O cenário do agronegócio brasileiro, por Mauricio Moraes e Fabio Pereira
Em 2021 o Produto Interno Bruno (PIB) do agronegócio brasileiro cresceu 8,36% em comparação ao ano anterior, é o que mostra os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O segmento alcançou a participação de 27,4% do PIB do país, maior valor desde o ano de 2004, quando foi de 27,53%.
O setor de insumos agrícolas foi o que mais se destacou, com crescimento de 52,63%. O aumento é explicado pelos elevados custos de produção e matérias primas, principalmente nos preços de fertilizantes e máquinas agrícolas. O segmento primário de produção agrícola também teve destaque, crescendo 17,52% em comparação ao ano anterior. O alto patamar de preços das principais commodities, impulsionou o saldo positivo.
Os segmentos da agroindústria e agrosserviços tiveram aumento mais modesto do PIB, de 1,63% e 2,56% respectivamente. Destaca se a desaceleração da agroindústria durante o segundo semestre de 2021, contudo com a junção do significativo crescimento durante o primeiro semestre e a alta real dos preços, o setor conseguiu avançar. Os agrosserviços tiveram desempenho positivo principalmente na agricultura, devido a recuperação do nível de processamento vegetal, o que gerou aumento da demanda por serviços no ramo.
Já o segmento da pecuária não obteve o mesmo resultado positivo. Segundo o CEPEA, o PIB apresentou recuo de 8,95%. Apesar do crescimento na produção primária, devido às elevações dos preços de carne e leite, o desempenho não satisfatório teve como principal fator o aumento relevante nos custos de insumos, tanto para “dentro da porteira”, como para os elos da agroindústria e serviços. Além disso, a menor produção de boi gordo também influenciou negativamente o PIB pecuário.
É importante observar o aumento da participação do agronegócio na economia brasileira, nos últimos cinco anos, saindo de 20,6% para 27,4%, sendo que o maior salto foi em 2020, ano de início da pandemia do Covid-19. Nesse período, além do coronavírus, tiveram outros acontecimentos, locais e globais que impactaram o agro, como eventos climáticos (secas, geadas, chuvas e outros), fortalecimento de pragas e doenças, greves e interrupções no transporte, oscilações de preços devido aos desajustes entre oferta e demanda, crise energética global com inflação, entre outros fatos.
Apesar de todos esses acontecimentos e seus impactos nas cadeias de valor, o agronegócio conseguiu se manter resiliente e aumentar sua representação na economia. É notório os avanços nesses últimos anos em relação a tecnologia e inovação, uma verdadeira revolução está acontecendo no campo, com reflexos em todos os setores do agro.
Para o ano de 2022 o cenário do agronegócio está mais complexo e desafiador por conta dos constantes aumentos dos custos de produção e pela volatilidade dos mercados e da instabilidade econômica mundial.
Nesse contexto, em uma projeção preliminar do CEPEA, o PIB do agronegócio pode cair de 4% a 6% no cenário pessimista ou subir até 5% na melhor perspectiva, ou seja, um cenário ainda incerto.
O mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), de março de 2022, para a safra de grãos 2021/22 estima a produção nacional em 265,7 milhões de toneladas, 4% ou 10,3 milhões de toneladas superior à obtida em 2020/21, porém, com uma quebra em relação a primeira estimativa para a atual safra, devido à forte estiagem verificada nos estados da região Sul e no centro-sul de Mato Grosso do Sul, nas culturas de soja e milho, principalmente. Essa estimativa ainda depende do clima, já que a segunda safra de milho praticamente finalizou semeadura em março.
Nesse cenário é importante focar na estratégia, rever processos, fontes alternativas e, mesmo com tantos desafios, analisar as diversas oportunidades que surgem constantemente para que as prioridades de investimentos sejam as mais acertadas possíveis. É fundamental entender todo o ecossistema onde o agronegócio está inserido e estar atento as mudanças nos hábitos de consumo, com ampliação de parcerias estratégicas, buscando inovação e novas tecnologias para suportar o crescimento sustentável.