Importação brasileira de diesel volta a crescer, com nível recorde de fatia russa, diz Argus
Por Roberto Samora e Marta Nogueira
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A importação de diesel pelo Brasil voltou a crescer em junho na comparação anual, com impulso de chegadas do produto mais barato da Rússia, que atingiu um recorde de participação de 64,1% do total descarregado no mês passado nos portos brasileiros, apontou a agência Argus, especializada em preços e serviços de consultoria, em análise à Reuters.
Em junho, o Brasil aumentou em 12,5% a importação total de diesel, para 1,08 bilhão de litros, segundo dados de analistas e do governo brasileiro, após terem recuado na comparação anual em abril e maio.
Já a participação russa no total importado havia caído em maio para 47,6%, após atingir 56,4% em abril, segundo a Argus.
"A recuperação da participação da Rússia no mercado de diesel importado (em junho) ocorreu em meio ao aumento de participantes do mercado ativos na aquisição de cargas russas no mês passado", disse o especialista em combustível da Argus, Amance Boutin.
Segundo ele, o valor do diesel russo continuou "muito competitivo", sendo negociado a um desconto de 190 reais/metro cúbico em relação ao combustível vindo de outras origens na semana passada, de acordo com as informações levantadas pela Argus junto com participantes de mercado.
A fatia de diesel russo havia caído em maio possivelmente por limitações de tancagem, especialmente das menores distribuidoras e tradings, mas em junho voltou a crescer bem, notou Boutin.
O produto da Rússia tem sido ofertado com desconto em relação a outras origens, conforme o país "se mobiliza para garantir uma maior diversificação de compradores" diante de sanções dos países do G7 aos derivados produzidos naquele país, por conta da guerra da Ucrânia, destacou o analista de Energia da StoneX, Bruno Cordeiro.
O especialista, citando dados do governo, afirmou que o volume importado de diesel russo pelo Brasil em 2023 já soma 2,24 bilhões de litros, tornando a Rússia o principal fornecedor do derivado ao país, superando os Estados Unidos, que enviou cerca de 2,03 bilhões de litros.
A quantidade de diesel russo importado em 2023 já supera em 112,8% a observada em 2022, acrescentou Cordeiro.
A participação da Rússia cresce apesar de o Brasil ter reduzido em 3,5% as importações totais de diesel no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado, para 6,9 bilhões de litros, segundo avaliações dos analistas, com base em dados do governo.
Em junho, as exportações marítimas de diesel e gasóleo da Rússia em junho aumentaram 13% em relação ao mês anterior, para um total de cerca de 3,6 milhões de toneladas, sendo que quase 10% com destino ao Brasil, mostraram dados de traders e da Refinitiv Eikon. Parte dessas cargas deve chegar ao longo de julho.
CONSUMO
As importações totais de diesel pelo Brasil, ainda que acumulem uma queda no semestre, tiveram altas em meses próximos de períodos de maior intensificação de colheita de grãos conjugada com o escoamento da produção de soja e milho, como foi o caso de fevereiro (+83,29% ante 2022), março (+44,12%) e, mais recentemente, em junho, segundo compilados da Argus.
A colheita de milho deve se intensificar de maneira geral no país em julho, enquanto o Brasil também projeta aceleração de exportações do cereal no segundo semestre e ainda precisa exportar um saldo de soja colhida na primeira parte do ano.
As vendas de diesel pelas distribuidoras no Brasil, importante indicador do consumo, aumentaram 1,4% de janeiro a maio em relação ao mesmo período do ano passado, para 25,73 bilhões de litros, conforme os últimos dados publicados pela reguladora do setor, a ANP.
O indicador do combustível mais consumido no país vai em linha com o crescimento do consumo de diesel B (com mistura de biodiesel) estimado pela StoneX em 2023 (+1,3%), "motivado principalmente pela evolução da economia ao longo dos primeiros meses do ano e as safras em volumes elevados de soja e milho no país, que contribuem de maneira significativa para expansão" da demanda, disse Cordeiro.
Já a importação de diesel puro tem oscilado neste ano em alguns meses do ano também em função de maior produção da Petrobras -- recorde de volumes produzidos de S-10 em maio -- e de uma mistura maior de biodiesel (de 12% a partir de abril, versus 10% no ano passado), o que também impacta o consumo do combustível (sem mistura).
(Por Roberto Samora e Marta Nogueira)
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