Não queremos esmolas ou bolsas: queremos estrutura, por Flávio França Jr.

Publicado em 30/01/2015 17:46
Flávio Roberto de França Junior é Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria

Prezados amigos. Depois da semana do pacote de maldades anunciado pelo governo, que foi o tema central do comentário anterior deste espaço, tivemos uma certa calmaria nos anúncios oficiais. Também pudera, conforme enumeramos, a carga já adotada foi forte o suficiente para retirar qualquer esperança de crescimento econômico para 2015. Embora entendamos que vem mais “arrocho” pela frente. No âmbito político e econômico duas notícias ganharam destaque nesta última semana. A divulgação do balanço do Petrobrás referente ao terceiro trimestre de 2014, conseguindo a proeza de deixar 100% da audiência perplexa. De um lado por reconhecer desvios referentes a superfaturamentos de investimentos na ordem de míseros R$ 88 bilhões. E de outro por tentar anunciar o balanço sem contabilizar o prejuízo. Foi mais ou menos como dizer: “ok, houve roubo, mas, quer saber, não sabemos se foi tudo isso ainda. Vamos reavaliar. E, portanto, ele não pode ser considerado no balanço da empresa”. A proposta foi tão chocante que até o Ministério Público iniciou investigação sobre o processo. Tudo isso com as investigações da operação lava-jato avançando e os números do rombo só aumentando.

A outra notícia foi a divulgação pela Secretaria do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda dos números fechados das contas públicas do país em 2014. Conforme já era de conhecimento público, está demonstrado agora em números absolutos o tamanho da irresponsabilidade fiscal com a qual o país foi comandado nos últimos anos. Pela primeira vez desde que a série começou a ser divulgada tivemos déficit primário nas contas do governo federal, saindo de uma posição de saldo positivo de R$ 93,52 bilhões em 2011, para R$ 17,24 bls negativos neste último ano (resultado primário mede o total das receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública). É o pior resultado em 17 anos. E será esse rombo que todos nós teremos que começar a pagar a partir de agora. Simples, não? Ah se pudéssemos fazer algo do gênero em nossas finanças particulares. Sairmos gastando a torto e a direito, sem responsabilidade e sem satisfação, e quando a fatura do cartão viesse, recolheríamos uma ajuda compulsória de nossos amigos, conhecidos e inimigos. Caramba, como não pensei nisso antes ...

Mas em termos pessoais a semana foi marcada por fatos e pensamentos muito mais nobres. Já disse anteriormente que as minhas viagens ao interior do Brasil sempre são gratificantes. Embora esteja a trabalho, é lugar comum voltar para casa revigorado com exemplos de dedicação, disposição, garra e perseverança que envolve atuações empresariais ou individuais dentro do nosso agronegócio. E nesta semana não foi diferente. Em viagem pelo estado de Goiás, participando do 6º Seminário de Comercialização e Mercado Agrícola promovido pela Federação da Agricultura, tive a oportunidade de participar de uma reunião que é realizada mensalmente entre os Sindicatos Rurais de Bom Jardim de Goiás, Piranhas, Caiapônia, Dorvelândia e Arenópolis, região localizada no oeste do estado e de forte atuação na pecuária leiteira. E cujo perfil médio do tamanho das propriedades está mais para pequenos produtores.

Contando com a presença do presidente José Mário Schreiner da FAEG, e com a participação de representantes desses sindicatos, além de assentamentos e também de cooperativas da região, a reunião acabou tomando um rumo mais reivindicatório, onde foram levantados alguns dos assuntos mais importantes para a região. E o que mais me chamou a atenção nesse encontro, e o motivo que me levou a escrever este texto, foi a particularidade das solicitações pelos produtores de intervenções de sua liderança classista maior. Alguns exemplos para ilustrar: solicitam pelo menos mais uma viatura da polícia militar, uma vez que o roubo de gado tem se tornado uma prática na região e existe atualmente apenas uma viatura para atender cerca de dez municípios da região; como produtores de leite, tem sofrido perdas recorrentes e severas em função da falta de energia que comumente atinge a região; solicitaram ao presidente da FAEG novas rodadas de cursos de capacitação e gestão para os diretores dos sindicatos; também pediram apoio da entidade para viabilizar treinamentos que permitam elevar o nível da assistência técnica; pediram também a ingerência da entidade sobre as operadoras de celular para a melhora do sistema da região, uma vez que os sinais dos celulares são limitados até mesmo nas próprias cidades, o que dirá nas fazendas.

Em todas as manifestações, não ouvi uma única vez a palavra doação, ou ajuda financeira, solicitação de recursos em espécie ou serviços gratuitos. Tudo o que eles querem é que o estado lhes forneça a estrutura mínima para poderem trabalhar dignamente, para poderem investir e avançar em seus negócios, com o básico objetivo de sustentar as suas famílias. E estamos falando do mínimo mesmo, como segurança, energia, comunicação, formação e assistência técnica. E mais uma vez senti um orgulho danado em trabalhar em pró desse segmento, que não se abate frente às dificuldades, que se organiza, que se planeja, e que a cada nascer do sol renova sua esperança e sua luta por um Brasil melhor. Com bem resumiu um dos produtores presentes: “Não queremos esmola e nada de graça. Não queremos “bolsa” de nada. Queremos apenas estrutura”.

Um “AgroAbraço” a todos!!!

www.francajunior.com.br e francajunior@francajunior.com.br 

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Fonte: França Junior Consultoria

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