Artigo/Embrapa: Rotação e sucessão de culturas como estratégias para o manejo do nematoide reniforme

Publicado em 29/03/2021 10:26

* por Guilherme Lafourcade Asmus, Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

 

Nematoide reniforme é o nome comum de uma espécie de larva microscópica que vive no solo, ataca raízes de plantas, e que é conhecida pelo nome científico de Rotylenchulus reniformis. É uma espécie muito importante em regiões tropicais e subtropicais, por causar danos em vários cultivos de importância econômica. No Brasil, esta espécie vem assumindo, ano após ano, papel de destaque nas culturas de algodão e soja.

Diferentemente de várias outras espécies de nematoides fitoparasitas, o nematoide reniforme não causa sintomas perceptíveis nas raízes e sua ocorrência, multiplicação e danos estão associados a solos de boa fertilidade e altos teores de argila.

Na cultura da soja, o nematoide reniforme provoca subdesenvolvimento de plantas e consequente redução em produtividade. Em algodoeiro, além do subdesenvolvimento, é comum a ocorrência de folhas mosqueadas ou com clorose internerval (folhas “carijó”). A densidade populacional do nematoide no solo no momento do plantio de culturas anuais é um dos fatores mais importantes para a ocorrência de danos. Dados de pesquisa mostraram que, em Mato Grosso do Sul, as perdas em produtividade podem atingir 32% em soja e 60% em algodoeiro, sob condições de alta densidade populacional do nematoide no solo. Mesmo assim, são poucas as cultivares resistentes de soja e algodoeiro disponíveis no mercado. Assim, práticas de manejo que visem à redução da população do nematoide são altamente recomendadas.

A rotação ou a sucessão de soja e algodoeiro com culturas não hospedeiras são práticas culturais que muito contribuem para a redução da população do nematoide reniforme no solo. Durante o período em que a área infestada é cultivada com espécies não hospedeiras, ou resistentes, há redução no número de nematoides no solo.

O princípio envolvido na rotação e na sucessão de culturas é o de que as formas infectivas, vermiformes, do nematoide não encontram raízes de plantas suscetíveis disponíveis ao parasitismo e, por consequência, morrem por inanição. Cabe salientar que, com base nesse princípio, a sucessão soja-algodoeiro (duas culturas suscetíveis), sistema utilizado em cerca de 80% da produção de algodão no Cerrado, representa um alto risco para a sustentabilidade da atividade.

A rotação de soja ou algodoeiro com milho, ou mesmo a sucessão com sorgo, nabo forrageiro e gramíneas forrageiras (braquiária ou panicum) têm-se mostrado eficientes em reduzir a população do nematoide reniforme no solo. Em algumas situações de maior gravidade, espécies com alto potencial de redução da população do nematoide, tais como as crotalárias, podem ser inseridas no sistema, em consorciação com milho ou gramíneas forrageiras.

Um aspecto interessante da sucessão de soja ou algodoeiro com gramíneas forrageiras reside no fato de que há maior redução da população de nematoides do que no solo deixado em pousio ou alqueive no período de entressafra. O nematoide reniforme tem a habilidade de entrar em estado de latência (anidrobiose) em condições de baixa umidade, o que lhe confere resistência por longos períodos, até que as condições favoráveis sejam restabelecidas. No caso da cobertura do solo, principalmente por gramíneas forrageiras, a umidade permanece mais elevada por maior período após a colheita da soja, permitindo que as formas infectivas “nadem” na solução do solo em busca de raízes de plantas hospedeiras, e, na ausência destas, consomem a energia corpórea, resultando na morte.

Como regra geral, quanto maior o período sem a cultura hospedeira (soja ou algodão, por exemplo), melhores serão os efeitos na redução da população do nematoide. Isso implica em que em áreas muito afetadas pode haver necessidade de períodos longos de rotação ou sucessão. Resultados experimentais mostram que, sob altas populações, melhores resultados são obtidos quando as gramíneas forrageiras permanecem no sistema por períodos mais longos (dois ou mais anos), o que é possível em sistemas de integração lavoura-pecuária.

 

Fonte: Embrapa

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