Relatórios do USDA x Estimativa da Conab, do plantio ao pós colheita. Por Valdir Fries
Entre uma estimativa e outra, simples estratégias, a depender dos interesse de cada governo, pode contribuir em muito na busca de melhores preços de comercialização, não apenas de mercado interno, mas, principalmente na garantia de maior valor dos produtos destinados às exportações.
O Brasil vive com a economia no mais profundo atoleiro, e para sair, o que mais precisa é garantir bons preços de mercado de tudo que é exportado, principalmente da produção agropecuária, carro-chefe da economia.
Quando atolado no lamaçal, na tentativa de sair dos enrosco, o melhor a fazer é analisar o atoleiro em que se encontra e usar da melhor estratégia, a depender, uma redução de marcha antes da aceleração, pode evitar o um enrosco ainda maior. E para quem vive com sua economia no atoleiro como é o caso do Brasil, vender expectativas de super safras nem sempre é a melhor das saídas.
“Do plantio à colheita são inúmeros os riscos. Soja plantada não é soja colhida”.
Ao contrário, o mercado sabe, todos sabem, "armazém cheio, bolso vazio". Portanto, vender expectativas de super safra de forma antecipada na busca de estratégias para garantir a entrada de mais recursos internacionais na economia não é a melhor saída.
Quanto a isso, ao que se vê, o governo brasileiro anda na contra-mão ao fazer uso de estratégia equivocada em suas tentativas de conter a inflação e a retomada do desenvolvimento.
O governo tem, através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, alardeado as estimativas de safras da CONAB como um troféu já conquistado, gerando a expectativa do "armazém cheio".
"Do plantio à colheita são inúmeros os riscos. Soja florida não é soja colhida".
O uso da politicagem do governo brasileiro na divulgação de suas commodities é clara, e podemos observar comparando as principais divergências entre relatórios do USDA versus estimativas da CONAB.
Como base, usamos apenas o último ano agrícola. Enquanto o USDA, em 10 de maio de 2016, época em que os produtores rurais estavam implantando a cultura, e ou as lavouras ainda em fase inicial de desenvolvimento inicial naquele país, no caso da soja, foi divulgado em relatório, uma previsão de safra com produtividade média inferior a obtida o ano anterior (que já tinha sido baixa). O USDA previu, inicialmente, uma estimativa de 52 sacas por hectare, contra as 54 sacas por hectare colhidas na safra anterior.
Isto significa que, ao considerar uma produtividade menor em suas estimativas, o USDA considera de forma antecipada uma margem de riscos das possíveis perdas decorrente e inúmeros fatores negativos que se previam e poderiam ocorrer ao longo de todo ciclo da cultura. Outro fato considerado na composição foi uma pequena redução da área de plantio em relação ao ano anterior, o USDA divulgou em sua produção inicial de 103,42 milhões de toneladas de soja para a safra 2016.
Com isso, o USDA, colocou a salvo os produtores do seu país, uma vez que retirou a expectativas de super safra e eliminou a possibilidade do mercado considerar qualquer excesso de produção no mercado internacional. Esta simples redução de 2 sacas por hectare, promoveu na época uma alta dos preços de forma imediata, tanto no mercado físico como também nos contratos de mercado futuro realizado pelas Bolsas de Mercadoria.
Outro fator importante que o USDA utiliza de forma estratégica em seus relatórios é a divulgação dos estoques, e neste caso em maio de 2016, enquanto o mercado previa um estoque de 11%, o relatório trouxe um estoque de 8,03%, bem abaixo inclusive do que seu próprio relatório anterior, que era de 12,11%.
(Acesse o link e confira as informações – https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/usda/173115-usda-espera-producao-menor-de-soja-na-safra-201516-com-reducao-de-area-e-produtividade.html#.WHvudBsrLIU).
Tudo isso influenciou as altas imediatas nos preços internacionais, beneficiando não só o produtor dos Estados Unidos, mas o próprio país EUA, salvando inclusive nós, produtores rurais brasileiros, que ainda tínhamos na época um pequeno percentual da produção a ser comercializada.
Além disso, promoveu também uma ligeira alta no mercado físico e nos preços de contratos futuros aqui no Brasil, beneficiando muitos produtores rurais que puderam aproveitar a oportunidade vendendo o grande parte do que restava, como também da safra 2016/2017, a valores que variaram de R$ 75,00 até 86,00 a saca, tanto no físico como em contratos firmados a termo e/ou através de outros mecanismos de contrato futuro praticados no mercado.
E o que fez o governo brasileiro em 2016 em suas estimativas de produção?
Bem, em janeiro de 2016 a CONAB, já em sua IV estimativa de safra, divulgou uma da produção em 210,5 milhões de toneladas de grão como um todo, promovendo uma verdadeira queda dos preços no mercado interno, ficando a níveis abaixo dos R$ 55,00 a saca em pleno período de colheita.
Também em maio de 2016, dias antes da divulgação do relatório do USDA mencionado acima, o GOVERNO BRASILEIRO lançou aos holofotes a divulgação antecipada do PLANO SAFRA safra 2016/2017, na tentativa de se salvar politicamente, provocando mais um erro na ocasião. Até porque, na época, diante de tantas intempéries climáticas que já tinham ocorrido nas lavouras de grande parte das regiões produtoras do Brasil, o próprio MAPA vinha e reafirmava uma produção brasileira de grãos acima dos 200 milhões de toneladas, e a CONAB trazia em suas estimativas uma redução de safra próximo a 6 % da inicial.
Nesta mesma época (maio 2016) já se tinha como certo perdas significativas na produção de soja e arroz no sul do país devido El Niño, fator climático que provocou excesso de chuvas no sul. Todos já sabiam que a safra de soja em partes do Centro-Oeste e do Nordeste já estava comprometida pela falta de umidade do solo, época inclusive em que já se divulgava e se registava na imprensa as perdas de produção do milho safrinha (segunda safra de milho), nas mesmas regiões do Centro-Oeste e algumas lavouras cultivadas nas regiões do Nordeste brasileiro e em partes do Mato Grosso.
E quando que a CONAB foi admitir e divulgar as perdas de produção mais significativa em relação a estimativa inicial?
De forma mais significativa somente a partir de julho de 2016, caindo na realidade, a CONAB só veio a registrar estas perdas em seu ultimo relato. Somente em setembro de 2016.
Portanto, de uma estimativa de 210,5 milhões de toneladas de grão previsto inicialmente pela CONAB, ao final o Brasil colheu apenas 186,5 milhões de toneladas.
Ou seja, o GOVERNO BRASILEIRO vendeu na safra 2015/2016 uma expectativa de super safra, sem qualquer margem de risco, deixando o produtor brasileiro a mercê do mercado mundial.
Podemos afirmar que o governo promoveu uma ação desastrosa na safra passada e, ao que vimos, a história já se repete nesta safra de 2016/2017. Nós produtores rurais bBrasileiroa ficamos em 2016 na berlinda.
Se obtivemos algum aumento de renda, devemos em grande parte aos relatórios do USDA, com base na ligeira alta dos preços de mercado internacionais que os EUA souberam promover em maio de 2016 e nos renovam estas possibilidades agora em 2017 em seu relatório final de safra.
E qual foi a produção dos ESTADOS UNIDOS que o USDA apresentou em seu ultimo relatório da safra 2016?Divulgado agora em janeiro de 2017, o USDA apresentou em seu relatório uma safra surpreendente na produção de soja. Foram colhidos no EUA uma média de 59,07 sacas por hectare, bem acima das 52 sacas divulgadas la em maio de 2016.
E para se precaver de uma queda de preços internacionais, foi além. Mesmo oficializando a divulgação de uma produção total de 117,2 milhões de soja já concretizada, o USDA se precaveu mais uma vez da estratégia, ou seja, junto com a divulgação de resultado final de safra maior, o governo dos EUA divulgou mais uma vez a redução dos estoques, que embora tenha sido com uma pequena margem em relação ao relatório anterior (divulgado em Dezembro de 2016). Com isso, promoveu imediatamente (mais uma vez na mesma safra agrícola), a garantia de ligeira valorização dos preços.
Ou o BRASIL para e muda a estratégia de querer conter a inflação vendendo expectativas de super safra de grãos com a ilusão de reduzir os preços dos alimentos, além de querer aumentar popularidade de governos com a velha politicagem perante a sociedade de que está fazendo de tudo para o setor produtivo do AGRONEGÓCIO.
Está na hora do GOVERNO BRASILEIRO parar com estas estimativas que tem o objetivo de vender expectativas de super safra para o mercado mundial na tentativa de vislumbrar a retomada da “confiança” de investidores internacionais e impulsionar a economia.
“Do plantio à colheita são inúmeros os riscos. Soja granada não é soja colhida, nem armazenada”.
Certo que os produtores rurais Brasileiros usam das melhores tecnologias para obter melhores produtividades, certo que o Brasil vive um constante aumento de área plantada, mas nem por isso podemos desafiar a natureza estimando super safras antes de colher.
Podemos colher super safras sim, nem por isso precisamos vender expectativas para o mercado.
O USDA nos dá exemplo, sem omitir resultados de super safra, usam de estratégia que garantem aumento dos preços para seus produtos exportados, tanto na hora que fez a previsão de seus 103,42 milhões de toneladas de soja em seu relatório no inicio da safra, como também promoveu a recuperação dos preços ao divulgar sua safra obtida de 117,2 milhões de toneladas colhidas. (Acesse: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/usda/185399-usda-reduz-estoques-e-producao-de-soja-nos-eua-com-numeros-abaixo-do-esperado.html#.WHv-ohsrLIV).