Oposição convoca passeata pedindo o fim das milícias na Venezuela (G1)
A oposição venezuelana convocou para este sábado (22) uma passeata exigindo o fim das milícias chavistas, com as quais o governo nega vínculos, como parte da onda de protestos que toma conta do país há três semanas e que já deixou nove mortos.
No mesmo dia haverá um ato de "mulheres chavistas", criando o risco de confronto entre os dois lados, num país altamente polarizado.
Segundo o ministério do Interior, os protestos deixaram nove mortos, sendo cinco baleados, dois atropelados, um motociclista acidentado e um falecido em circunstâncias ainda não apuradas. Os confrontos provocaram ainda 137 feridos e mais de 100 pessoas foram detidas.
Nesta sexta-feira, surgiram denúncias na imprensa sobre tentativas de intimidação durante a madrugada por parte de civis armados contra manifestantes.
Há dias que parte do comércio está fechada na cidade de San Cristóbal, capital do estado de Táchira, onde os protestos começaram, em 4 de fevereiro.
O presidente Nicolás Maduro enfrenta seu pior momento político em dez meses de mandato.
Civis armados em ambos os lados
O governo anunciou que vai mandar tropas do Exército para Táchira, na fronteira com a Colômbia, por acreditar que existem colombianos armados atuando com a oposição. As autoridades classificam a instabilidade política como tentativa de golpe de Estado.
'Existem muitos grupos armados que não parecem fazer parte das forças de segurança do Estado. Não entendo porque estão atuando de maneira livre, impune', denunciou o arcebispo de Caracas, Jorge Urosa.
Repórteres da AFP testemunharam em Caracas, durante a madrugada, uma intimidação contra um grupo de estudantes, realizada por pessoas com megafones, em caminhonetes e motos, todas sem identificação.
Maduro, que nega a existência de milícias ligadas ao governo, denunciou a existência de mercenários contratados pela oposição, e prometeu 'tirar do chavismo' quem está armado.
Capriles retoma protagonismo
O opositor Henrique Carriles, derrotado por Maduro por uma pequena diferença de votos nas eleições do ano passado, foi quem convocou a passeata de sábado em Caracas.
Com isso, retornou à liderança da oposição, que teve como protagonistas desde o início dos protestos os setores radicais do partido Mesa da Unidade Democrática, entre eles Leopoldo López, preso por incitar a violência.
Capriles tinha se distanciado desse grupo por considerar que não era o momento de pedir a saída do governo.
Os protestos estudantis têm sido frequentes em Caracas, San Cristóbal e Valencia, entre outras cidades, e geralmente acabam em confronto com a polícia. É nesse momento, à noite, que aparecem os grupos armados.
As manifestações começaram contra a insegurança, principalmente nos campi universitários, depois que uma estudante sofreu uma tentativa de estupro.
À medida que se espalharam por outras cidades, incorporaram críticas à situação econômica, à censura nos meios de comunicação e pedidos pela libertação de presos nas marchas.
Na quinta, Maduro acusou a rede americana CNN de tentar passar a impressão que há uma 'guerra civil' no país e ameaçou expulsá-la da Venezuela. Na semana passada, o governo retirou do ar o canal colombiano NTN24, que 'pretendia transmitir um fracassado golpe de Estado', segundo Maduro.
A 'CNN Español' informou nesta sexta que o governo da Venezuela havia revogado as credenciais de quatro dos seus correspondentes no país.
Venezuela: em uma semana, 55 agressões a jornalistas
No dia em que Nicolás Maduro expulsou profissionais da CNN, associação de imprensa revela que cobrir as manifestações no país é um risco para repórteres
Estudantes sentam na rua sobre a frase 'A censura é ditadura', durante um protesto anti-governo em Caracas - (17/02/2014) (Juan Barreto/AFP)
O presidente do Colégio Nacional de Jornalistas (CNP, associação dos profissionais de imprensa venezuelanos), Guia Tinedo, informou nesta sexta-feira que entre os dias 12 de fevereiro – data inicial dos protestos contra o governo de Nicolás Maduro – e 20, ao menos 55 jornalistas sofreram algum tipo de agressão na Venezuela. Em uma entrevista transmitida pelo canal Globovisión, Guia revelou que dos 71 casos registrados neste ano, a última semana responde por mais de 77%.
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Guia manifestou preocupação com a crescente onda de ataques contra jornalistas e o impedimento do trabalho da imprensa. Desde o início dos protestos, jornalistas já tiveram seus equipamentos ‘confiscados’ – eufemismo para roubados, pois os profissionais não conseguem recuperá-los – e também foram agredidos por policiais e milícias bolivarianas. Entre os casos de violência registrados, a CNP divulgou um vídeo mostrando policiais agredindo um jornalista do jornal Panorama, em Maracaibo, cidade ao norte do país. Ao lado de outros jornalistas, como o secretário-geral do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Imprensa (SNTP, na sigla em espanhol), Carlos Correa, o presidente da ONG Espaço Público, Bernardino Herrera, e outros, Guia também mostrou preocupação com a situação de censura da mídia e criticou a postura do governo contra a CNN.
Nesta sexta, em mais um ataque contra a liberdade de imprensa, o governo venezuelano, através do Ministério de Comunicação e Informação, cancelou os vistos de trabalho de quatro profissionais da rede americana CNN, a correspondente Osmary Hernández, a apresentadora Patricia Janiot e de sua produtora, e do repórter Rafael Romo. "Já basta de propaganda de guerra, eu não aceito propaganda de guerra contra a Venezuela! Se não se corrigirem, fora da Venezuela, CNN! Fora!", bradou Maduro em um discurso televisionado.
A CNN disse não ter sido notificada sobre o processo e, como se fosse necessário, rechaçou a afirmação de que a cobertura das manifestações tenha o intuito de servir como "propaganda de guerra" contra a administração. "Nós abordamos ambos os lados da tensa situação que vive a Venezuela, embora o acesso aos funcionários do governo seja muito limitado. Esperamos que o governo reconsidere sua decisão. Mas seguiremos informando sobre a Venezuela da forma justa, acertada e balanceada que nos caracteriza como uma empresa jornalística", diz um comunicado da emissora.
Protestos – Ainda que a noite em Caracas pareça calma, novos protestos são esperados para este sábado na capital e nos estados de Táchira, Carabobo, Mérida e Bolívar, redutos onde o governo bolivariano sofre mais críticas. Maduro tenta sufocar as manifestações em várias frentes. Além da repressão policial, o ministro venezuelano do Petróleo, Rafael Ramírez, sinalizou que pode suspender o suprimento de combustível em "zonas de cerco fascistas", mas sem mencionar os estados. Em Táchira, estado no extremo noroeste do país, os moradores sofreram com o corte de serviços essenciais, como eletricidade e telefonia, após grandes manifestações desta semana.