Um capitalismo para o povo: interesses difusos vs benefícios concentrados, por Rodrigo Constantino

Publicado em 16/06/2015 11:17
Reunião de artigos do colunista da revista Veja em seu blog.

O desabafo de um empreendedor frustrado

Recebi a carta abaixo e a transcrevo aqui, pois o desabafo desse empreendedor é também o de milhares de outros Brasil afora, que tentam empreender para criar riquezas e empregos, mas precisam enfrentar todos os obstáculos criados pelo governo, que acreditam nas promessas de ajuda do mesmo governo, apenas para depois serem traídos, abandonados. O governo que não atrapalha, muito ajuda!

Olá, Rodrigo.

Escrevo essa carta por dois motivos: o primeiro é um apelo a todos os empreendedores desse país (pequenos, médios ou grandes), não precisa ser empresário, “detentor do grande capital” e nem milionário. Se você apenas tem um grande sonho e quer concretizá-lo, já me sinto à vontade de dizer que está transformando seu esforço. O segundo é informação para aqueles que se sentem perplexos quando uma promessa não é cumprida. Existem vários adjetivos para descrever esse tipo de pessoa, que seja honesto, probo, seguro, verdadeiro. Todos vocês, sintam-se também à vontade para ler.

Em dezembro de 2013, o governo do Rio de Janeiro por meio da FAPERJ (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) lançou o edital para o Programa Startup Rio. Esse nome “Startup” significa literalmente “Começar”, é o nome que se dá a uma empresa que está dando início às suas atividades, e também é muito utilizado por empresas de tecnologia que têm esse modelo de até 2 anos de vida. Para exemplificar, o Facebook já foi uma Startup, Google também, e tantas outras. Fato é que eu e meu sócio decidimos aplicar nosso Plano de Negócios (um documento que diz o quê e como fará para sua idéia se tornar uma empresa) para esse edital.

A premissa do programa era simples: transformar a ex-sede da UNE (isso mesmo) em um espaço de escritórios compartilhados para os selecionados no programa Startup Rio que iriam usar o espaço pelo tempo de duração do programa (12 meses), um espaço semelhante para um futuro programa de empresas de biotecnologia e uma grande biblioteca de última geração para os alunos da UERJ. Dessa maneira, conforme nós mesmos escutamos ao início do processo, queriam transformar o Rio de Janeiro na Silicon Beach (uma menção ao Silicon Valley nos EUA). Um grande pólo de empresas de informática que atrairia um ecossistema empreendedor.

Para nós, empreendedores, era como ouvir música: escritório com infraestrutura completa, aporte inicial de 100 mil reais para cada empresa, mentoria com grandes empreendedores, tudo que os melhores programas de aceleração de empresas nos melhores países no mundo têm. Como liberal, pensei duas coisas: a iniciativa é boa, mas essa conversa está boa demais para ser verdade. Mesmo assim, demos prosseguimento ao processo de seleção.

Para ser sincero, o processo seletivo me deixou surpreso e aconteceu tudo exatamente conforme o edital falava até o anúncio das empresas selecionadas. Todas as 50 Startups, sem exceção, são excelentes e não deixam nada a desejar em qualquer quesito. Também não vimos nenhum tipo de favoritismo nas escolhas, apesar do processo não ter sido completamente transparente (até hoje não sabemos quantos se inscreveram).

Depois de anunciados os escolhidos, existiu um tempo de maturação em que simplesmente nada aconteceu, sem nenhum tipo de informação dos responsáveis, ninguém sabia sobre datas, começaram a correr boatos que os que foram selecionados iam ter que abrir mão de 5% das suas empresas (o que não estava anunciado no edital), e ficamos sabendo que os tais 100 mil reais “não eram bem assim”.

O passo seguinte foi o envio de uma série de burocracias totalmente desajustadas com empresas que estão começando, que demandam rapidez de decisões para se adequar. Eram planilhas impossíveis de entender (trabalho como gestor no mercado há anos e não fazia ideia do que eram aqueles palavreados burocráticos), datas desencontradas, avisos de parcerias que não aconteciam, e mais surpresas. Descobrimos que o então aguardado fomento, na verdade, seria aprovado por uma comissão da FAPERJ, uma banca de professores e servidores públicos, e que todo o orçamento “poderia” sofrer cortes (em “estadês”, significa que não cumprirão com o combinado). Até então, para quem não tem nada (pois a grande maioria dos empreendedores não é de família abastada mas sim de pessoas que viram uma oportunidade de financiamento, muito parecido com o FIES), metade é o dobro.

Dado o orçamento já cortado em menos da metade do que foi alardeado em propagandas, então foi combinado que o pagamento seria feito em duas parcelas, com tempo de 6 meses entre elas. Sendo a primeira depositada em julho de 2014, então conte comigo: Edital em dezembro, anunciados em fevereiro os aprovados, julho a primeira parcela, logo a segunda será em dezembro, certo? Errado.

Todo empreendedor coloca seu capital intelectual e financeiro, geralmente poupança do trabalho (eu e meu sócio colocamos muito do nosso próprio bolso também, não somos meros parasitas), em prol de querer atender com sucesso seu público. Existe um planejamento e um cronograma de desembolso necessários para o desenvolvimento do produto que será crucial para o sucesso ou fracasso dessa futura empresa. Em fevereiro deste ano, os integrantes do projeto começaram a se perguntar a respeito do capital, visto que todos assinamos termos de compromisso no início do processo cuja FAPERJ se comprometia com o pagamento e nós com o resultado a ser entregue. Existiam dívidas planejadas para a data prometida, profissionais a serem pagos, fornecedores, dentre tantos outros problemas que é fazer seu produto de fato funcionar.

Quando comecei a me dar conta dos rombos orçamentários do estado do RJ (alguns falavam em 30 bilhões de reais, outros em 13 bilhões, a verdade é que ninguém sabe), começamos a ir atrás de investidores fora do estado e até mesmo fora do país. Vale ressaltar aqui que fazia parte do orçamento uma viagem para amostra da empresa numa feira internacional que não ocorreu devido à falta de verba. A realidade é muito menos bela que o país retratado nas propagandas eleitorais e partidárias. Finalmente, agora, para a minha empresa, as coisas começam a se ajeitar. Conseguimos um parceiro de fora do estado que nos ajuda a conseguir capital necessário para finalizar o produto e começar a andar sozinho.

Ainda brigamos hoje para receber a segunda parcela do financiamento do estado e talvez a pior parte desse processo seja a falta de transparência, o descaso dos responsáveis que nunca deram nota oficial e a tristeza com uma iniciativa que realmente parecia uma guinada a um incentivo aos empreendedores. Para ser sincero, prefiro que consigamos o mais rápido possível chegar ao ponto que não será nem um pouco necessário e lembro que ao chegarmos mais longe na corrida seremos presenteados com a mais nova tributação para grandes empresas.

Há duas semanas tomei um grande tapa ao ler Pare de acreditar no governo, livro de Bruno Garschagen. A cada página parecia que ele falava “PARE!”, e eu respondia “JÁ PAREI!”. Para os que chegaram até esse ponto, fica a reflexão de que se você depende do estado, então faça de tudo para não depender mais dele. Se você é empreendedor, não dependa do estado e procure financiamento privado. Eles cumprem contratos. Se você é empreendedor e depende do estado, você provavelmente estará enrascado e atrasará a chegada do seu sonho.

Sobre o espaço de Coworking? Durante todo o verão do Rio de Janeiro ficou sem ar-condicionado por conta na demora da licitação. Sobre o espaço para empresas de Biotecnologia? Obra parada, sem previsão para retorno ou abertura de edital. Sobre novas turmas do programa Startup Rio? Dizem que haverá, eu prefiro não crer. Sobre a biblioteca de alta tecnologia para alunos da UERJ? Há um ano não vejo uma viva alma trabalhando. A obra não parou; ela sequer começou!

Espero que essa carta sirva de aviso. O Programa Seed (similar ao programa Carioca) do Governo de MG foi fechado por retaliação na troca de governo que tem “visões diferentes”, o Programa Startup Rio está respirando por aparelhos sem nenhum tipo de perspectiva de mudança. O Programa Startup Brasil também não tem previsão de lançamento de edital.

Infelizmente, a imagem que se parecia com água no deserto se provou uma miragem. Lembro a vocês que o ônus é meu de empreender, mas a barreira colocada à frente não foi por minha incompetência, mas sim no meu credo de que realmente havia algo bom por vir. Sempre pensei, mas agora tenho, por experiência própria, que mesmo quando o estado acerta (aparentemente acertou ao incentivar os programas), ele erra.

Deixo aqui também meu sincero boa sorte para todos os que têm coragem para adentrar nessa área de empreendimento, e apenas peço que lembrem SEMPRE que não existe almoço grátis, que a arrogância fatal é o maior crime dos bem-intencionados.

Sinceramente,

Um Empreendedor.


Por que gostar do Estado e odiar políticos?

Por Flavio Morgenstern, publicado no Instituto Liberal

O Brasil sofre de muitos ismos. De todos os ismos de que já ouvimos falar, o único que nunca resolveu dar as caras de verdade por aqui é o mais criticado: o tal capitalismo, o palavrão mais tabu da língua.

Tão criticado sem nunca ser precisamente definido, o capitalismo é o sistema em que a sociedade se gerencia sozinha, sem um planejamento centralizado de políticos, que possam proibir o povo de fazer algo, ou tomar seu dinheiro para dar a outras pessoas ou empresas que o povo não daria de livre vontade.

Se políticos são tão detestados – no mundo de hoje, de hegemonia de pensamento coitadista e de explicações “sociais”, é uma ofensa pior do que “ladrão” ou “assassino”, já que estes são desculpados pelas circunstâncias – e se sua atuação é sempre pelo mando, pela proibição ou pela obrigação, como é possível que o Brasil (e boa parte do mundo) goste tanto de “soluções” estatais, se o Estado é justamente a instituição com monopólio de força nas mãos de políticos?

É a contradição fundamental do Brasil, que Bruno Garschagen, um dos maiores intelectuais do Brasil e que até agora era apenas conhecido pelos liberais, destrincha no já best-seller “Pare de acreditar no governo: por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado”, recém-lançado pela editora Record, com orelha de nosso Rodrigo Constantino.

O livro já se torna um dos mais fundamentais para se entender o Brasil. Não pela sociologia de gabinete, que sempre tenta explicar qualquer coisa no país pela clave da “desigualdade”, e nem pela psicologia de botequim, enxergando “preconceitos” a serem corrigidos sempre, justamente, pela força estatal, ou pelo expediente de aderir ao Fla-Flu e supor uma luta de classes entre a “elite” e os “líderes dos pobres”. Garschagen trata justamente de tentar entender de onde vem a mentalidade estatista brasileira, trazendo este gene da contradição em seu próprio ser.

A formação da mentalidade brasileira, algo sui generis em todo o mundo, há séculos precisava de um estudo aprofundado. O livro de Garschagen vai à raiz do problema. Ou antes da semente.

É em Portugal de João Pereira Coutinho (prefaciador do livro) que nossos problemas começam. Como diz Coutinho abrindo o livro, “Quando Bruno Garschagen me contatou por causa deste livro, temi que o autor fosse pedir uma indenização”.

Mas a anatomia de uma mentalidade exige fugir de respostas fáceis. E se nossa história começa com Portugal, a culpa dos portugueses se foi desde antes da chegada da família real em 1808 – bem antes das piadas de português perderem a graça.

Sem respostas fáceis, Garschagen destrói a falcatrua de que fomos um Estado antes de sermos, de fato, um país – puerilidade que muitos liberais e conservadores adoram acusar.

Todavia, a influência portuguesa em nos manter sempre na segunda divisão da relevância mundial é destrinchada em detalhes, como a influência da Universidade de Coimbra, uma FFLCH das antigas, em macaquear do Iluminismo que degolava cabeças na França em uma versão tupiniquim.

Tal racionalismo – eufemismo para o vulgo de “concentração de poder para aniquilar tudo o que não esteja num plano de governo para ‘corrigir’ a sociedade” – foi anabolizado na figura nunca estudada do Marquês de Pombal, um jacobino e concentrador de poder contra a “elite” e a “bancada evangélica” daqueles tempos – uma espécie de Jean Wyllys que criou seu próprio Big Brother. É este o modelo de “empreendedor” que existiu às mancheias no Brasil.

Até mesmo ao primeiro documento brasileiro, a carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei D. Manuel I para dar as boas novas da nova terra descoberta, a despeito do primitivismo de nossa visão modernista, não era senão um pedido de favor, como sói aos “desbravadores” brasileiros, que sempre preferem as frinchas do poder a concorrer no mercado. No caso, Pero Vaz oferece seus serviços a D. Manuel, um belo carguinho e, de lambuja, um perdão na pena de seu genro. Corporativismo, coitadismo, nepotismo e cargos de confiança sem licitação ou concurso, definitivamente, já existiam no Brasil desde antes de o Brasil ter o nome correto.

(O livro, é claro, não deixa de ter defeitos, como a sacanagem de Bruno Garschagen não explicar o maior mistério de nossa história: como foi que Pero Vaz de Caminha enviou a porcaria da carta? Via Sedex? Telegrama? Pombo-correio? O enigma se torna ainda mais urgente, visto que se descobriu que o envio de um livro do Brasil para Portugal, hoje, 2015 e contando, leva 77 dias. Cabral, em 1500, fez o percurso inverso em 43 dias. Uma caravela de 1500 é mais eficiente do que os Correios brasileiros – o que apenas comprova a tese central de Bruno Garschagen e de todos os liberais. Ainda ficamos na dúvida de como Garschagen enviou seu livro para João Pereira Coutinho.)

Nosso passado iluminista teve o auge no pombalismo, mas o Brasil até hoje não se livrou deste -ismo e de seus mais perversos filhos. Todos eles conjugam de algo em comum, como vamos acompanhando a saga garschageniana por nossa história: o centralismo, a crença na concentração de poder no Estado, para se tornar o grande diretor da sociedade (sempre pelo mando, força, obrigação, proibição e punição). Esta é nossa frequência eterna, nosso sempiterno Vale A Pena Ver De Novo.

E lá se vai mais patrimonialismo e centralização estatal, que só teve um leve período de desenforcamento, deixando a sociedade respirar em paz, com nosso curtíssimo período monarquista, com D. João VI desembarcando com toda a família real nos auspícios do século XIX.

A jogada é sempre tratada como uma imensa covardia por professores de História que transformaram piadas de português em piadas do pavê, que vêem o ato apenas como uma “fuga” das guerras napoleônicas na Europa. Entretanto, é dito que Napoleão, em seu leito de morte, culpou “aquele português” por sua derrota em transformar toda a Europa no primeiro totalitarismo racionalista da modernidade: com a família real no Brasil, não importasse o quanto as legiões napoleônicas guerreassem, nunca atingiriam a sede do poder, mantendo Portugal (e a possibilidade de volta da família real) sempre uma ameaça ao poderio francês.

Nossa monarquia costuma ser vista até nos mais chatos livros de História como um período em que é impossível esconder os avanços, mesmo com as trapalhadas de D. Pedro I (que declamou a Independência, na verdade, com dor de barriga sobre um burro, visto que cavalos não sobem serras). Seu destino foi mesmo voltar a Portugal sem brios, se tornar D. Pedro IV por causa do fuso-horário, e ser lembrado apenas pela independência, que nos deixou sem ganhar em euro, sem passaporte europeu e com nossos times jogando no Campeonato Brasileiro, ao invés da UEFA.

Pedro II, que conseguiu a admiração até de Richard Wagner, adorado por muitos conservadores brasileiros, também não deixa de ser alvo de críticas por Garschagen, que não esconde sua predileção pela monarquia: o rei se interessava mais pela vida intelectual do que pela vida política do país (uma espécie de Bruno Garschagen coroado), mas também não se furtou a crer na “vontade nacional” (central e coincidente com o poder monopolista do Estado, claro) e ser influenciado pelo visconde de Itaboraí, com um discurso tão focado no combate ao “lucro” que nos faz pensar que já existia PT no século XIX.

O alvo de ambos era uma figura curiosíssima e desconhecida da História Revista Pelo MEC Para Transformar Crianças Em Esquerdistas, o barão de Mauá, que tanto fez pelo país, com influência de Adam Smith, e foi levado à falência pela visão intelectualizada de concentração de poder e uso do Estado para destruir empreendimentos privados do rei e do visconde. Mesmo assim, como um liberal sabe fazer, o barão recuperou sua fortuna sozinho, sem se mancomunar com o governo, e morreu em paz com sua consciência.

Um dos pontos mais interessantes do livro, daqueles que dá vontade de reler logo após só pelo prazer com o que se está lendo, é o fim da escravidão, que, tal como na América (de onde tivemos influência), foi feita pela “direita” da época.

Todavia, para quem crê que a história é uma “luta de classes” ou as forças do progresso contra “conservadores” obscurantistas e malvados, as forças em jogo, como tudo na vida, são contraditórias, incoerentes, confusas, multicapilares e não fazem jus a seu nome. Tentar entender “direita” e “esquerda” como se faz hoje, brincando com os sentimentos atrelados a cada palavra, confundirá muitos dos estatistas – progressistas, esquerdistas e mesmo os crentes em soluções mágicas estatais contra estes – que descobrirão como sua visão da história até hoje foi uma piada.

Capítulos de leitura obrigatória são dedicados a um dos fenômenos mais presentes no Brasil, e tão pouco estudado por nossos estudiosos falantes: o positivismo, que tomou o lugar do jacobinismo de Pombal como o novo movimento revolucionário no Brasil (nosso hino, nossa “horrenda bandeira” com seu lema pereba, nossos milicos e nossa péssima educação são as mais positivistas do mundo).

O positivismo de Comte, que grassou no Brasil mais do que na sua Europa natal, tenta ser uma nova forma de gerir toda a sociedade (o que conseguiu no Brasil, com o resultado que vemos ao nosso redor) e ser mesmo um sucedâneo até à religião, tendo como método e resultado, surprise, surprise, naturalmente, mais concentração de poder no Estado, mais dirigismo para “corrigir” a sociedade, com mais ataques à liberdade num planejamento central com resultados tão ou mais horrendos do que as piores obras fálicas de Oscar Niemeyer.

Mas como queremos adrenalina, pancadaria e violência, nossa história é ainda melhor contada quando chega a república tão odiada por Garschagen. Depois de os militares conquistarem tanto poder na Guerra do Paraguai, e entrarem em conflito com o imperador, é dado o primeiro golpe militar no Brasil.

E mais das nossas contradições aparecem: como os defensores do que é chamado erroneamente de “democracia” no Brasil (vejam os problemas com o termo no meu livro, “Por trás da máscara: do passe livre aos black blocs, as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”) adoram tanto nosso atual sistema e criticam golpes militares, sendo que ele nasce de um?

Com a república, vem, qualquer monarquista sabe, mais centralismo e mais concentração de poder. E tomem-se ministérios, gabinetes, secretarias, órgãos, empresas estatais, cabidões para os protegidos e, claro, muitos impostos para financiar tudo, com muita corrupção e tantos ataques à liberdade que tornam a corrupção quase um mero incidente.

Nossa história então se torna uma confusão de diversas Constituições, golpes, perseguições a adversários, disputas de poder entre dirigentes personalistas (populistas, autoritários, racionalistas, advogados, maçons: ou, mais comumente, tudo isso junto). A influência da maçonaria em nossa política, desde pelo menos D. Pedro II, é merecedora de bons capítulos que revelam seu poder, sua influência e, mais do que tudo, sua falta de organização interna para ser a “seita secreta” que ditaria nossos rumos.

O povo, supostamente “representado” na república (outro termo que não cabe ao nosso sistema), fica cada vez mais acuado pelo poder político e mais alheio a ele – a resultância é que dá título ao livro, com instituições preenchidas por voto, como a Câmara dos Deputados, os partidos, a presidência, tendo avaliação bem pior do que as Forças Armadas, o STF, a imprensa, as pequenas e médias empresas e, segurem-se nas cadeiras, as grandes empresas, que servem muito melhor a população (desconhece-se quem queira eleger o cirurgião de seu coração ou o piloto de seu vôo, a despeito do que a mentalidade estatista diz – a realidade sempre tem voz mais urgente).

O positivismo, em tempos modernistas, se funde de vez com o marxismo, e começa a grande luta no Brasil entre os que querem um Estado forte contra os comunistas (como Júlio de Castilhos, uma das figuras mais perversas de nossa história, até a ditadura brutal de Getúlio Vargas, que matou quase 10 vezes mais do que a ditadura militar em menos tempo), praticamente sempre influenciados pelo positivismo, e aqueles que querem um Estado forte para gerir toda a economia e até mesmo nos deixar dentro da Cortina de Ferro – mas estes apenas subiram ao poder em 2003, e com um banho de loja (ternos Armani, whisky Black Label, vinho Marquês de Riscal e água San Pellegrino) e nomes fantasias que disfarçam sua razão social ao vulgo e aos intelectuais, que acreditam em simplesmente qualquer coisa.

A jornada que Garschagen traça pela história de nosso estatismo, então, se torna eletrizante, com toda sorte de idéias francamente panacas terçando armas pelo Estado forte, sempre com consequências péssimas, para no próximo round os dois lados lutarem de novo e garantirem que dessa vez vai – e sempre bem assessorados por intelectuais, relações públicas, artistas, empresários e jornalistas dispostos a defendê-los e garantir que estão certos, apesar de toda a realidade.

Quem continua sem voz, durante toda a nossa história, não é senão o tal capitalismo, sempre culpado de todos os nossos problemas, mesmo sem nunca ter fincado pé por estas bandas.

Fosse sob os brutais anos de Getúlio Vargas no poder, que atrelou o personalismo e o populismo aos –ismos perversos, fosse sob o dirigismo de gastos de Juscelino Kubitschek, fosse sob o nacionalismo chumbrega e interessantemente esquisito de Jânio Quadros e, claro, fosse sob a terrível ditadura militar com seu legado que dividiu as mentalidades nacionais em estatolatria militarista de ordem e bons costumes e estatolatria comunista de uso progressista do poder de mando estatal, o Brasil não teve vestígio do capitalismo, do liberalismo (não confundir com o “neoliberalismo” dirigista e de rent seeking dos anos FHC) ou da mera liberdade individual e econômica do brasileiro.

Se péssima história e terríveis governos geram os livros mais excelentes (pergunte a Aleksandr Solzhenitsyn), o melhor, é claro, fica para o fim. Mesmo com as duas ditaduras, nada chega aos pés do desastre Sir Ney com inflação de 88.000% (sic) ao ano, do furacão Collor com confisco de poupanças (e uma multidão de falências, suicídios e famílias desfeitas) e do que conseguiu ser pior do que ambos juntos (ambos juntos, aliás, fizeram parte de seu governo): o PT no poder.

Se Itamar e FHC só merecem alguma ressalva cabisbaixa por privatizarem contra as suas próprias vontades (e mal), nem por isto o estatismo deixou de avançar em suas administrações: ambos deixaram o Estado maior do que pegaram.

Contudo, é claro que o pior estava por vir – e o melhor do livro, claro, fica nas páginas finais. Não só por vermos como o estatismo vai ganhando contornos e conteúdos cada vez mais ridículos quanto mais é aceito hegemonicamente pela população – com tudo tão milimetricamente definido por intelectuais, jornalistas, professores e demais vozes palpitantes na sociedade – mas sobretudo porque esta verbosidade vai cada vez mais se tornando mera repetição de desculpas, cada vez mais na defensiva (o que nos dá alguma esperança). Tudo o que era ruim antes (fosse perseguição a adversários, jornais comprados, censura ou até mesmo privatização) se torna programa salvador nas mãos do PT.

Garschagen ainda termina demolindo também a esparrela das soluções milagreiras de sempre, como o povo que só vai se emancipar com “educação” – desculpa, curiosamente, positivista (ou seja, parte do problema) – sem nunca perceber que uma educação planificada pelo Estado pode servir para qualquer coisa, exceto para nos livrar das algemas estatais.

Muitos livros tentaram explicar o Brasil e sua política, mas poucos foram tão a fundo (e num livro tão agradável, com bom humor e fácil de ler) em entender a mentalidade que gera a política brasileira como Bruno Garschagen.

Um livro obrigatório para entender não apenas a história de nossa política, mas a paixão do brasileiro pela mão que aperta a sua garganta.


Um capitalismo para o povo: interesses difusos vs benefícios concentrados

O professor da Universidade de Chicago, o italiano Luigi Zingales, estará no Brasil nos próximos dias para lançar seu livro Um capitalismo para o povo, que já li e recomendo. Zingales tem sido um dos grandes críticos do “capitalismo de compadrio”, ou “capitalismo de estado”.

Muitas vezes a raiva do leigo em relação ao capitalismo é legítima, mas não é o capitalismo de livre mercado que ele está condenando e atacando, e sim esse de “laços”. Por isso o enfoque de Zingales é tão importante: para reduzir essa ignorância e explicar melhor o que é o capitalismo verdadeiro.

Já escrevi alguns artigos com base em seus livros, um deles publicado no GLOBO, em que defendo um capitalismo sem doping, fazendo uma analogia com os esportes. Creio ser esse um dos melhores meios de persuadir os mais leigos a favor do capitalismo liberal.

O grande desafio do liberalismo, além dessa falta de conhecimento do público em geral, é o fato de que defende interesses difusos, enquanto luta contra benefícios muito concentrados. Grandes empresas, grandes sindicatos e governantes adoram um estado poderoso, intervencionista, centralizador, pois dele se aproveitam. Quem paga o pato somos todos nós, os pequenos nessa história.

Outra tecla que Zingales tem batido bastante é na deterioração institucional dos Estados Unidos. Como alguém que veio da Itália, uma espécie de Brasil da Europa (muito melhorado, eu sei), Zingales olha com tristeza o aumento do capitalismo de laços naquela que já foi a nação da liberdade.

Como brasileiro agora residindo nos Estados Unidos, também posso atestar o mesmo fenômeno. Claro que Obama não criou isso, mas é, talvez, seu maior sintoma: em vez de países latino-americanos avançarem rumo ao modelo americano, são os Estados Unidos que caminham para trás, tornando-se mais parecidos com esses países onde o estado, em simbiose com grandes grupos, determina regras do jogo arbitrárias e distribui privilégios aos montes.

Em breve entrevista hoje ao GLOBO, Zingales resume seu ponto de vista, e fala também do caso brasileiro. Ele tenta fornecer um caminho para se chegar ao legítimo capitalismo, o que não é fácil, justamente por esbarrar em inúmeras barreiras de grupos de interesses e na mentalidade estatizante dos leigos:

Quanto mais arbitrárias forem as regras do jogo, quanto mais poder for concentrado no estado, e quanto maior for o prêmio da captura do governo pelas grandes empresas, maior será a corrupção, que afeta negativamente o funcionamento da economia de mercado. Explicar que é do interesse geral, portanto, reduzir o papel do estado na economia e deixá-la funcionar mais livremente, sob regras claras e impessoais igualmente válidas para todos, é fundamental para o progresso. É o desafio dos liberais. Zingales conclui:

PS: Dois brasileiros têm feito um ótimo trabalho nessa linha do Zingales. Um deles é Sérgio Lazzarini, do Insper, que publicou em livros estudos estatísticos que mostram claramente nosso “capitalismo de laços”. O outro é Diogo Costa, criador do site Capitalismo para os pobres, que hoje está lecionando no exterior. Creio ser fundamental esse tipo de abordagem, pois se não formos capazes de persuadir os mais pobres de que o capitalismo é seu melhor amigo, então seremos sempre vítimas dos grupos de interesse, alimentados pela mentalidade estatizante tão disseminada em nossa esquerda.

Rodrigo Constantino

História da decadência brasileira

Por Maria Lúcia Barbosa, publicado no Instituto Liberal

Na sua obra Espanha Invertebrada, escreveu José Ortega y Gasset: “A história de uma nação não é somente a do seu período formativo e ascendente, mas também a história de sua decadência”. Tudo indica que entramos na história de nossa decadência desde que o governo petista assumiu o cargo mais alto da República.

Lula da Silva reinou em seu primeiro mandato sobre as águas mansas do Plano Real, das políticas públicas do governo anterior. Viajou muito, tornou-se amigo dos piores ditadores mundiais, gozou como nenhum outro presidente das delícias do poder. Delícias, aliás, compartilhadas com os companheiros cortesãos.

No segundo mandato se iniciará a decadência, desenhando-se o que viria em termos econômicos enquanto escândalos de corrupção aumentavam de volume e velocidade. Entretanto, o endeusamento de Lula da Silva, o inocente que nada via, de nada sabia, se mantinha pela força de sua lábia e ele emplacou o “terceiro mandato” através da eleição de Dilma Rousseff.

Os quatro anos desta senhora podem ser descritos como descalabro total. Sob as ordens de Lula ela quebrou a Petrobras e outras estatais, destruiu a indústria, arrebentou o país como um todo. Mesmo assim, com pequena diferença sobre seu adversário Rousseff foi reeleita pregando que Aécio Neves seria o exterminador do futuro brasileiro.

Logo no início do segundo mandato de Rousseff emerge, porém, o inevitável resultado da incompetência governamental, dos truques contábeis, da distorção dos dados: aumento da inflação, do desemprego, da inadimplência, das contas públicas, dos juros, dos impostos. Situação que Joaquim Levy tenta consertar preparando a volta de Lula, mas jogando o peso dos erros do governo sobre as costas do povo. São tempos duríssimos que não acabarão tão cedo, em que pesem as otimistas e sempre erradas previsões dos economistas.

Mas não é apenas econômica a decadência em que o governo de Lula da Silva nos mergulhou. Houve perda de valores e uma crescente amoralidade.

Aqui darei apenas um exemplo dos muitos que poderiam ser apresentados nesse aspecto. Como atinge a formação de crianças desde a mais tenra idade, considero criminosas as tentativas que vem sendo feitas pelo governo de se impor como manipulador educacional sexual. No momento ressurge a ideologia de gênero, elaborada através de documento que servirá para formulação de planos municipais, pelo Fórum Nacional de Educação. Nesta construção arbitrária não existe diferença entre menino ou menina, não são levados em conta dados biológicos e psicológicos da identidade humana. O ser humano é considerado como assexuado e deverá escolher se quer ser masculino ou feminino. Seria como revogar a lei da gravidade.

Em magistral artigo, Educação Sexual Compulsória, publicado no Estado de S. Paulo em 08/06/2015, analisa Carlos Alberto di Franco as distorções dessa, diria eu, deseducação:

1)    “A confusão causada nas crianças no processo de formação de sua identidade, fazendo-a perder referências; 2) a sexualização precoce, na medida em que a ideologia de gênero promove a necessidade  de uma diversidade de experiências sexuais para a formação do próprio gênero; 3) a abertura de um perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, uma vez que a ‘orientação’ pedófila é considerada também um  tipo de gênero; 4) a banalização da sexualidade humana, dando ensejo ao aumento da violência sexual, sobretudo contra mulheres e homossexuais; 5) a usurpação da autoridade dos pais em matéria de educação dos filhos, principalmente em temas de moral e sexualidade, já que todas as crianças serão submetidas à influência dessa ideologia, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos pais”.

Ao tratar desse grave tema que toda sociedade devia tomar conhecimento, fatalmente serei tachada de conservadora, o mais novo xingamento utilizado pelo neoesquerda para desqualificar os que não rezam por sua cartilha. Quero lembrar que a tese conservadora, assim como a progressista, evoluiu ao longo do tempo em seu significado, mas, em essência, o conservadorismo se refere à natureza humana não modificável pela ação prática, porquanto mergulha suas raízes em uma realidade sobre-humana, a vontade divina. Em outras palavras, somos dotados de uma consciência e sabemos distinguir o bem do mal, em que pesem as várias noções de moral de cada sociedade.

Ao mesmo tempo, o conservadorismo indica que o poder político confiado ao homem é intrinsecamente tirânico se não for controlado. Daí a constante preocupação dos conservadores com a existência de mecanismos de limitação do poder e, principalmente, pela supremacia da lei.

Nesse sentido assumo ser conservadora, sendo ao mesmo tempo uma entusiasta de todo progresso que traga benefícios à humanidade. Lamentável é a decadência em que os autodenominados progressistas da neoesquerda impingiram à nação brasileira.

Esquerda e direita: separando o joio do trigo

Os termos “esquerda” e “direita” geram muita confusão, a ponto de várias pessoas preferirem ignorá-los, considerá-los coisa do passado. Todo rótulo é simplista e, portanto, limitado. Não é possível encaixar uma visão de mundo inteira em apenas dois opostos, pois toda uma região intermediária fica esquecida. No mais, os termos tinham uma significação mais óbvia em sua origem, na Revolução Francesa, o que ainda influencia muita gente: esquerda é “povo”, enquanto direita é “aristocracia”. Todo cuidado é pouco, portanto.

Dito isso, não sou dos que preferem jogar fora os conceitos. Acho que devem ser usados sim, com cautela. Tenho opinião parecida com a de João Pereira Coutinho, que tratou do assunto em sua coluna desta terça na Folha. Coutinho não se importa de se dizer de direita, um conservador, mas faz questão de qualificar o termo, para separar o joio do trigo. Diz ele, expondo aquilo que considera a boa direita, contra as acusações frequentes de autoritarismo e reacionarismo:

O reacionarismo de Joseph de Maistre ou Louis de Bonald; a hostilidade de ambos ao individualismo (e, surpresa das surpresas, ao capitalismo) não pode ser confundida com uma direita “liberal”, seja ela conservadora ou não, que passou a marcar o ritmo das sociedades democráticas em que vivemos.

Na sua vocação antiautoritária (seja contra o alegado “direito divino dos reis” dos séculos 17 e 18 ou contra os “direitos divinos” de criminosos como Hitler ou Stálin no século 20); na sua defesa constitucional de que uma comunidade política é regida por leis, não pelo capricho de um homem; no seu individualismo filosófico (a afirmação de que os indivíduos têm direitos que não podem ser esmagados pelo coletivo); e até na sua tolerância perante diferentes concepções do bem (Alan Ryan, no recente “On Politics”, considera mesmo a tolerância dos liberais o valor mais importante da tribo), confundir esta direita com os seus primos bastardos só é possível por ignorância ou má-fé.

[...]

Estranhamente, aquilo que encontro nos meus pares é uma direita cansada do abuso político e da corrupção econômica. E que procura resgatar para o Brasil os valores “liberais” clássicos –repito: individualismo, constitucionalismo, antiautoritarismo e tolerância– que são moeda corrente na cidade, no país e no continente onde, ironia das ironias, o ilustre sociólogo marxista escolheu para morar.

A esquerda também pode ser separada entre aquela revolucionária, socialista, radical, e a outra mais moderada, social-democrata, “progressista”. Sou crítico de ambas, naturalmente, mas com a última há possibilidade de diálogo; com a primeira, não. Quando a ala dos radicais chama a ala mais moderada de “neoliberal”, por exemplo, está agindo de má-fé. O PSDB seria visto como representante da esquerda social-democrata em qualquer país civilizado do mundo; aqui, é “acusado” de ser conservador, reacionário, “neoliberal” (como se fosse tudo sinônimo).

Quem não quer debater com a direita de boa estirpe, aquela liberal clássica ou conservadora nos moldes britânicos, prefere criar um espantalho e jogar todos na mesma vala comum, como se os reacionários e autoritários fossem representantes de toda a direita. É como se não fizéssemos, do lado de cá, distinção entre os tucanos e os petistas, pois são todos de esquerda. Apesar da pusilanimidade irritante da “oposição” tucana, o fato é que o PSDB representa uma esquerda bem mais civilizada do que o PT, camarada de ditadores comunistas e de “revolucionários” marxistas (marginais, na verdade, como as Farc e o MST).

Clamar por regime militar, destilar homofobia por aí, ignorar o estado democrático de direito para pedir linchamento público de marginais por justiceiros, idealizar um passado distante em que tudo era uma maravilha, essas são bandeiras de uma direita ultrapassada, antidemocrática, que nada tem a ver com aquela liberal ou conservadora. Com o avanço dos “progressistas” radicais, com uma agenda de intenso relativismo moral, com o petismo no poder, é até compreensível o desespero de alguns, que leva a tais clamores ensandecidos. Mas não é justo misturar essa direita com a outra, da mesma forma que não é justo dizer que toda esquerda é socialista revolucionária.

Por fim, acho graça quando alguns dizem que essa esquerda nem mais existe, que é paranóia de quem vive preso na Guerra Fria. Essas pessoas devem viver em Marte, não no Brasil, dominado pelo PT, cujo novo congresso fala abertamente em “construir uma pátria socialista”, assim, com todas as letras, demandando imposto sobre “fortunas” e sempre mais estado em nossas vidas. Quem alega que esquerda não quer dizer mais socialismo não deve conhecer o Foro de São Paulo, o Mercosul atual, a Venezuela, a reverência que tantos idiotas úteis ainda têm por Cuba.

O ideal, como já cansei de repetir, é que a direita decente se comunicasse de forma civilizada com a esquerda moderada, rejeitando ambos os extremos. O problema é que nossa esquerda moderada é covarde demais, e parece ter medo de enfrentar com rigor seus “colegas” radicais, assim como morrem de medo de serem confundidos com os reacionários de direita. O resultado é que cada vez mais a direita com viés autoritário ocupa esse espaço vazio, esse vácuo que deveria ser preenchido pela esquerda civilizada e pelos liberais e conservadores de boa estirpe, como em toda nação desenvolvida.

Aqui, o radicalismo petista, visto como “moderado” pelos néscios, acabou parindo uma direita mais raivosa e autoritária, cansada de tanto abuso e da negligência da “oposição”. Se os democratas não lutarem realmente pela democracia, que não sobreviverá se depender do PT, então a resposta do outro lado será cada vez mais violenta. De tanto acusar os liberais, os conservadores e até os social-democratas de “extrema-direita”, a esquerda radical acabará atraindo a verdadeira extrema-direita ao poder. Depois não vai adiantar ficar chorando…

PS: Um claro exemplo disso é a questão da maioridade penal, cuja redução a imensa maioria do povo brasileiro deseja, cansada da impunidade e da criminalidade. Não é uma bandeira da “extrema-direita”, e sim do bom senso, moderada, algo que existe na maioria dos países civilizados, com idades menores para punição de crimes. Mas aqui até o PSDB se une ao PT para negociar uma alternativa, virando as costas ao povo. Vão conseguir, com isso, fomentar respostas cada vez mais radicais, de pessoas que, em condições normais de temperatura e pressão, não agiriam dessa forma. Reduzir para 16 anos a idade penal é o mínimo que se espera, e isso não é uma pauta “reacionária” ou da “extrema-direita”, a menos que esses beócios estejam preparados para afirmar que a Suécia é um país de extrema-direita!

Rodrigo Constantino

Tags:

Fonte: Blog do Rodrigo Constantino

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Exportações do agro com resultados impressionantes, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Meio ambiente: Nós protegemos! Por José Zeferino Pedrozo
Que Momento Impressionante ao Agronegócio, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
Boas Condições para 2021 ser Ano de Tratoraço no Agro, por Prof. Dr. Marcos Fava Neves
A Encruzilhada: Contingenciamento das exportações ou Convulsão Social? Por Eduardo Lima Porto
Milho & Soja: O outro lado do potencial altista para o complexo agrícola, por Liones Severo
undefined