Quanto vale a minha startup: quais os principais direcionadores da avaliação de uma startup em seu estágio inicial? Por Renato Akira Goya, diretor da PwC Brasil
Conversar sobre aportes com potenciais investidores geralmente é um bom sinal. Significa que o seu negócio está indo muito bem ou que você tem um produto ou tecnologia que resolve as dores de muita gente. Ao analisar uma potencial rodada de investimento, muitas vezes a avaliação do negócio é o primeiro tópico que qualquer fundador quer abordar.
Este artigo ajuda os fundadores a entender aspectos que direcionam uma avaliação, ao descrever alguns dos métodos mais utilizados para determinar o valor de uma startup em seu estágio inicial. Antes de apresentar as metodologias, porém, é importante ressaltar que as avaliações são subjetivas, uma vez que a startup vale o que o fundador e o investidor estabelecerem em comum acordo.
Perspectiva de avaliação
O primeiro ponto a ser avaliado pelo empreendedor é saber quem está investindo. O investidor certo pode, por exemplo, oferecer capacitação com mentoria, assessoria estratégica e acesso a uma rede de relacionamentos que o fundador não conseguiria obter sem ele. Isso é o que chamamos de “smart money”, ou seja, o aporte não se limita a dinheiro. Envolve também conhecimento, experiências e relacionamentos.
Além da avaliação e da análise de quem é o investidor, o empreendedor deve ter atenção aos termos do contrato. Tentar obter uma avaliação ligeiramente maior dificilmente fará muita diferença no resultado final do negócio, mas aceitar termos ruins pode, sim, gerar impactos negativos.
Em rodadas de investimento anjo e de Seed Investment, é comum utilizar o mútuo conversível, que além das regras de conversão formalizam algumas regras de governança. Das rodadas Séries A em diante, o comum é a emissão e venda de ações preferenciais e cada rodada possui uma classe de ações diferente.
Para demonstrar algumas das metodologias de avaliação mais simples, vamos usar o exemplo do Sr. JS Empreendedor. Ele é fundador da ABCX Ltda. e quer levantar fundos em uma rodada pré-seed.
Avaliação implícita
O Sr. JS está buscando levantar R$ 2 milhões para finalizar seu protótipo e se dispõe a dar 10% em ações da ABCX Ltda. em troca dessa quantia, mas não sabe ao certo o quanto isso valoriza seu negócio. A matemática é relativamente simples: o Sr. JS está avaliando o valor de seu negócio em R$ 20 milhões.
Para calcular o post-money valuation, o valor da empresa após o aporte financeiro, dividimos o valor do investimento pelo percentual de ações que será dado em troca do aporte.
R$ 2 mi/10% = R$ 20 milhões
A ABCX Ltda., portanto, teria um post-money valuation de R$ 20 milhões.
O pre-money valuation é o post-money valuation menos o valor do investimento.
R$ 20 mi - R$ 2 mi = R$18 milhões
Algumas empresas em estágio inicial contratam consultorias especializadas para fazer extensos exercícios de avaliação, muitas vezes com alto custo de honorários e tempo investido, apenas para chegar a um número muito semelhante ao indicado pelo método de avaliação implícita.
No entanto, o Sr. JS deve ter em mente que essa metodologia é extremamente simplista e não leva em conta diferentes estruturas de capital e potencial de geração de caixa do negócio. Por esse modelo, quanto mais dinheiro uma startup conseguir levantar, maior será sua avaliação.
Talvez a menos científica de todas as metodologias, a avaliação implícita seja um bom ponto de partida. A questão-chave para o Sr. JS é saber qual é o nível de precisão dessa avaliação e se a ABCX Ltda. tem contratos, receita, faturamento recorrente mensal (Monthly Recurring Revenue -- MRR), KPIs e histórico para respaldá-la.
Abordagem de custo de reprodução (avaliação piso)
O Sr. JS também ouviu falar da abordagem de custo de reprodução ou avaliação mínima (piso). Esse método busca estabelecer o valor necessário para uma parte interessada reconstruir e replicar um negócio do zero a custos atuais.
Pelos cálculos do Sr. JS, foram necessários R$ 5 milhões para levar a ABCX Ltda. ao ponto que está hoje. Dada a inflação do período, ele não estaria disposto a aceitar uma avaliação inferior a R$ 6 milhões.
Em sua avaliação do negócio, o Sr. JS considerou o quanto sua equipe cresceu nos últimos dois anos e calculou seus principais custos, entre os quais se destacam as despesas com funcionários, as horas do Sr. JS investidas na empresa e desenvolvedores externos. Além disso, outras despesas contabilizadas desde a fundação da startup foram consideradas.
A vantagem dessa metodologia é ser baseada em informações confiáveis que o Sr. JS pode analisar e demonstrar para qualquer investidor. Ela permite, ainda, apresentar o custo histórico da startup.
No entanto, o Sr. JS acha que há muitas facetas da ABCX Ltda. que não são facilmente quantificáveis e não foram levadas em consideração na avaliação piso. Por exemplo, todos os testes de hipóteses do negócio, a base de clientes leais da ABCX Ltda. e seu potencial crescimento futuro. Por essas razões, o método é usado somente para avaliar o "piso", e não o potencial valor da empresa.
Principais métricas a serem consideradas na avaliação de uma startup pelos investidores
No caso de uma startup em estágio inicial, a metodologia clássica de avaliação, o fluxo de caixa descontado, não é a mais indicada. Isso ocorre porque, como a startup está em fase de investimento no desenvolvimento do produto e crescimento de sua base de clientes, não existe um histórico de rentabilidade, tornando difícil projetar quando ela começará a gerar fluxo de caixa positivo.
Os investidores normalmente analisam o Mercado Total Disponível (Total Addressable Market -- TAM), o faturamento recorrente mensal ou anual (MRR/ARR, na sigla em inglês), a qualidade da tecnologia/UX (User Experience), a liquidez do mercado (investidores dispostos a investir em capital de risco) e a experiência dos fundadores e da equipe de desenvolvimento, para avaliar o valor de uma startup.
Isso é só o começo
Tanto as avaliações implícitas quanto as de piso são pontos de partida úteis para se ter uma ideia do valor de uma empresa em estágio inicial. No entanto, elas são simplistas, o que tem prós e contras.
O próximo passo é falar com investidores. Eles vão analisar métricas financeiras e não financeiras da startup para chegar a uma avaliação mais embasada. Seja qual for a metodologia empregada, lembre-se: o valor da sua startup é aquele que você e o investidor estabelecerem em comum acordo.