Produtividade, Rentabilidade e Equilíbrio Agroambiental, por Afonso Peche

Publicado em 19/12/2018 10:49
Afonso Peche é Engenheiro Agrônomo, Pesquisador Científico do IAC – Instituto Agronômico

Apesar de toda exaltação a produtividade, não é ela que efetivamente resolve o problema do agricultor brasileiro. De nada adianta altas produtividades se a lavoura não gerar renda, se o manejo resulta em declínio agroambiental. É comum ver em folhetos ou textos destacando o poder tecnológico do produto em alavancar produtividade, mas é raro aquele que destaca meios para potencializar renda. A garantia de renda é a construção de ambientes produtivos onde o equilíbrio ambiental é o foco do manejo.

“arte de agricultar” trata essencialmente de gerar impactos positivos constantes e uma busca construtiva de cenários equilibrados, geradores de renda. O agricultor mais evoluído torna-se um grande intérprete das ansiedades ecossistêmicas das áreas produtiva. Um artista que é capaz de ler as vulnerabilidades e demandas ambientais muito melhor que um profissional tecnicista, com visão reducionista, e que insiste em dizer ou acreditar que a tecnologia vai resolver a perenidade produtiva das terras agrícolas. Uma correta análise do “mundo imediato” da propriedade agrícola vai nos ajudar a entender a dimensão de cada um dos fatores envolvidos nas relações ambientais da produtividade e da renda.

Quando substituímos a paisagem natural por uma paisagem agropecuária saímos de uma condição ecossistêmica para uma de agroecossistema. Equilíbrio agroambiental, ou equilíbrio agroecológico, é o estado de um agroecossistema. É uma condição onde a biodiversidade presente promove um equilíbrio de espécies, não ocorrendo expressividade de pragas e patogenicidade de fungos, bactérias ou vírus; além disso as relações do sistema radicular com microrganismos benéficos potencializa o desempenho produtivo das plantas cultivadas tornando-as mais resistentes aos estresses térmicos e hidrológico. A correta interação da biodiversidade com o meio físico vai permitir mais infiltração e correta disponibilidade de água para as plantas.

Nos trópicos os ecossistemas são formados por uma grande influência das chuvas torrenciais e das atividades biológicas diversificada (ADB). Estes fatores condicionam o solo a ser totalmente dependente de uma considerável quantidade de material orgânico na superfície. A cobertura morta ou verde do solo é diretamente responsável pela estabilidade do perfil cultural. Todas as vezes que o solo fica exposto ocorre mais atividades degradantes do que atividades conservacionistas. Exposição do solo fragiliza as áreas produtivas aumentando a vulnerabilidade natural. O efeito do sol intenso diminui a biodiversidade e as chuvas desagregam intensamente as camadas superficiais.

Um fator que desclassifica o sistema plantio direto é a falta de qualidade no manejo da cobertura. Os vazios resultantes do mal manejo de distribuição nada mais são do que solo exposto. Nestes pontos vazios a temperatura se eleva comprometendo o desempenho fisiológico da planta. De nada adianta tecnologia se a planta está sofrendo um estresse térmico constante. O solo exposto nos vazios são precursores do empoçamento e de plantas improdutivas. Sucessivas safras com manejo de cobertura deficientes compromete o equilíbrio agroambiental e dá início a perda de renda mesmo com uma produtividade alta.

Tags:

Fonte: Revista Attalea

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Exportações do agro com resultados impressionantes, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Meio ambiente: Nós protegemos! Por José Zeferino Pedrozo
Que Momento Impressionante ao Agronegócio, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Boas Condições para 2021 ser Ano de Tratoraço no Agro, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
A Encruzilhada: Contingenciamento das exportações ou Convulsão Social? Por Eduardo Lima Porto
Milho & Soja: O outro lado do potencial altista para o complexo agrícola, por Liones Severo
undefined