O governo Lula I, que tomou posse em 1/1/2003, começou acertando: manteve a política econômica de Fernando Henrique, ortodoxa e conservadora. O receio de que fosse fazer o inverso, quebrar os contratos de privatização, colocar o PT no Banco Central, felizmente não se materializou, mas elevou a cotação do dólar a quatro reais. Por quê? Curiosamente, foi o medo antecipado de Lula que produziu um efeito positivo, gerou o arranque das exportações brasileiras e impulsionou a balança comercial.
Logo em seguida, contudo, aparece Jefferson e desnuda a corrupção deslavada do partido e aliados, inclusive a dele, com o escândalo do mensalão, Delúbio, demissão de José Dirceu, Banco Rural, Duda Mendonça, etc. A máquina partidária se revelou e mostrou o seu objetivo claro, perpetuar-se no poder e para isso providenciar o dinheiro necessário.
No campo social, Lula, com sua sensibilidade política, avança como a Bolsa Família (que fora criado por FHC), dando suporte aos pobres, especialmente do nordeste. Isto asseguraria sua reeleição.
Graças aos elevados saldos comerciais, que no período 2006-2007 atingiram mais de quarenta bilhões de dólares por ano, as reservas cambiais crescem e o ufanismo econômico dispara, enviesando as análises. Nisso, os economistas do sistema financeiro colaboraram, já que suas analises sempre são embaladas pelos ganhos elevados dos bancos e pela disparada das ações na Bovespa.
Contudo, desde 2005, os sinais da crise se avolumavam, especialmente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Em meados de 2007, as principais bolsas mundiais reverteram suas tendências de subida. Mas essa reversão só acontece no Brasil um ano depois, muito tarde. Não seria o caso, desde 2007, se ter iniciado uma política preventiva, cuidando do real excessivamente valorizado? O Banco Central alega que cuida apenas da inflação; o Ministério da Fazenda (que deveria ser o inexistente Ministério da Economia) nada fez para impedir que milhares de pequenas e médias empresas deixassem de exportar devido ao câmbio. Se corrigíssemos a cotação do real pelo índice da Fundação Getúlio Vargas, a partir de julho de 1994, quando equivalia a um dólar, chegaríamos a quatro reais e cinqüenta centavos! Como exportar a R$ 1,55, cotação de meados de 2008?
Em 2008 tivemos o ano do desnudamento do sucesso econômico. Mas o ufanismo e o marketing político o encobrem em boa parte. É a hora da marolinha, da previsão de crescimento de quatro por cento para 2009. E do PAC, e de sua ministra, com a nova face remodelada. Os vinte e oito bilhões negativos no balanço de pagamentos em 2008 atestam o descuido com a excessiva valorização do câmbio, e com a exagerada confiança no câmbio flutuante. Por que a China se recusa adotá-lo?
A poupança brasileira gerada pelo governo está minguada: na prática, o governo tem apenas despesas. Hoje são 27 ministérios (no passado, com Collor, foram 16) e mais 8 ministros, 35 no total, além de 5 secretarias. A máquina pública inchou, consumindo todos recursos arrecadados, embora estes estiveram crescendo continuamente até 2008. Como ficamos em 2009?
A taxa selic fecha o raciocínio. Iniciou agora sua descida. O efeito dela só será sentido seis a dez meses à frente. O Banco Central tinha, com seus doutores em economia, todos os sinais para baixá-la no início de 2008. Não o fez. O sistema financeiro, que carrega os títulos públicos, agradece.
A corrupção, a bandidagem, os tiroteios nas bordas das favelas, a má qualidade do ensino público, os assaltos contínuos, os seqüestros, onde isso tudo vai parar? O tecido social brasileiro, especialmente nas grandes cidades, está esgarçado, rompido. Como repará-lo se o mau exemplo vem de Brasília?
Mario Sergio Cardim Neto
Economista Diversos cursos no Brasil e Estados Unidos Professor FGV
Prós e contras dos 2 governos de Lula.
O governo Lula I, que tomou posse em 1/1/2003, começou acertando: manteve a política econômica de Fernando Henrique, ortodoxa e conservadora. O receio de que fosse fazer o inverso, quebrar os contratos de privatização, colocar o PT no Banco Central, felizmente não se materializou, mas elevou a cotação do dólar a quatro reais. Por quê? Curiosamente, foi o medo antecipado de Lula que produziu um efeito positivo, gerou o arranque das exportações brasileiras e impulsionou a balança comercial.
Logo em seguida, contudo, aparece Jefferson e desnuda a corrupção deslavada do partido e aliados, inclusive a dele, com o escândalo do mensalão, Delúbio, demissão de José Dirceu, Banco Rural, Duda Mendonça, etc. A máquina partidária se revelou e mostrou o seu objetivo claro, perpetuar-se no poder e para isso providenciar o dinheiro necessário.
No campo social, Lula, com sua sensibilidade política, avança como a Bolsa Família (que fora criado por FHC), dando suporte aos pobres, especialmente do nordeste. Isto asseguraria sua reeleição.
Graças aos elevados saldos comerciais, que no período 2006-2007 atingiram mais de quarenta bilhões de dólares por ano, as reservas cambiais crescem e o ufanismo econômico dispara, enviesando as análises. Nisso, os economistas do sistema financeiro colaboraram, já que suas analises sempre são embaladas pelos ganhos elevados dos bancos e pela disparada das ações na Bovespa.
Contudo, desde 2005, os sinais da crise se avolumavam, especialmente nos Estados Unidos, mas também na Europa. Em meados de 2007, as principais bolsas mundiais reverteram suas tendências de subida. Mas essa reversão só acontece no Brasil um ano depois, muito tarde. Não seria o caso, desde 2007, se ter iniciado uma política preventiva, cuidando do real excessivamente valorizado? O Banco Central alega que cuida apenas da inflação; o Ministério da Fazenda (que deveria ser o inexistente Ministério da Economia) nada fez para impedir que milhares de pequenas e médias empresas deixassem de exportar devido ao câmbio. Se corrigíssemos a cotação do real pelo índice da Fundação Getúlio Vargas, a partir de julho de 1994, quando equivalia a um dólar, chegaríamos a quatro reais e cinqüenta centavos! Como exportar a R$ 1,55, cotação de meados de 2008?
Em 2008 tivemos o ano do desnudamento do sucesso econômico. Mas o ufanismo e o marketing político o encobrem em boa parte. É a hora da marolinha, da previsão de crescimento de quatro por cento para 2009. E do PAC, e de sua ministra, com a nova face remodelada. Os vinte e oito bilhões negativos no balanço de pagamentos em 2008 atestam o descuido com a excessiva valorização do câmbio, e com a exagerada confiança no câmbio flutuante. Por que a China se recusa adotá-lo?
A poupança brasileira gerada pelo governo está minguada: na prática, o governo tem apenas despesas. Hoje são 27 ministérios (no passado, com Collor, foram 16) e mais 8 ministros, 35 no total, além de 5 secretarias. A máquina pública inchou, consumindo todos recursos arrecadados, embora estes estiveram crescendo continuamente até 2008. Como ficamos em 2009?
A taxa selic fecha o raciocínio. Iniciou agora sua descida. O efeito dela só será sentido seis a dez meses à frente. O Banco Central tinha, com seus doutores em economia, todos os sinais para baixá-la no início de 2008. Não o fez. O sistema financeiro, que carrega os títulos públicos, agradece.
A corrupção, a bandidagem, os tiroteios nas bordas das favelas, a má qualidade do ensino público, os assaltos contínuos, os seqüestros, onde isso tudo vai parar? O tecido social brasileiro, especialmente nas grandes cidades, está esgarçado, rompido. Como repará-lo se o mau exemplo vem de Brasília?
Mario Sergio Cardim Neto
Economista Diversos cursos no Brasil e Estados Unidos Professor FGV
Diretor da MS Cardim Consultores Associados