Conhecer as pragas do milho é um dos segredos para uma boa produtividade, por Paulo R. Garollo
No Brasil, o plantio do milho segunda safra fora da janela ideal de semeadura, aliado à seca em diversas regiões produtoras, é um dos fatores que explicam a redução da estimativa de colheita do cereal feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no seu 10º levantamento de safra. O órgão cortou a projeção para a segunda safra de milho no período 2020/2021, que já foi de 79,8 milhões de toneladas, para 66,9 milhões.
Além de problemas climáticos, a lavoura do cereal é acometida por pragas e doenças que podem causar sérios prejuízos. De extrema importância para o Brasil e para o mundo, o milho está presente no consumo do dia a dia dos brasileiros; é um dos principais componentes energéticos da ração animal e se destaca como commodity de forte influência para o equilíbrio da balança econômica brasileira.
Neste contexto, é essencial conhecer as pragas e doenças mais relevantes da cultura, bem como os manejos adequados para proteger o cultivo e maximizar a produtividade da lavoura. Várias pragas podem acometer os milharais, mas algumas se destacam pela recorrência e pelo impacto na produtividade. São elas: a lagarta do cartucho, que pode comprometer até 35% da produtividade; o pulgão do milho; a Diabrotica speciosa (larva alfinete), que compromete a raiz da planta; a broca da cana; percevejos barriga verde, muito presente no sul do país, Mato Grosso e Goiás, e a cigarrinha do milho, transmissora do complexo de enfezamento.
Já na região central do Brasil, as doenças mais habituais e com maior propensão de causar danos econômicos são a Mancha Branca (Phaeosphaeria maydis/Pantoea ananatis), a Cercospora (Cercospora zeae maydis ;Cercospora zeina), o Turcicum/HT (Exserohilum turcicum), a Diplodia maidis (Stenocarpella macrospora), o Fusarium (Fusarium verticilioides/F. moniliforme), a Ferrugem polisora (Puccinia polysora), o Complexo Enfezamento do Milho (CSS, MBSP e MVRF), a Antracnose do Colmo (Colletotrichum graminicola) e a Helmintosporium maidis (Bipolaris maydis).
Essas doenças podem contaminar as plantas desde os estágios iniciais da cultura, além de se desenvolver de forma agressiva por influência das condições climáticas (temperatura e umidade) e pela posição geodésica, especialmente altitude, durante o ciclo vegetativo e reprodutivo da planta.
Dependendo das condições ambientais do ano agrícola, da suscetibilidade do material genético e da pressão dos patógenos, as perdas de produtividade podem ultrapassar 70%. Neste cenário, o monitoramento de pragas e doenças, o conhecimento do histórico de ocorrência na região de plantio, o nível de tolerância dos materiais genéticos e as medidas de controle (MIP / MID) são fundamentais para manutenção da produtividade, rentabilidade e redução das perdas.
É essencial saber o momento correto de realizar as aplicações de defensivos químicos/biológicos, escolher produtos devidamente registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e observar a recomendação da bula do defensivo quanto às doses, alvos, intervalo de aplicação e número máximo de aplicação no ciclo da cultura. A tecnologia de aplicação e o conhecimento sobre o comportamento dos milhos híbridos também devem fazer parte da bagagem do agricultor, que quer produzir de maneira cada vez mais sustentável.
As ações voltadas às práticas de manejo devem ser executadas com profissionalismo, pois à medida que avançamos em tecnologias inovadoras, é exigido um nível maior de conhecimento e atenção. Outro ponto crucial é não depositar toda a responsabilidade pelo sucesso da lavoura em uma única ação de manejo - o conjunto de práticas adequadas é o que fará a diferença no final. Mas é sempre bom lembrar que os milharais mal manejados podem ter perdas de produtividade superiores a 70% em função de pragas e doenças, além de tornarem-se fontes potenciais de produção de esporos e/ou manutenção de pragas que poderão ser dispersados para outras propriedades.
O uso de biotecnologia avançada e de híbridos corretos são importantes aliados na busca por resultados expressivos na lavoura de milho. Tecnologias como a VTPRO3 e a iminente VTPRO4, que promovem, simultaneamente, proteção às raízes e às partes aéreas, são alternativas eficientes para controle de pragas, bem como para um manejo mais eficiente de plantas daninhas.
Outra prática importantíssima, mas muito negligenciada, é a adoção do refúgio, que consiste no plantio de um percentual 10% de sementes não Bt - que não possuem a bactéria Bacillus thuringiensis - ao lado da lavoura de milho geneticamente modificado, mantendo distância máxima de 800mts entre elas e utilizando híbrido refúgio com ciclo e porte similar ao híbrido Bt. Isso é fundamental para evitar o surgimento de pragas resistentes ao milho Bt.
De forma geral, estas informações são passadas aos produtores pelas empresas produtoras de semente e/ou pelos seus parceiros comerciais. No entanto, para eles se prevenirem em relação às pragas e doenças que podem causar severos danos econômicos à sua lavoura, precisam conhecer os itens acima citados, fazer escolhas certas e garantir o melhor sistema de proteção. Por fim, a atividade agrícola precisa ser vista como uma empresa, deve ter planejamento e profissionalismo para o produtor conseguir produzir com sustentabilidade e, ao mesmo tempo, aumentar sua produtividade e rentabilidade.
*Paulo R. Garollo é agrônomo de desenvolvimento de mercado especialista da Bayer