Começo de safra desafiador, por Coriolano Xavier

Publicado em 09/12/2016 09:09
Coriolano Xavier é Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.

A contratação de crédito rural para a próxima safra registrou um declínio de 18% de julho a outubro deste ano, comparativamente ao mesmo período do ano passado. Recuou de R$ 40,7 milhões para R$ 33,3 milhões, segundo Relatório do Banco Central divulgado no começo de novembro, sobre a contratação de crédito rural, durante o primeiro quadrimestre do Plano de Safra 2016/2017.

Sob uma análise regional, o comportamento também foi declinante em todo o país, com ênfase nas três principais regiões produtoras: Sul, com queda de 19%; Sudeste, com 17%; Centro-Oeste, com 17%; e Nordeste, com 2%. Outro índice que apresentou queda foi o do número de produtores contratantes de crédito de custeio, que baixou 10% -- lembrando que os financiamentos no âmbito do Pronaf registraram uma elevação.

Analisando esse quadro por cultura, chama atenção o caso da soja, que mostrou um recuo de 40% no crédito de custeio contratado no quadrimestre jul-out, em comparação com o mesmo período de 2015. Claro que tem mais oito meses de Plano de Safra pela frente e isso pode se alterar. Mas será que haveria aí um começo de crédito racionado? Um movimento de transferência do custeio para as costas do produtor e de seus financiadores comerciais?

Conversando com um tradicional produtor de soja do médio-norte de Mato Grosso, “Zeca de Lucas”, uma liderança regional, ele pondera que não tem sentido a falta de crédito para o custeio. “Realmente, parece que a verba caiu um pouco na minha região; mas quando se soma com os recursos liberados de pré-custeio o volume é até um pouco superior ao da safra passada. Limitados estão os recursos do BNDES, para investimentos”.

O grande desafio, segundo o sojicultor de Lucas do Rio Verde, está nos custos de produção mais elevados este ano. Custos totais (diretos e indiretos) na casa de R$ 3.200/ha, na região, e custos diretos em R$ 2.700/ha. Algo como 50 e 45cs/ha, respectivamente. Como as previsões apontam rendimento médio de 53,2 scs/ha naquela área, os cultivos que tropeçarem na produtividade poderão ter remuneração bem mais apertada.

Mas a safra de soja é vista com otimismo, o plantio começou mais cedo e está acelerado, de olho em melhores condições de mercado e na definição de uma boa janela de safrinha, para ganhar em desempenho do milho. Outubro também trouxe outro fato novo: em 2015, por essa época, 47% da produção esperada de soja já estava vendida; neste ano, ficou em 27%. Preços desinteressantes e o produtor bancou o futuro, mesmo com maior incerteza.

Voltando à questão do crédito em geral, o Relatório do BC informa que houve aumento de 5% na contratação de recursos para investimento e de 10% nos créditos para comercialização.

Soma-se as projeções totais da safra (mais 200 milhões de t de grãos) e tudo remete a um horizonte positivo para o agro. Já no front macroeconômico, o aperto pode se alongar, pois a vitória de Trump (EUA) talvez reduza as chances de acelerar o ritmo de afrouxamento monetário em nosso país, mesmo com a inflação (IPCA) em reversão.

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Fonte: CCAS

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