Na FOLHA: As olheiras, POR ELIANE CANTANHÊDE

Publicado em 30/01/2014 05:46

Enquanto discutimos a passadinha da presidente para comer bacalhau em Lisboa, o que deve estar chateando mais a própria Dilma é aquela foto de cara lavada, com umas olheiras medonhas.

É claro que presidentes têm direito a folga, a lazer, a bacalhau bom e a hotel melhor ainda. Muito justo. Mas, pera lá, às escondidas? E reservando 45 suítes nos dois hotéis mais caros? Aliás, para que viajar com meia centena de funcionários?

Não precisava exagerar...

Aí vem a imprensa, sempre essa malvada, e conta tudo. Dá o maior rolo. Dilma fica uma fera. E o Planalto desanda a desfiar versões. No ato seguinte, óbvio, a oposição tira casquinha e entra com pedido de investigação na Comissão de Ética Pública da Presidência. Não durou nem 24 horas, a comissão disse não.

As olheiras, porém, são anteriores a essa celeuma toda. A vida de presidentes é mesmo uma dureza e Dilma, imaginando que ninguém ia saber da "escala técnica" e do passeio pelas ruas de Lisboa, deve ter dispensado a maquiadora. Não devia.

Quem vai de Davos a Cuba, vive se queixando dos pessimistas e dos velhos (e velhas...) do Restelo, reclama de jeitinhos em dados e vê o ministro da Fazenda ironizando os "nervosinhos" deve estar mesmo cheia de olheiras e num mau humor danado.

E ainda há todos os problemas na economia, que teima em não crescer; da reforma ministerial, infernal em ano de eleições; e do PMDB, que está trocando petistas por oposicionistas justamente no Rio, um dos três maiores colégios eleitorais do país.

Agora, vêm esses chatos da internet espalhar brincadeirinhas maldosas sobre os financiamento do Brasil na ilha dos Castro e até lançando um novo PAC, o "programa de aceleração de Cuba". Irreverentes.

Pior: os manifestantes começaram o aquecimento, com o governo novamente atordoado, sem saber qual será, afinal, o tamanho da encrenca durante a Copa. Você ainda queria que Dilma não tivesse olheiras?!

'Fuja do risco', diz gigante de fundos de investimento

DE SÃO PAULO

"Turquia e África do Sul foram reprovadas no teste do câmbio. Não espere para ver quem será o próximo. Reduza riscos e fuja para os títulos do Tesouro dos Estados Unidos ~, POR BILL GROSS -- fundador da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo, em tuíte publicado ontem

Um tuíte enviado ontem pelo fundador da Pimco, uma das maiores administradoras de recursos do mundo e grande investidora em países emergentes, inclusive o Brasil, deu o tom do humor em relação a esses mercados:

O tuíte foi publicado na manhã de ontem, quando a lira turca devolvia parte dos ganhos obtidos nos últimos dias, na expectativa de que o banco central da Turquia elevasse os juros --o que acabou se confirmando na noite de terça-feira. A lira turca fechou o dia em alta.

Também pela manhã, a África do Sul elevava os juros de forma surpreendente para tentar conter a desvalorização de sua moeda, o rand, e seus efeitos na inflação.

No entanto, a decisão não evitou que a divisa fechasse o dia em queda, de 1,40% --a maior perda entre as moedas de 24 países emergentes.

Os títulos do Tesouro dos EUA são considerados o investimento mais seguro do mundo. Investidores costumam correr para esses papéis em momentos de turbulência nos mercados e se desfazer de ativos considerados de maior risco, como ações e títulos de países emergentes.

O movimento de retirada de recursos em direção aos EUA derruba o valor das moedas dos emergentes e valoriza o dólar. É o que ocorre neste momento, enquanto o BC dos EUA desmonta seu programa de estímulos à economia e atrai dólares para o país.

Fed corta estímulo; dólar vai ao maior valor em cinco anos

Decisão do BC americano ignora risco de crise em países emergentes; maioria das moedas se desvaloriza

Moeda americana tem 7ª alta seguida no Brasil; África do Sul eleva os juros, seguindo a Índia e a Turquia

 

O Fed (banco central dos EUA) ignorou as tensões nos mercados emergentes e anunciou ontem que seguirá com os cortes em seu programa de estímulos.

A partir de fevereiro, a injeção mensal de recursos na economia, via compra de títulos, será reduzida de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões. A medida já era esperada.

O novo corte não é bom cenário para as economias emergentes, como o Brasil, já que menos recursos injetados representam menos dinheiro disponível para aplicações em outros mercados.

Além disso, a medida sinaliza que os EUA mantêm o ritmo de recuperação econômica, o que aumenta seu poder de atrair capitais --o "efeito aspirador de pó", como definiu nesta semana o presidente do BC, Alexandre Tombini.

Esse efeito pressiona outros países a aumentar seus juros para atrair recursos necessários. Ontem, mais um emergente, a África do Sul, subiu sua taxa em meio ponto percentual, para 5,5% ao ano, depois de altas na Índia e na Turquia anteontem.

O "aspirador de pó" também acelera a escalada do dólar --investidores precisam comprar a moeda para levá-la de um país a outro, e mais procura faz o preço subir.

No Brasil, o dólar teve ontem a sétima alta seguida e fechou no maior valor desde o fim de 2008 --quando começou a crise financeira global.

A moeda à vista, referência para o mercado financeiro, subiu 0,35%, para R$ 2,435, o maior preço desde 9 de dezembro daquele ano.

Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,41%, para R$ 2,437.

Ontem, das 24 moedas emergentes mais negociadas, 15 caíram em relação ao dólar --a maior baixa foi do rand da África do Sul (1,4%).

PRÓXIMOS PASSOS

Para Nariman Behravesh, economista-chefe do IHS Global Insight, "os cortes do Fed vão representar mais pressão nos fragilizados mercados emergentes, e isso inclui Índia e Turquia, mas também o Brasil".

No país, analistas preveem que o aumento recente dos juros de emergentes não conseguirá frear a saída de recursos. Eles apostam que, após a retirada total dos estímulos, esperada para o fim deste ano, a próxima medida do BC dos EUA seja aumentar o juro básico, hoje quase zero.

Nesse cenário, os títulos públicos americanos, remunerados pela taxa e de baixo risco, tendem a ficar mais atraentes a investidores.

Ontem, o Fed reforçou o compromisso de manter os juros baixos enquanto o desemprego não estiver abaixo de 6,5%. Em dezembro, ele caiu de 7% para 6,7%.

DE OLHO NOS EUA

O corte de ontem foi o segundo feito pelo governo americano. Em dezembro, o Fed já havia reduzido em US$ 10 bilhões (de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões por mês) o valor de estímulo por mês.

A decisão do comitê de política monetária do banco (Fomc) foi unânime --algo que não acontecia desde 2011-- e reflete o otimismo do Fed com o "progresso cumulativo" da economia americana e a "melhoria das perspectivas para as condições do mercado de trabalho".

Ben Bernanke, que passará a presidência do Fed no próximo sábado para Janet Yellen, considera que a política monetária do banco tem como alvo a "economia americana" --e, por isso, não pode se preocupar com o efeito em outros países.

"Uma economia americana mais forte é uma das coisas mais importantes que podem acontecer para os mercados emergentes", disse, em entrevista em setembro.

O mesmo argumento é usado por Tombini: no curto prazo, a retirada de estímulos pode trazer turbulência, mas, no longo prazo, a recuperação americana impulsiona o crescimento global.

O comunicado do Fed sugere que, em março, o ritmo seja mantido: cortes de US$ 10 bilhões em cada um dos próximos seis encontros e fim do programa até dezembro.

Fonte: Folha de S. Paulo

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