Agentes usam bombas durante desocupação de área indígena em Suia Missu (MT)

Publicado em 30/12/2012 19:05 e atualizado em 01/01/2013 07:19
Segundo moradores, ação começou por volta das 5h deste domingo. Famílias resistem em deixar terra de propriedade dos xavantes. (Pollyana Araújo, do G1-MT).

Bombas de gás lacrimogênio foram jogadas na comunidade Posto da Mata, em Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá, na manhã deste domingo (30), durante operação de retirada das famílias que vivem na terra indígena Marãiwatsédé, segundo relatos de moradores. "Fiquei desesperada. Eles passaram de helicóptero soltando bombas. Uma delas caiu no meu telhado e outra no quintal da minha casa", declarou Neuza Fernandes.

OG1entrou em contato com a Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, que integram a força-tarefa, e as instituições informaram que não têm conhecimento sobre o conflito com os não índios e que a comunicação é feita somente pelos agentes que estão no local. A equipe ligou várias vezes neste domingo para o Departamento da Força Nacional de Segurança Pública, ligada ao Ministério da Justiça e responsável pela operação, mas ninguém atendeu

Segundo a moradora, as bombas começaram a ser jogadas por volta das 5h de hoje. "Saí para conversar com uma vizinha para ver o que estava acontecendo e eles soltaram umas três bombas perto de nós", disse, sobre a ação de desocupação realizada por agentes da Força Nacional de segurança. Ela contou que, além das bombas, os agentes estão usando spray de pimenta para evitar agrupamento de pessoas. "Onde tem três ou mais pessoas eles jogam spray de pimenta para que não fiquem unidas", alegou. No entanto, não há informações sobre feridos,

O presidente da Associação de Produtores da Gleba Suiá Missú, Renato Teodoro Teixeira, afirmou que há muitas viaturas das instituições de segurança no local e os moradores estão assustados. "É um terrorismo. Soltaram várias bombas em cima das casas, comércios, inclusive em uma padaria", frisou.

Alegando preocupação com a situação dos produtores, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, disse ter pedido ajuda ao governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, para que tome providências e intermediar conversa com a presidência da República. "Os produtores estão desesperados e já entraram em contato comigo pedindo socorro", disse.

Moradora da comunidade, a vereadora e vice-prefeita eleita de Alto Boa Vista, Irene Maria Rocha Santos, afirmou que as famílias estão sem alimentos e impedidos de saírem das casas. "Não iremos resistir, mas precisamos saber para onde seremos levados", frisou.

Mesmo caminhão da Funasa antes de ter sido
incendiado (Foto: Rogério Freitas)

Na sexta-feira (28), um caminhão da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foi incendiado pelos produtores. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), o veículo era usado para o transporte de cestas básicas para uma aldeia indígena da região. Após o ato de vandalismo, informou a fundação, os alimentos foram roubados. Não houve registros de feridos durante a ação.

Desde o último dia 10 deste mês, uma força tarefa atua no cumprimento dos mandados de desocupação, entre oficiais de justiça, equipes da Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Exército, além de representantes do governo federal. Desde então vem ocorrendo vários conflitos entre os não índios e policiais.

Contrários à desocupação, os moradores bloquearam vários trechos da BR-158 e MT-242 e impediram o tráfego de veículos, causando congestionamento quilométrico nas rodovias. As rodovias são as principais rotas de ligação com os municípios de Alto Boa VistaConfresa e Porto Alegre do Norte.

A área em disputa tem uma extensão de aproximadamente 165 mil hectares. De acordo com a Funai, o povo xavante ocupa a área Marãiwatsédé desde a década de 1960. Nesta época, a Agropecuária Suiá-Missú instalou-se na região. Em 1967, índios foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e lá permaneceram por cerca de 40 anos, segundo o órgão.

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Presos em área de conflito em MT suspeitos de queimar carro da Funasa

Vilarejo de Posto da Mata foi cercado pela Força Nacional de Segurança.
Caminhão da Funasa foi queimado e 7 toneladas de alimentos saqueadas.

Dhiego MaiaDo G1 MT

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Força Nacional de Segurança prendeu suspeitos que incendiaram caminhão da Funasa (Foto: Aprosum)

Um grupo de moradores da comunidade de Posto da Mata, em Alto Boa Vista, a 1.064 quilômetros de Cuiabá, foi detido neste domingo (30) por agentes da Força Nacional de Segurança pela suspeita de atear fogo no caminhão da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) que carregava sete toneladas de alimentos que seriam entregues para os índios da região na última sexta-feira (28).

De Brasília em uma entrevista concedida por telefone, o secretário de Articulação Social da Presidência da República, Paulo Maldos, informou que o motorista e mais um rapaz da Funasa foram rendidos por um grupo de 20 homens armados. “Eles renderam o motorista e mais um acompanhante e levaram os dois para um hotel. Lá, eles fizeram tortura psicológica e ameaças de morte”, afirmou. Maldos confirmou ainda ao G1 que os alimentos foram saqueados pelos moradores antes do caminhão ser incendiado.

Após o incidente, a Associação dos Produtores de Suiá Missú reiterou que as cestas básicas só foram recolhidas porque os moradores da comunidade estariam “passando fome". Desde o ocorrido, o vilarejo de Posto da Mata passou a ser monitorado pela Força Nacional de Segurança e a tensão na localidade aumentou. A comunidade concentra o último foco de resistência dos não índios contrários à desocupação da Terra Indígena de Marãiwatsédé.

Neste domingo, a comunidade foi cercada por aproximadamente 50 agentes. Depois da notificação das grandes e médias propriedades da região, o Posto da Mata é o próximo alvo pelo cronograma de notificações da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Tensão aumentou na região após destruição do caminhão da Funasa (Foto: Rogério Freitas)

Porém, moradores relataram ao G1 que a chegada do reforço policial na região causou pânico porque, segundo eles, foram utilizadas bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta. A circulação de pessoas pelo local, em um primeiro momento foi impedida, informou os moradores. “Fiquei desesperada. Eles passaram de helicóptero soltando bombas. Uma delas caiu no meu telhado e outra no quintal da minha casa", declarou Neuza Fernandes. 

Os agentes formaram uma espécie de 'Quartel General' no Posto de Combustíveis da localidade. E de lá vão seguir com oficiais de Justiça para cumprir a determinação da Justiça.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, disse ao G1 que também foi acionado pelos moradores a respeito da abordagem das Forças de Segurança no local, que foi classificada como truculenta. "Os produtores estão desesperados e entraram em contato comigo pedindo socorro", destacou.

“Na madrugada de hoje a gente sabia que podia fazer a ação. As forças policiais ocuparam o território para o cumprimento da decisão judicial. Essa ação foi planejada para ser ordeira, pacífica e evitar qualquer confronto entre moradores e os policiais”, explicou Maldos. O representante do governo federal rebateu a acusação de que foram usadas bombas e gás lacrimogênio contra a população.

Processo de desocupação

Marãiwatsédé será devolvida aos Xavantes após
desocupação (Foto: Reprodução/TVCA)

O processo de desocupação dividiu a Terra Indígena de Marãiwatsédé, do povo Xavante, em quatro áreas. Pelo plano serão desocupadas as grandes propriedades, seguidas pelas médias e pequenas. A comunidade de Posto da Mata será a última a ser desocupada.

Em comunicado à imprensa, a Funai informou que em quase 20 dias de operação foram vistoriadas 83 fazendas, sendo que 46 delas foram desocupadas. Somente entre os dias 20 e 27 de dezembro foram atingidas mais 30 fazendas, estando 16 desalojadas. A fundação afirmou ainda que em alguns locais as equipes estão tendo dificuldades de acesso e, por isso, há a necessidade do uso de aeronaves para o cumprimento dos mandados.

A área em disputa tem uma extensão aproximada de 165 mil hectares. Ainda de acordo com a Funai, o povo xavante ocupa a área Marãiwatsédé desde a década de 1960. Nesta época, a Agropecuária Suiá-Missú instalou-se na região. Em 1967, índios foram transferidos para a Terra Indígena São Marcos, na região sul de Mato Grosso, e lá permaneceram por cerca de 40 anos.

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Fonte: G1 MT

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