Agosto de risco, editorial da Folha de S. Paulo

Publicado em 01/08/2013 05:05 e atualizado em 01/08/2013 08:46
Não bastassem os sinais de deterioração da economia brasileira, presidente vê-se ameaçada de perder o controle sobre a política (editorial publicado na pagina de opinião da Folha de S. Paulo, desta 5a.-feira, 1/agosto/2013)

Não bastassem os sinais de deterioração da economia brasileira, presidente vê-se ameaçada de perder o controle sobre a política

A presidente Dilma Rousseff sabe que não são poucos nem pequenos os perigos que seu governo correrá neste mês de agosto.

Oficialmente de volta aos trabalhos hoje, deputados e senadores devem encaminhar, a partir da próxima semana, a votação de diversos projetos que contrariam os interesses do Planalto.

Entra nessa lista, por exemplo, a promessa, feita pela bancada do PMDB, de apresentar proposta de emenda constitucional a fim de reduzir de 39 para 20 o total de ministérios do governo Dilma.

Premida pelos próprios aliados, a presidente decidiu liberar R$ 2 bilhões em emendas feitas pelos congressistas ao Orçamento da União --e outros R$ 4 bilhões devem ser autorizados em setembro.

Salvo nos recorrentes episódios de corrupção, o dinheiro dessas emendas costuma ser aplicado pelos parlamentares no atendimento de demandas paroquiais. Verbas, portanto, cruciais para a sobrevivência eleitoral de quem já dispõe de uma cadeira no Congresso.

Não seria difícil perceber nas entrelinhas dessa negociação o conhecido "toma lá, dá cá" que predomina nas relações entre Executivos e Legislativos. Dilma, porém, talvez por sua falta de disposição para o trato político, achou que seria o caso de explicitar todas as cláusulas desse contrato.

Em reunião à qual compareceram ministros do PT, do PMDB, do PP, do PC do B e do PSB, a presidente avisou que eles deverão garantir a fidelidade das bancadas de seus respectivos partidos no Congresso --o que nem sempre tem ocorrido, embora essas siglas componham o primeiro escalão federal.

Há dúvidas, no entanto, de que a operação possa alcançar os fins esperados. O Congresso já vinha se mostrando arisco mesmo quando Dilma se refestelava em níveis recordes de popularidade. Depois que os protestos de junho fizeram desabar a aprovação presidencial, seria imprudente apostar na lealdade dos aliados.

Se prevalecer o espírito de vingança dos congressistas, o governo pode sair derrotado em votações de projetos importantes e potencialmente custosos, como o que define o destino dos recursos arrecadados com a exploração do petróleo; o que aumenta a alíquota dos royalties da mineração; e o que cria o passe livre para estudantes no transporte público de todo o país.

Já não são poucos os sinais de deterioração da economia brasileira na gestão de Dilma Rousseff. A presidente, agora, vê-se ameaçada de perder também o controle da política nacional. (FSP).

Odebrecht diz que nunca defendeu volta de Lula

Empresário negou querer petista candidato em 2014 com Eduardo Campos como vice

FOLHA DE SÃO PAULO

O empresário Emílio Odebrecht disse nunca ter afirmado que gostaria de ver a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2014 tendo o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), como seu vice.

A afirmação foi atribuída ao empresário pelo jornal "O Estado de S. Paulo" em coluna publicada em 18 de julho.

Depois, em entrevista da Folha com Dilma Rousseff publicada no último domingo, a presidente reagiu a uma pergunta sobre o assunto. "Vivemos numa democracia. Se ele disse isso, é porque ele quer isso", respondeu a petista.

Em e-mail enviado à Folha, Odebrecht afirmou que "nunca disse a ninguém tal desejo ou questionamento".

"Na primeira e única vez em que semelhante declaração' foi divulgada, não me apressei em desmentir, pois não costumo ficar perdendo tempo com especulações", escreveu. "No entanto, após colocação, em pergunta à presidenta, como se fato verdadeiro fosse, estou pela presente [mensagem] transmitindo meu repúdio e desmentido".

Eleições 2014

Tem boi na linha

 

Junior do Friboi, provavelmente o candidato mais rico que disputará as eleições do ano que vem, já tem praticamente fechado o apoio do PT à sua candidatura ao governo de Goiás. Tem, inclusive, o o.k. de Lula.

Tudo certo, então? Não. Iris Rezende, 79 anos, e que ainda faz chover no PMDB de Goiás, tem colocado alguns obstáculos à frente do seu correligionário. Numa palavra, Junior ainda tem contas a acertar com Iris.

Por Lauro Jardim

Direto ao Ponto

As velharias ideológicas agrupadas no Foro de São Paulo querem construir o futuro com os escombros do Muro do Berlim

No vídeo que ilustra o post republicado na seção Vale Reprise, Hugo Chávez conta que conheceu os companheiros Raul Reyes e Lula em 1995, durante a reunião do Foro de São Paulo realizada em San Salvador. Reyes,  o número 2 na hierarquia das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, estava lá como representante do bando que nasceu sonhando com o paraíso comunista e, há pelo menos 20 anos, sobrevive explorando o narcotráfico. Lula, então convalescendo da primeira derrota para Fernando Henrique Cardoso e já a caminho da segunda, baixara na capital de El Salvador para falar em nome do Partido dos Trabalhadores.

Gravado em 2008, o vídeo transformou-se numa prova contundente de que, ao contrário do que recitaram desde sempre os chefes do PT, as Farc são sócias fundadoras da confraria concebida por Fidel Castro para mostrar, uma vez por ano, que o comunista não é uma espécie extinta. Como nenhuma prova é suficientemente irrefutável para mentirosos patológicos, os pontapés na verdade prosseguiram. Assim que começa a quermesse anual dos órfãos da União Soviética, algum companheiro é escalado para jurar que as Farc jamais participaram do Foro.

Nestes dias, os sacerdotes da seita lulopetista estarão trocando afagos públicos com lhamas-de-franja, viúvas-de-tango, filhotes-de-passarinho, ditadores-de-adidas e outras obscenidades cucarachas. Mas vão fingir que não viram nem de longe alguém procedente da selva colombiana. Nos bordéis de antigamente, as prostitutas topavam tudo, menos beijo na boca. No cabaré das velharias ideológicas, o PT topa qualquer ligação promíscua, aprova qualquer perversão. Mas só anda de mãos dadas com as FARC sem testemunhas por perto.

É no Foro de São Paulo que a turma mostra a cara. A exemplo dos parceiros, o PT nem tenta camuflar o desprezo pelo Estado Democrático de Direito, a certeza de que os fins justificam os meios, a ojeriza aos princípios éticos, a obsessão pelo poder e o sonho do partido único. Na segunda década do século 21, os stalinistas farofeiros não desistiram de construir o futuro com os escombros do Muro de Berlim.

(por Augusto Nunes)

Feira Livre

Mauro Pereira e o Foro de São Paulo: começou o encontro dos liberticidas que se fantasiam de adoradores da democracia

Começou mais uma edição do Foro de São Paulo. Novamente, pessoas sem muito o que fazer, ou sem vontade de trabalhar, estão reunidas na capital paulista para a pauta de sempre: amaldiçoar o capitalismo, chamar “us estadunidense” pra porrada e exercitar as mais exóticas manifestações de democracia. Se sobrar espaço, pode até rolar alguma referência ao atraso que devasta a América Latina.

Talvez estimulado pelo evento, vieram-me à lembrança os dias 3 e 4 de dezembro de 2011, datas contempladas por episódios envolvendo universos diferentes, mas intimamente ligados pelas causas e efeitos que os revestiam. Um pelo viés insólito. Outro pela dramaticidade implícita.

No dia 3, um sábado, recepcionada por Hugo Chaves, sob o patrocínio da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos ─ a CELAC, mais nova sigla criada para aterrorizar o centro-sul do continente americano ─, reuniu-se em Caracas a fina flor da “democracia” imposta à América Latina e ao Caribe. Desfilaram sob os holofotes da imprensa capitalista (a ser censurada) democratas da estirpe dos Castro, dos Morales, dos Correa, dos Ortega, dos Kirschner.

Uma das estrelas do evento foi Dilma Rousseff ,que propiciou o momento mais tenso da reunião ao levantar dúvidas sobre uma questão prioritária: qual calva era a mais atraente, a de Lula ou a de Chaves? Para não ferir suscetibilidades nem causar constrangimentos,  a decisão ficou para um outro encontro.

Aquele ajuntamento de tiranetes decadentes, todos sonhando com seu país particular, uma imprensa companheira, a população submetida ao circo e a oposição à bala, vetou por unanimidade o ingresso dos Estados Unidos e do Canadá na entidade. Decididos a garantir que a injustiça não prospere no continente, negaram-se a macular a CELAC com a presença de representantes dos regimes autoritários que assolam as duas nações do norte.

Em nome dos brasileiros, Dilma assinou o documento que oficializou aquela empulhação cujo texto ridiculariza nossa inteligência e desdenha da fome que castiga latinos-americanos e caribenhos.  Representante de uma das “democracias” mais sólidas e evoluídas do planeta, o presidente cubano Raul Castro foi um dos primeiros a chancelar a farsa.

No dia 4, um domingo, o Brasil tomou conhecimento de um drama que se desenrolava em algum lugar do Maranhão, protagonizado pelo apresentador de televisão Gugu Liberato e por uma família de oito pessoas que sobrevivia em condições sub-humanas. O grupo de brasileiros foi representado por Maria, a mãe,  precocemente envelhecida pela miséria, e pela filha Raimunda, uma adolescente de olhos tristes que não ousava encarar o interlocutor famoso.

Morando com os sete filhos num casebre de pau-a-pique, aquela brasileira valente sobrevivia com o auxílio-doença de uma das meninas. Já não aguentava quebrar coco para prover o sustento da família. Sem acesso a redes de esgoto e com a fossa séptica saturada, todos usavam a mata no fundo do quintal como banheiro e tinham no poço imundo ao lado da palhoça a única possibilidade de saciar a sede, ainda que com a água contaminada.

Teimam em resistir a essa realidade devastadora centenas de milhares de Marias e Raimundas, que sobrevivem à espera de um dia em que apareça para resgatá-las algum gugu liberato. Sobrou somente a dignidade que lhes permite enfrentar o martírio cotidiano, que as autoridades não veem e a propaganda oficial ignora.

Os caudilhos do Foro de São Paulo, que começa oficialmente neste 2 de agosto, deveriam mirar-se no exemplo dessas marias e raimundas, pouco importa se brasileiras, bolivianas ou argentinas. Todas são produtos de um subcontinente macabro, traído por subditadores e subpresidentes.

Continuo a não chorar por ti, América Latina. E chorarei menos ainda depois de mais uma reunião, agora em São Paulo, ao longo da qual os hipócritas recitarão versos em louvor da democracia que desprezam. Não serás digna de uma única lágrima minha enquanto deres guarida a caudilhos e tiranos.

(por Mauro Pereira).

Francisco e os diletantes, por ROBERTO ROMANO *

Sinto muito escrever algo que não entra na euforia pela visita do papa Francisco. No pânico ou arrebatamento, vale seguir Spinoza, para quem não devemos rir nem chorar com os fatos, mas compreender suas articulações, não raro despercebidas na hora. Qual lógica seguirá o simpático bispo de Roma na sua atuação mundial? Não erraremos em demasia ao retomar a História da Igreja nos últimos tempos.

"Toda nação europeia, sem a influência da Santa Sé, será levada invencivelmente à servidão ou à revolta" (De Maistre). O pensamento conservador do século 19 põe no pontífice a base da ordem social e política, premissas retomadas pelos líderes eclesiásticos em documentos e tratados diplomáticos.

A síntese entre poder divino e secular permite entender os papas recentes. Em carta ao cardeal Gasparri (1929), Pio XI diz sobre o Tratado de Latrão: a Igreja e o poder civil formam uma "ordem necessariamente determinada pelos respectivos fins". Logo, "a dignidade objetiva dos fins determina necessariamente a absoluta superioridade da Igreja". O Vaticano sustentou poderes estatais, mesmo quando eles prometiam barbárie, como na Concordata (Reichskonkordat) com Hitler. O apoio ao Führer teve contrapartidas. O artigo 5.º do tratado indica: "No exercício de sua atividade sacerdotal, os eclesiásticos gozam da proteção do Estado, do mesmo modo que os funcionários do Estado". A Igreja proíbe atividades partidárias dos padres e movimentos leigos na Alemanha. Desarmados os católicos, o nazismo se fortifica. Hitler violou sistematicamente a Concordata.

No Vaticano II ocorre importante mudança na política acima. O apoio a Mussolini e a Hitler supunha extirpar liberais, socialistas e outros. A Gaudium et Spes proclama que "muitos e vários são os homens que integram a comunidade política e podem legitimamente seguir opiniões diversas (...) o exercício da autoridade política, seja na comunidade como tal, seja nos órgãos representativos do Estado, sempre deve ser realizado nos limites da ordem moral (...) de acordo com a ordem jurídica legitimamente estabelecida ou por estabelecer". Cautela diante dos líderes autoritários: "Os cidadãos (...) evitem atribuir demasiado poder à autoridade pública e não exijam dela inoportunamente privilégios e proveitos exagerados, de tal modo que diminuam a responsabilidade das pessoas, das famílias e dos grupos sociais".

Depois de Paulo VI a política vaticana vai do Concílio à Realpolitik. João Paulo II colabora para o enterro da URSS, o que libera forças democráticas. Mas, como provam M. Politi e C. Bernstein (Sua Santidade), ele foi silente em face de regimes como o de Pinochet, aliando-se a Reagan em feitos pouco defensáveis. Wojtyla/Ratzinger lançam o Termidor. "É preciso", proclama o Concílio, "reconhecer que a cidade terrena, a quem são confiados os cuidados temporais, se rege por princípios próprios". A maioridade foi reconhecida aos leigos. João Paulo II tutela os fiéis na vida pública e na Igreja. À hierarquia foi atribuído poder inaudito. Logo, a direção da Igreja gira em torno de si mesma, tolera descalabros éticos e políticos que levam à renúncia de Bento XVI. Nada foi deixado aos padres e leigos. Aumenta o êxodo rumo à indiferença religiosa, ao ateísmo.

Segundo K. Mannheim, "a Igreja Católica é a grande instituição que, pela primeira vez, planificou o lado social da cultura. Ela exibe muito saber deixando que seus integrantes externos façam experimentos na sua periferia. Quando eles fracassam a Igreja os desaprova ou excomunga; mas formas bem-sucedidas de ajuste e mudança fazem por vezes suas organizações lutarem pela própria Igreja. Assim ocorreu com as ordens monásticas e grupos missionários como Cluny e os Jesuítas". Francisco ressuscita esperanças dos que seguem a Teologia da Libertação. Mas os altares simultâneos para João XXIII e João Paulo II sinalizam uma complexa abertura pontifícia para várias saídas. Francisco mostra que não assume um discurso fechado, nem favorece a via progressista. O contentamento por seus gestos deve ser moderado pela prudência. Entusiastas não operam com a razão, mas com a vontade e o dogma, acolhidos como inquestionáveis. Quando publiquei meu doutoramento, defendido na França em 1978, João Paulo II era a esperança. Em Brasil, Igreja contra Estado, apresento análises, documentos à vista, nas quais mostro a lógica que move a Igreja moderna: afirmar sua soberania espiritual acima de Estados e sociedades, como na tese de Pio XI. O livro alerta os que imaginavam uma Igreja catequizada pelo socialismo.

Como resposta alguém proclamou, baseado apenas no desejo, "uma inegável tendência da Igreja na direção do projeto socialista, como o verificou o insuspeito historiador da Igreja R. Aubert, e outros analistas sérios" (Clodovis Boff, A Igreja da Esperança). O dito socialismo baseava-se no equívoco de identificar a tese marxista (a socialização dos meios de produção) e a Doutrina Social da Igreja (a propriedade social). Jogo semântico, para ser caridoso, o "socialismo" eclesiástico era desprovido de base histórica.

Na vida social, política, econômica ou religiosa, nada é "inegável", salvo para quem, em vez de pesquisar tendo a dúvida como corretivo, decreta, como o camarada Lyssenko, certezas catastróficas. A repressão de João Paulo II/ Bento XVI foi atenuada, mas nada indica que Francisco, que segue a Doutrina Social da Igreja, chegue ao socialismo ou prescreva heterodoxias morais ou místicas. Os governos também se acautelem: a Igreja apoia a ordem civil, mas busca acima de tudo preservar sua missão e defender seus espaços. Como diz Elias Canetti, perto dela "todos os poderosos dão a impressão de serem modestos diletantes". E diletantes enxameiam nos palácios brasileiros.

* ROBERTO ROMANO É PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA DA UNICAMP E AUTOR DE 'O CALDEIRÃO DE MEDEIA' (PERSPECTIVA).

Fonte: Folha + Estadão + Veja

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