve polarização entre as duas candidatas empatadas na liderança com 34% das intenções de voto segundo o Datafolha, Marina atacou Dilma, confessadamente nervosa desde o começo, dizendo: ”Quando as coisas vão bem, 100% dos louros vão para o seu governo. Quando vão mal, é a crise internacional.”

A equipe de Marina leu direitinho o que venho escrevendo desde 22 de julho, quando Lula disseminou entre os governistas esse discurso cínico, hoje repetido e ampliado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que inclui até a seca e a Copa no pacote dos culpados.

Tanto é assim que, como comentou hoje Ricardo Amorim, “A ‘crise internacional’ culpada pela nossa recessão só afeta o Brasil. Entre os 35 países das Américas, só na Argentina e no Brasil o PIB cairá neste ano.”

Mas a culpa, claro, nunca é do PT.

No começo do debate, Dilma disse que seu governo foi o que mais investiu em segurança pública, mas o resultado foram mais cadáveres – ou seja: dinheiro do povo jogado no lixo.

Marina questionou a presidente sobre “o que deu errado em seu governo”, já que ela não cumpriu a promessa de fazer o Brasil crescer com inflação baixa. Como a petista resolveu responder o que supostamente deu certo, Marina atacou: “A presidente Dilma tem muita dificuldade em reconhecer os erros do seu governo. Nós defendemos sim a autonomia do Banco Central porque esse governo, com atitudes erráticas, não ajuda a resolver os problemas.” Mais um ponto no confronto direto para Marina, que já havia deixado Dilma sem resposta expondo os desastres na Petrobras.

Luciana Genro, em socorro a Dilma, questionou se Marina é a “segunda via do PSDB”, coisa que a militância do PT adora, como se vê naimagem ao lado. Marina, na verdade, é o PT do B, como já expliquei neste blog, mas o partido precisa associá-la aos únicos adversários que sabe combater: os tucanos. E para isso conta com o PSOL, que existe precisamente para ser seu testa-de-ferro, acusando seus adversários daquilo que lhes interessa, com as inversões de sempre, como ficou claro na censura a Rachel Sheherazade.

Já Aécio resolveu dizer à Luciana Genro que desconfia de quem fala “em nome do povo”, ao que ela respondeu que ele tem razão em desconfiar porque governa para as elites. Quer dizer: Aécio conseguiu levantar a bola até para a candidata do PSOL cortar. Assim fica difícil.

Mesmo quando ataca Dilma, o candidato do PSDB continua técnico demais: “O ativo mais valioso da política é o tempo. O governo do PT perdeu um longo período que poderia fazer investimentos.” Como comparar a contundência desse papo burocrático de “ativo valioso” ou de todo aquele de “indicadores sociais” com os dois desmascaramentos morais perpetrados por Marina? Não dá.

E o pior é que Aécio, que já chamava Dilma de “mulher de bem”, disse ainda nas considerações finais: “Acredito nas boas intenções da candidata Marina”, com a ressalva apenas de que ela “defende teses que combatia até pouco tempo atrás”. Ou seja: todo mundo é bonzinho, mas ele é o melhor gerente, ok? Esse é o discurso de Aécio, como também era o de José Serra em 2010 – o discurso de quem pede para perder ou, desta vez, para descolar uma vaguinha num eventual governo de Marina.

Em entrevista à TVeja, Serra havia dito que, em campanha, “você começa de um jeito e depois você vai acelerando”, mas a aceleração de Aécio, pelo visto, ainda está longe de começar.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

Marina e o agronegócio

MARCOS SAWAYA JANK - O ESTADO DE S.PAULO

Marina Silva aproximou-se do agronegócio na última semana. Esteve numa importante feira do setor sucroenergético, jantou com 60 lideranças na sexta-feira e seus assessores vêm dialogando com pessoas-chave do setor.

Todos sabem que o agronegócio viveu momentos de atrito com Marina no período em que ela foi ministra do Meio Ambiente. Exemplos são os embates em torno do Código Florestal e o zoneamento da soja transgênica, num momento em que produtores gaúchos plantaram variedades argentinas que ainda não haviam sido aprovadas no Brasil. Já se passaram dez anos. Desde então a Comissão de Biossegurança autorizou um amplo uso de sementes transgênicas no Brasil, a exemplo do que vem ocorrendo em quase todo o mundo. O novo Código Florestal virou lei em maio de 2012 e hoje há total consenso entre o agronegócio e a comunidade ambiental de que o desafio é implementar mais rapidamente o que foi definido.

Tendo participado de diversas conversas com Marina e seu grupo nos últimos cinco anos, permito-me fazer aqui uma análise das perspectivas dos temas do agronegócio à luz do seu programa de governo, recém-divulgado. O programa reconhece a competência dos produtores brasileiros, os ganhos de produtividade alcançados, o fato de o País dispor da melhor tecnologia tropical do planeta e o papel salvador que o setor desempenhou na garantia do equilíbrio das contas externas. Em síntese, os principais destaques do programa são:

1) Políticas tradicionais - taxas de juros mais baixas para a agricultura; continuidade das políticas de aquisição de alimentos, preços mínimos e estoques reguladores; ampliação de programas de seguro rural, cobrindo riscos climáticos e de renda; reforço das estruturas de pesquisa e controle sanitário; avanço no zoneamento agroecológico e melhorias na legislação trabalhista.

2) Acordos internacionais - ampliação dos acordos de comércio com os países mais relevantes para o agronegócio, independentemente do Mercosul.

3) Plano ABC - o Plano de Agricultura de Baixo Carbono ganhará prioridade, recebendo mais recursos para estimular o manejo e a recuperação de pastagens e áreas degradadas e buscar a meta de "desmatamento zero".

4) Governança dos ministérios da área - segundo o texto, no mundo inteiro o Ministério da Agricultura também cuida de questões fundiárias, de florestas plantadas e da pesca. "No Brasil temos quatro ministérios cuidando desses temas, disputando o mesmo orçamento e prestígio junto ao Palácio do Planalto, ao Legislativo, à mídia e à sociedade em geral. Ainda interferem no agronegócio mais uma dezena de ministérios e duas dezenas de agências correlatas. É preciso enxugar esse emaranhado de órgãos federais que engessam as ações para o setor rural".

5) Política energética - o diagnóstico e as diretrizes apresentados são claros e corretos. O ponto de maiores destaque é a prioridade de recuperar e revitalizar a produção de biocombustíveis e bioeletricidade, que não deveriam ficar a reboque da intervenção estatal em razão de políticas de controle artificial de preços da gasolina. "A intervenção do governo no setor deveria ser mínima e as regras para o desenvolvimento da energia de biomassa devem ser previsíveis e transparentes."

6) Infraestrutura e logística - o programa propõe ampliar e acelerar concessões, parcerias público-privadas e investimentos, aprimorando os marcos regulatórios, diversificando modais de transporte e aprimorando o diálogo com os investidores.

O programa traz temas que devem gerar embates com o setor, mas podem perfeitamente ser tratados de forma racional pelo Executivo pelo Legislativo:

O texto reconhece a queda expressiva do desmatamento em áreas de floresta, mas menciona seu avanço em certas áreas do cerrado, afirmando "que a agropecuária brasileira não precisa mais avançar sobre novas áreas de vegetação nativa para duplicar ou até triplicar sua produção". Creio que o agronegócio concorda plenamente com a necessidade de eliminar o desmatamento ilegal em todos os biomas. Defende, porém, o desmatamento legal de áreas férteis sob cerrado, seguindo estritamente o novo Código Florestal. A solução do "desmatamento líquido zero" - desmatamento legal de áreas com aptidão agrícola compensado por reflorestamento incentivado de áreas sem aptidão - pode ajudar a resolver a questão.

A atualização dos indicadores de produtividade agrícola relacionados com o diagnóstico da função social da propriedade rural, que permitiria rápida desapropriação de terras nos casos previstos em lei ou prêmio para quem faz uso correto da terra.

A demarcação de terras indígenas e quilombolas, prevista na Constituição, mas que causa discórdias com os agricultores nas áreas onde há disputas.

Na minha modesta opinião, o programa atende às principais expectativas do agronegócio. Ele diz ainda que a agropecuária tem uma agenda própria, que será considerada pelo novo governo, reconhecendo-se a importância do setor para o País. Marina afirmou ainda que o programa divulgado é um "projeto em construção" que será revisado sempre que necessário (como, aliás, já o foi no fim de semana).

Precisamos acabar com a falsa dicotomia que tem colocado agricultura e meio ambiente em lados opostos. O agronegócio global só sobrevive com desenvolvimento sustentável. Ele terá de produzir alimentos, bebidas, têxteis, papel, borracha e bioenergia para mais 9 bilhões de habitantes em 2050. Terá de gerar renda para quem nele trabalha e enfrentar crescentes restrições de recursos naturais e clima.

O mundo deposita enorme esperança no Brasil para servir como exemplo global na conciliação de questões econômicas, sociais e ambientais na agricultura. Nossa História recente mostra que estamos em posição bem melhor do que qualquer outro país para dar esse salto. Ou seja, há muito mais convergências do que divergências entre as agendas do agronegócio moderno e a agenda de gestão sustentável dos recursos naturais proposta por Marina Silva.

Marcos Sawaya Jank é diretor global de Assuntos Corporativos da BRF e foi presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e (Unica).

 
Fonte: Blog Rodrigo Constantino (VEJA)

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