O que nos espera em 2019? Por Bartolomeu Braz Pereira

Publicado em 18/12/2018 09:55
Bartolomeu Braz Pereira é Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja – Aprosoja Brasil

Os especialistas que participaram do Agro Cenário 2019, evento promovido no dia 12 de dezembro de 2018, em Brasília, deixaram uma impressão positiva sobre as perspectivas na política e na economia para o próximo ano no país, a mesma já percebida pela sociedade brasileira. Além do novo momento político, com grande renovação no Congresso Nacional, devemos entrar em um novo ciclo de crescimento econômico no Brasil. A pergunta é: e para os produtores rurais, como será 2019?

A sociedade brasileira deixou claro nas urnas sua insatisfação com a velha forma de fazer política e seus representantes. Por outro lado, a mesma sociedade passou a participar mais do processo político e democrático e as mídias sociais tiveram grande parcela de responsabilidade neste processo de amadurecimento da democracia, permitindo ao eleitor livre acesso à informação e maior empoderamento de suas opiniões. Em outras palavras, a opinião pública demonstrou que o dinheiro gasto nas campanhas eleitorais não é mais fator determinante para definir o resultado das urnas. Não foi o investimento dos candidatos que fez a diferença.

Politicamente a perspectiva é positiva, já que o governo eleito não chegou lá através das tradicionais coligações e não precisa usar os partidos políticos para promover loteamento da máquina pública, como na velha política do “toma lá, dá cá”. A nova administração em transição tem demonstrado predileção por indicar pessoas com perfil técnico, algo já feito na época de Getúlio Vargas com relativo sucesso. Ou seja, enxuga a máquina, promove auditoria em todos os ministérios e programas e coloca o país no rumo certo.

Para os produtores, a perspectiva política é positiva. A deputada federal Tereza Cristina, legítima representante do setor, juntamente com outros órgãos, antes bipolares perseguidores do setor que mais beneficia a sociedade brasileira, colocarão em prática reformas que beneficiem os empreendedores rurais e não atrapalhem aqueles que geram tributos, empregos e divisas ao país.

Na economia, Ricardo Amorim surpreendeu a todos ao prever uma crise econômica nos Estados Unidos nos próximos meses, sinalizada pela inflação crescente e elevação de juros naquele país. Para o Brasil, o cenário desenhado é o oposto: saída do fundo do poço e início da retomada de crescimento, com inflação sob controle e retomada de investimentos.

Evidentemente, tudo depende do cenário político e da concretização das reformas, como da previdência. Reduzir a burocracia e a carga tributária são palavras de ordem. O país é o terceiro maior cobrador de impostos entre todos os 156 países emergentes e ainda assim gasta mais do que arrecada. Por quê? Excesso de gastos com previdência social e folha de pagamento do governo. Nos últimos quatro anos, os gastos com previdência cresceram R$ 163 bilhões e com o pagamento dos funcionários outros R$ 68 bilhões. Enquanto isso, os investimentos em infraestrutura caíram pela metade, para R$ 45 bilhões, o que não dá nem para manutenção da infraestrutura atual.

De acordo com integrantes da equipe de transição, o governo vai promover o enxugamento da máquina e pretende lançar mão de medidas para elevar a produtividade da mão de obra brasileira. Hoje, em média, é preciso quatro brasileiros para fazer o serviço de um norte americano. Portanto, teremos um governo mais enxuto, eficiente e produtivo. O poder executivo federal deve propor uma reforma previdenciária de maior impacto e menos agressiva. E trabalhará para reduzir a dívida pública, com funcionários se aposentando sem reposição e com a digitalização e modernização da gestão do governo. Para Costa, se recuperarmos nossa capacidade produtiva, o PIB crescerá 3,5% em 2019, com potencial de 5% nos anos seguintes.

Para os produtores o cenário atual é positivo, embora em meio às incertezas como, por exemplo, em relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China e a febre suína africana na China, com chances de impacto negativo nas compras de soja. Nos EUA, há soja a céu aberto, algo inédito, e aqui as lavouras estão bem estabelecidas, porém, com algumas regiões já sentindo reflexos da falta de chuvas, como no Paraná.

Para a safra 2018/2019, a previsão da Conab é de uma produção próxima dos 120 milhões de toneladas da oleaginosa. Apesar da previsão de aumento em relação ao último ciclo, a questão cambial pode ser um desafio ao produtor. Isto porque entre agosto e setembro, quando o produtor adquiriu insumos (defensivos, fertilizantes, entre outros), o dólar estava no patamar de R$ 4,20. Agora, no momento em que precisa comercializar a produção, a moeda norte-americana baixou para cerca de R$ 3,90, o que pode tirar rentabilidade do produtor diante dos custos de produção.

O tabelamento de frete travando nossa comercialização de soja em 30% – quando deveríamos ter algo em torno de 60% vendido, e reduzindo margens – é mais um fantasma nas mãos do Supremo Tribunal Federal. A paralisação dos caminhoneiros, entre maio e junho, provocou atraso para a chegada dos fertilizantes e chegou a colocar em risco o início do plantio. Por isso, o produtor comprou os insumos logo que pode, mesmo com dólar alto, sob o risco de não poder plantar. O produtor garantiu a comercialização com margens menores do que poderia obter diante da oportunidade ímpar de ganhos melhores em decorrência da guerra comercial entre as duas maiores superpotências mundiais.

Ou seja, políticos nos EUA e no Brasil comprometeram de forma decisiva a vida dos sojicultores. Lá os produtores que antes apoiaram o presidente Donald Trump hoje são opositores. Aqui, o governo novo tem a oportunidade de resolver problemas atuais e aprender com os erros da gestão Trump.

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Fonte: Aprosoja Brasil

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