A nova aposta das empresas do agronegócio, por Maurício Moraes e Fabio Pereira
A exemplo de outros setores da economia, empresas do agronegócio buscam acessar o mercado de capitais através da Bolsa; ao menos cinco empresas do Agro entraram com pedido de IPO (oferta pública inicial) na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2020. O objetivo é investir na produção, a partir de novas tecnologias, ou conseguir expandir nos mercados doméstico e internacional.
A tendência de abertura de capital ocorre em razão do cenário de juros baixos no País – atualmente na mínima histórica de 2% ao ano – que desponta mais uma possibilidade de financiamento, e não o endividamento. No cenário internacional, há taxas ainda mais baixas, inclusive negativas. Essa busca pelo mercado de capitais ocorre ainda em um momento de diminuição do financiamento público para o setor, que passou a ser mais atendido pela iniciativa privada ao longo dos últimos anos.
As companhias do agronegócio do Brasil apresentam um atrativo importante para o mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio acumulou alta de 8,48% de janeiro a agosto em comparação com igual período de 2019, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), registrando crescimento em plena pandemia, atribuído à safra recorde de grãos 2019/20 e à forte alta dos preços agropecuários, resultado do reforço da demanda, tanto interna quanto externa, e do câmbio favorável, que traz vantagens às empresas exportadoras do setor.
Assim, as empresas do agronegócio estão se estruturando para futuros processos e formas de capitação de recursos no mercado de capitais.
O volume de empresas do agronegócio no País que participam da Bolsa ainda é baixo: apenas 4% do valor de mercado total. As que apostarem de forma pioneira na abertura de capital terão maiores chances de atrair o investidor, que observa os bons resultados do setor, há muitos anos responsável por manter o Brasil com saldos positivos na Balança Comercial.
A preparação para um IPO (oferta pública inicial) representa uma mudança cultural importante para as organizações e sua governança , que exige o engajamento de conselheiros, executivos e de todas as áreas operacionais. É fundamental que os planos de negócios sejam robustos e apresentem um histórico de sucesso, atrelado a uma perspectiva de futuro promissora e sustentável. Além de métricas financeiras, cada vez mais o mercado tem exigido uma agenda ampliada em questões ligadas ao impacto social, às ações relacionadas ao meio-ambiente e à qualidade da governança corporativa, recompensando empresas com boas práticas de ESG (da sigla em inglês Environmental, Social and Governance).
Adequar as estruturas societária e tributária, bem como a estrutura de controles internos e mapeamento de riscos da empresa para a abertura de capital são também fatores primordiais para o sucesso da operação. É importante ter em mente que o cumprimento das obrigações perante os órgãos reguladores demanda ajustes e implementação de práticas e controles financeiros, contábeis, operacionais e de sistemas, além de novas práticas de relações com investidores.
Nesse sentido, assessores qualificados e experientes (financial advisors, underwriters, advogados, consultores e auditores) são essenciais e contribuem não apenas para o sucesso da transação, mas para que a empresa consiga fazer frente aos seus compromissos enquanto companhia aberta.
Embora tenha como finalidade última a captação de recursos, o caminho de preparação para o IPO traz, para as empresas, benefícios que geram valor para o acionista no longo prazo, e que podem ser implementados gradualmente, independentemente da decisão final de abertura de capital. Dentre os benefícios, incluem-se a adoção de boas práticas de governança corporativa e sustentabilidade, melhoria de controles internos, automatização de processos e otimização da estrutura corporativa das empresas.
A decisão de listagem no Brasil ou em bolsas internacionais é estratégica e envolve questões relacionas à liquidez dos mercados, ao acesso a determinados grupos de investidores, ao segmento no qual a empresa atua e ao potencial de valorização dos ativos pós-IPO, dentre outros fatores.
No Brasil, há estudos referentes à redução do limite mínimo de capital das empresas para IPO, enquanto o mercado americano e seus reguladores também consideram implementar regras para facilitação de IPOs. Já os custos médios recorrentes de manutenção de companhias abertas no Brasil se mostraram, em média, menores do que nos Estados Unidos: 66% das empresas afirmaram ter custo de operação como companhia aberta abaixo de USD 400 mil anuais, enquanto no mercado norte-americano, a maior parte das empresas (67%) afirmou ter um gasto anual entre USD 1 milhão e USD 1,9 milhão.
Portanto, o IPO é uma alternativa potencial para o agronegócio, que deve ser analisada pelas empresas à luz do seu estágio de maturidade, níveis de governança, perspectivas de crescimento e desenvolvimento, independentemente do seu porte.