As novas tecnologias e o Agro 5.0, por Mauricio Moraes e Fabio Pereira

Publicado em 08/06/2022 11:35
Mauricio Moraes - Sócio e líder da indústria de Agribusiness da PwC Brasil . Fabio Pereira - Gerente sênior e especialista em Agribusiness da PwC Brasil.

É fato que a demanda por alimentos irá crescer substancialmente nos próximos anos. Contudo, os recursos naturais disponíveis não acompanharão esse aumento. Para superar esse desafio, o Agronegócio deverá alcançar maior rendimento agrícola de forma sustentável. Mas como fazer isso? As chaves para essa resposta estão na tecnologia e inovação.

Em meio a esse cenário, é possível afirmar que a cadeia de valor do agronegócio nunca esteve tão imersa em um processo de modernização como agora, e que nesse contexto já se aponta a tendência do Agro 5.0, cujo conceito está relacionado a conexão tecnológica de ponta a ponta da produção agropecuária, ou seja, conectada do começo ao fim da safra com todos os elos da cadeia, utilizando sensores de forma integrada, visando o acréscimo de produtividade, redução de custos, segurança alimentar, diminuição do desperdício e alimentos mais saudáveis.

Muitas tecnologias e inovações circulam o Agro 5.0, sendo que algumas das transformações poderão impactar significativamente a forma como são feitos negócios ao longo de toda a cadeia de valor agropecuária. A utilização de maquinários autoguiados por exemplo, permite que tratores, pulverizadores, colheitadeiras, entre outros implementos, sejam controlados por computadores, proporcionando operações mais eficientes e com menores riscos ao meio ambiente.

Há também o machine learning e as tecnologias preditivas”. Não existem dúvidas de que dados são a moeda do futuro para vários setores da economia, e no agro não seria diferente. O desenvolvimento de tecnologias de bancos de informações inteligentes, que possam ser monitorados constantemente e que sejam capazes de apontar ao empresário rural problemas na produção antes mesmo que aconteçam, irá suportar tomadas de decisão baseadas em dados (data driven), com agilidade, economia e efetividade.

Nesse cenário as agtechs (empresas de tecnologia focadas no agro) são fundamentais, por serem pioneiras na aplicação de algumas tecnologias e trazerem dinamismo e adaptação aos diversos setores do agronegócio. Essa importância pode ser observada pelo aumento do fluxo de capital levantado pelas startups do agro, somente em 2020 foram US$ 30 bilhões segundo estudo da AgFunder, venture capital focado no agronegócio.

Com esse aumento do fluxo de capital de risco, os avanços das tecnologias e a chegada do 5G, o Agro 5.0 deverá acelerar ainda mais sua presença no campo. Como exemplo de iniciativas nesse sentido, o Ministério das Comunicações prevê a instalação de 44 mil antenas 5G até 2029, propiciando internet de melhor qualidade, acelerando o tempo da informação e contribuindo para o dinamismo do setor e autonomia de decisão.

Contudo, a conectividade no campo brasileiro ainda é baixa, e um desafio para o Agro 5.0. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 55,6% da zona rural do Brasil possui acesso à uma rede móvel de internet. Se considerarmos apenas conexões com infraestrutura para comportar o nível de integração que a nova tendência exige, o percentual é ainda menor.

Outro grande desafio é que a chegada dessas novas tecnologias no campo muda a perspectiva da mão de obra, que precisa ser mais técnica e especializada. Será preciso focar no desenvolvimento de novas habilidades digitais das pessoas para garantir uma geração capaz de acompanhar as mudanças tecnológicas.

A agropecuária do futuro dependerá cada vez mais da aplicação de conhecimento e tecnologias de forma multidisciplinar, criando condições para que os empresários rurais tenham acesso e se adaptem ao que já está disponível, e ao que ainda está por vir.

Por: Mauricio Moraes e Fabio Pereira

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