O caminho da taxa de câmbio para 2015, por Flávio França Jr.
Prezados amigos. Na semana apresentamos neste espaço um resumo das tendências para o mercado e para a comercialização de soja neste ano que se inicia, que foram apresentadas com detalhes no primeiro texto de análise semanal da França Junior Consultoria em 2015. E depois de fazer diversas observações sobre as principais variáveis de mercado mundial e doméstico, colocamos o seguinte comentário: “Em relação aos preços, o desempenho tenderia a ser limitado pela expectativa de cotações na CBOT permanecendo abaixo da média na hipótese de confirmação de safra recorde na América do Sul e nova safra cheia nos EUA ... e finalmente pelo lado do câmbio, provavelmente o grande ponto de suporte para os preços internos nesta temporada.”
Por ser talvez o grande ponto de apoio aos preços neste ano, traremos neste texto um resumo dos componentes principais que nos levaram a emitir essa opinião sobre a taxa de câmbio.
Poucas coisas em economia são mais complicadas e arriscadas do que se fazer projeções para a taxa de câmbio. Costumo dizer que projeção cambial é o “calcanhar de Aquiles” dos economistas, diante da gama interminável e imponderável de fatores que podem jogar essa paridade para cima ou para baixo.
Sejam eles tanto no âmbito doméstico como internacional, de natureza econômica, política, social, ambiental, e porque não dizer, até mesmo de natureza sexual (como exemplo, há alguns anos atrás um escândalo sexual derrubou o ministro da fazenda de uma importante economia da Europa, o que acabou alterando os rumos da política econômica daquele país, com reflexos na União Européia e em todo o mundo). Mas como faz parte do ofício, não temos como deixar de analisar diariamente todas essas variáveis e tentar buscar pelo menos a definição das tendências gerais. Especialmente considerando o grau de importância para a formação dos preços da soja e todas as commodities que tenham o mercado interno balizado pelo mercado internacional, seja na paridade de exportação ou na de importação.
Não vamos escapar de um ano difícil, de muito nervosismo e volatilidade na área financeira. Mas no geral, a tendência para o câmbio no Brasil em 2015 é mais para cima do que para baixo. Mesmo sentimento por nós expressado neste mesmo momento do ano passado. Diante da combinação de variáveis que serão enumeradas logo a seguir, e na tentativa de enfrentar o elevado déficit em conta corrente (inclui as transações comerciais de um país com o resto do mundo, as transações em serviços e as chamadas transferências unilaterais) e a inflação elevada, ou governo aprofunda a recessão ou solta a taxa de câmbio. Acreditamos que o caminho a ser adotado será o segundo. Tanto que a previsão média dos analistas financeiros no boletim Focus trabalha atualmente com câmbio a R$ 2,80 para o final de dezembro. E as variáveis principais são as seguintes:
Externas
- Aperto na política monetária dos EUA, buscando controlar a inflação diante do forte ritmo de recuperação da economia. A retirada gradual dos estímulos utilizados durante a crise e a expectativa de aumento nos juros ainda durante 2015, tem contribuído para fortalecimento do dólar no mercado internacional;
- Forte desvalorização do petróleo, tendo atingido nesta última semana os menores patamares em 6 anos, ao romper a barreira dos US$ 50.00/barril (WTI em Nova York). O recuo está basicamente relacionado ao excesso de oferta e parece que se estenderá por um bom tempo. Está relacionado a uma guerra de preços entre a Arábia Saudita e EUA, contra os demais membros da OPEP, buscando desestimular a produção em países não exportadores. A perda de valor no petróleo tem levado investidores a correrem para o dólar;
- Crescimento mais baixo do que o esperado nas economias da Zona do Euro, da China e do Japão. Com isso as previsões de aumento do PIB mundial para 2015 estão sendo revisadas para baixo. Expectativa de menor crescimento levam investidores a diminuir sua exposição ao risco, portanto, sair de commodities de alto risco, como petróleo, ações e agrícolas, e aumentar a procura por ativos de menor risco, como o dólar e metais;
Internas
- Insegurança generalizada com o quadro muito ruim da economia em 2014, incluindo crescimento do PIB próximo de zero, déficit em conta corrente de 4% do PIB, inflação elevada, e o pior saldo da balança comercial em 16 anos. E pela expectativa bastante conservadora para todos esses itens também para 2015;
- Insegurança política pelo baixo nível de apoio ao governo, estando o país rachado ao meio após as eleições presidenciais, pela sucessão de escândalos de corrupção, com grande destaque para o avanço das investigações do Petrolão, e pela formação de um novo ministério Frankenstein, com baixíssimo nível de confiabilidade;
- Expectativa do mercado financeiro de que a nova equipe econômica seja menos intervencionista na taxa de câmbio. Porém, as dúvidas são generalizadas na capacidade (política, e não técnica) de que a Fazenda consiga corrigir o desastroso rumo da política econômica adotado nos últimos 4 anos, seja em termos de política fiscal, monetária, de rendas ou externa (que incluí a política cambial e comercial);
- O aumento da desconfiança externa e das especulações com menor taxa de crescimento da economia global pode trazer outras duas notícias ruins para o país: a retração dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), que é o capital produtivo que vem irrigando a economia brasileira nos últimos anos com volumes superiores a US$ 60 bilhões de internalizações ao ano; e a retração do fluxo de capital especulativo, com os dólares espalhados pelo mundo voltando para investimentos na economia norte-americana;
Um “AgroAbraço” a todos!!!
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